Jornada em Defesa da Reforma Agrária denuncia exploração de trabalho escravo

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Evento combateu o uso de agrotóxico e propôs agroecologia para soberania alimentar

Entre os dias 18 e 20/05, a UNIFAL-MG sediou a 3ª edição das Jornadas Universitárias em Defesa da Reforma Agrária que teve como tema central das discussões a violência no campo e os 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás. Em Alfenas, ela foi promovida pelo Fórum de combate ao uso de agrotóxicos: agroecologia e soberania alimentar na região de Alfenas, projeto de extensão coordenado pelos professores Adriano Santos e Francisco Xarão, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL).

A 3ª edição da Jornada contou com a parceria do MST, apoio da Pró-Reitoria de Extensão e outras organizações, realizando diversas atividades, palestras, mesas-redondas, cursos e cinedebates. Um dos destaques da programação foi a mesa de abertura do Fórum de combate ao uso de agrotóxicos: agroecologia e soberania alimentar na região de Alfenas, da qual participaram dois pesquisadores, ex-alunos da UNIFAL-MG, os doutorandos Simone Caetani e Pedro Abreu, que apresentaram os resultados de suas pesquisas sobre a contaminação dos trabalhadores rurais do café pelo uso inseguro de agrotóxicos na região Sul de Minas Gerais. A mesa também contou com a participação do MST e de lideranças sindicais da Articulação dos Empregados Rurais (ADERE) do Sul de MG, que fizeram a denúncia da exploração de trabalho análogo ao escravo nas colheitas de café da região.

“A Jornada não se pautou apenas na denúncia da estrutura fundiária brasileira, uma das mais desiguais e injustas do mundo – responsável por índices crescentes de conflitos no campo –, mas problematizou a necessidade histórica da Reforma Agrária e de um modelo alternativo de produção ao agronegócio e suas mazelas sociais e ambientais. Por isso, ela também promoveu, em parceria com o Núcleo de Agroecologia e Produção Orgânica (NEAPO) do IFSULDEMINAS, campus Machado, o curso de Introdução à Agroecologia e os desafios da transição agroecológica aberto a toda comunidade regional de Alfenas”, conta Prof. Adriano.

Segundo o professor, em 2016, além da UNIFAL-MG, as Jornadas Universitárias em Defesa da Reforma Agrária ocorreram em outras Instituições de Ensino Superior do Sul de Minas Gerais, como a UFLA, UNIFEI, IFSULDEMINAS, campus Machado e Inconfidentes, o que vem demonstrando a sua consolidação e a necessidade das Universidades e Institutos Federais, por meio de seus grupos de pesquisa e ações de extensão, intervirem no debate sobre a questão agrária brasileira, apoiando com produção de conhecimento e tecnologias a agricultura familiar e os assentamentos rurais que buscam a construção de um modelo alternativo e saudável na produção de alimentos.

Abertura

Para relembrar o confronto da polícia do estado do Pará com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), na abertura do evento, no dia 19/05, estudantes entraram na sala R-101, com velas acesas, representando as vítimas do Massacre de Eldorado dos Carajás, enquanto recordavam o fatídico dia 17 de abril de 1996.

O professor Adriano explicou que as Jornadas Universitárias em defesa da Reforma Agrária são fruto de uma articulação entre MST e as universidades públicas onde existem Núcleo de Apoio ao MST, Centro de Pesquisas e Grupos de Trabalhos sobre a Reforma Agrária.

Conforme o docente, as universidades públicas brasileiras apoiam a reforma agrária como forma de democratização da estrutura agrária social, econômica, política e educacional brasileira. “A defesa da educação pública de qualidade e a defesa da reforma agrária são bandeiras articuladoras em prol da construção de um projeto popular para o país. As universidades públicas reconhecem os movimentos sociais do campo como sujeitos coletivos e de produção do conhecimento e a UNIFAL-MG tem cumprido este papel pelo menos há três anos, já estamos na terceira jornada universitária em defesa da reforma agrária”, enfatizou.

A mesa de honra foi composta pela pró-reitora de Extensão, Profa. Eliane Garcia Rezende; pela pró-reitora adjunta de Extensão, Profa. Ana Rute de Vale; e pelo diretor do Instituto de Ciências Humanas e Letras, Prof. Sandro Amadeu Cerveira, que em suas falas ressaltaram o papel da Universidade no debate de questões tão importantes com os movimentos sociais.

 “A Universidade é um espaço de movimento grande e de soma a todo o movimento social que existe em nosso país, para realmente fazer uma reforma que não seja só agrária, mas que seja uma reforma em todas as instâncias na nossa sociedade; para que nas instâncias de poder, também tenhamos uma constituição que seja respeitável”, pronunciou a pró-reitora de Extensão.

Em nome da Pró-Reitoria de Extensão, Profa. Eliane falou também da preocupação com as condições de vida e da importância de se manter uma alimentação saudável sem agrotóxicos, o que leva ao debate sobre a agroecologia, também um dos temas da jornada. “O papel da Universidade é fomentar todas estas discussões, reflexões e opções, dentro desta postura que os movimentos sociais já fazem tão bem de nos alertar”, salientou.

A professora Ana Rute também falou da importância de discutir o tema no espaço universitário, ressaltando: “É inegável a necessidade da Reforma Agrária neste país, não há mais como adiar isto, é uma luta que é cotidiana, é diária, tem que continuar pra lembrar o governo desta necessidade, que historicamente constituiu uma estrutura agrária altamente concentrada neste país e a gente precisa discutir sobre isto. E também discutir sobre esta violência no campo”.

O diretor do ICHL, Prof. Sandro, manifestou o quanto o tema é tocante. “Sempre me emociono com o tema, a questão da justiça com relação à terra, e também me emociono com a memória daqueles que caíram lutando e nos lembrando que a luta é pra valer. E é uma luta que pode custar de fato tudo que nós temos, inclusive nós mesmos”, refletiu, acrescentando: "Eu aprendi com o MST e outros movimentos sociais, que avanço em termos de direito, em termos de justiça, não se conquista mandando cartinha, se conquista na luta, e esta luta, como bem mostrado aqui, pode ter um preço alto, porque não é brincadeira. Mas esta luta, exige um compromisso, e precisa exigir um compromisso não só para aqueles que estão diretamente atendidos, ou atingidos, pelo avanço ou pelo recuo dos direitos, mas por aqueles que como eu, que por alguma razão, nasceram com algumas camadas de privilégio. Porque eu não quero, viver num mundo em que o privilégio seja a marca e a injustiça predomina”, destacou.

Também participou da abertura, Bruno Diogo da Silva, da direção da consulta popular do MST de Minas.

Com informações: Adriano Santos do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UNIFAL-MG, um dos coordenadores do projeto Fórum de combate ao uso de agrotóxicos: agroecologia e soberania alimentar na região de Alfenas

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