Conferência promovida pelo ICHL destaca o papel da Arqueologia na ditadura

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Universidade recebeu, na quarta-feira, 21/05, Prof. Pedro Paulo Funari da Unicamp, para debater o tema

Na noite desta quarta-feira, 21/05, o Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UNIFAL-MG recebeu o convidado Prof. Pedro Paulo Funari da Unicamp, para ministrar uma conferência sobre o tema “Ditadura, universidade e direitos humanos: o papel da Arqueologia da repressão e da resistência”.

Apresentando o objetivo do evento, o diretor do ICHL, Prof. Paulo Denisar Fraga, explicou para os alunos e professores presentes na plateia do auditório Dr. João Leão de Faria: “Nosso instituto, através de vários dos seus professores e também do envolvimento dos alunos, tem promovido uma série de atividades e debates sobre os 50 anos do golpe militar do nosso país. Com isso, temos cumprido toda uma jornada no sentido de fomentar o senso crítico, inclusive, um conhecimento melhor a respeito desses anos absolutamente obscuros da história do nosso país.”

O professor relembrou algumas palestras já realizadas pelo ICHL sobre o mesmo tema desde 2013, e chamou a atenção para o “Ciclo de Debates: Os 50 anos do Golpe Militar” que acontecerá de 26 a 29/05, com o objetivo de propiciar às comunidades, acadêmica e externa, o conhecimento de fatos e a análise crítica da história e da historiografia produzida sobre os anos do regime militar no Brasil.

Após a apresentação, o diretor convidou Prof. Pedro Paulo Funari para iniciar a palestra, comentando que a presença do conferencista na UNIFAL-MG também se deve às atividades do professor no Mestrado Profissional em História Ibérica, do qual faz parte do quadro de docentes.

O papel da Arqueologia na ditadura  

Para falar sobre o tema, Prof. Pedro Paulo explicou que durante algumas décadas, devido à Guerra Fria e após a Revolução Cubana em 1959, houve uma grande transposição do mundo todo para regimes ditatoriais. “Os EUA patrocinaram regimes conservadores e ditatoriais para fazer frente a uma ameaça comunista, e isso acabou levando a regime ditatoriais em grandes países nas décadas de 1960, 1970 e inicio de 1980”, explicou.

Prof. Pedro Paulo destaca que com o final da Guerra Fria, a maioria dos países latino-americanos passou por uma abertura política e por uma fase de redemocratização. “Em meados da década de 80, nós temos muitos países já com plena liberdade, mas as transições variaram de país a país. Neste aspecto, a Arqueologia, tem um papel muito importante, porque logo depois do fim da ditadura da Argentina, quando caíram os generais, devido a Guerra das Malvinas, em 83, o regime civil se implantou”, conta.

De acordo com o professor, na época, o então presidente da Argentina, Raúl Alfonsín, deu plenas liberdades, chegando a processar alguns generais. “Um grupo de antropólogos forenses ou arqueólogos da Argentina, que se formou logo em 83/84 e existe ainda hoje, começou a tentar identificar corpos de desaparecidos em diversos países latino-americanos”, explica sobre a Equipe Argentina de Antropologia Forense, que atuou também na África e na Europa. “A Arqueologia tem em sua primeira importância, que é fundamental, recuperar e identificar corpos de pessoas que foram mortas sem identificação”, afirma.

Como segundo aspecto relevante sobre o papel da Arqueologia na ditadura, o palestrante diz que por meio dela é possível estudar edifícios usados na repressão, os quartéis, as detenções clandestinas, os centros de torturas, entre outros. “No caso do Brasil, tardou a desenvolver esse tipo de perspectiva, porque o Brasil demorou muito para ‘se haver’ com esse passado por causa da Anistia, mas agora, tem a Comissão da Verdade e uma série de inciativas, as quais permitem que a Arqueologia assuma um papel cada vez maior, tanto na identificação de corpos desaparecidos quanto, principalmente, estudar edifícios e outros órgãos da repressão.”

Comentando sobre a iniciativa do ICHL em promover o ciclo de palestras sobre os 50 anos do golpe militar, o professor ressalta: “As universidade tardaram a refletir sobre o período da ditadura, não por um motivo específico, senão pelo fato de que houve uma certa política de esquecimento por parte das autoridades do país. Mas recentemente, até mesmo pela renovação dos quadros, novas pessoas associadas a ditadura também em grande parte já se aposentaram nas universidades, então abriu-se espaço para uma discussão maior. Eu fico muito feliz com o debate nas universidades, inclusive na UNIFAL-MG, em fazer que haja uma discussão acadêmica sobre a ditadura nos seus mais variados aspectos. Esse tipo de ação da UNIFAL-MG  é muito importante não só para os professores, mas principalmente para os alunos, porque, do ponto de vista dos alunos, essa ditadura, veio antes deles terem nascido, então são questões que passam muitas vezes sendo abstratas e são históricas. Eu acho fundamental levantar essa discussão e o momento é muito favorável para que possamos refletir de maneira crítica esse passado recente”, encerra.

Prof. Pedro Paulo Funari é historiador com doutorado em Arqueologia pela USP, coorganizador, dentre outros, do livro "Arqueologia da repressão e da resistência: América Latina na era das ditaduras (1960-1980)".

Hoje, 22/05, o professor ministrará outra palestra na Instituição, sobre o tema "Escravidão Antiga e Moderna: algumas considerações". Importante tema, em debate na ONU desde a década de 1990. O professor realizou várias escavações, tanto na Europa (Inglaterra, Espanha, Itália, Portugal), quanto no Brasil, em Palmares, sobre o processo de escravidão no mundo antigo e moderno.  A partir das 19h, no prédio R, sala 101. Não perca!

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