Caçadores de imagens aéreas com pipa

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Professor da UNIFAL-MG desenvolve projeto de fotografia aérea com pipa como ferramenta pedagógica

O que parece ser uma brincadeira de criança se tornou não apenas uma nova modalidade de fotografia, como também uma ferramenta pedagógica inovadora na construção do conhecimento. Este é o trabalho de fotografia aérea com pipa, desenvolvido pelo professor do Instituto de Ciência da Natureza da UNIFAL-MG, Evânio dos Santos Branquinho, em parceria com o técnico em eletrônica da instituição, Rogério Souza Bernardes, e com o professor Ericson Hideki Hayakawa.

A ideia de utilizar a pipa para fotografar, surgiu há dois anos, a partir de uma reportagem sobre fotos aéreas com pipa. Como professor das disciplinas de Geografia Urbana e Planejamento Urbano, Prof. Evânio percebeu na prática lúdica a possibilidade de analisar a paisagem urbana e proporcionar aos alunos, o aprendizado de conteúdos interdisciplinares de forma atrativa.

Assim, nasceu o projeto de extensão “Fotografia Aérea com Pipa: uma prática lúdica e interdisciplinar na construção do conhecimento”, que envolve alunos universitários em cerca de 10 atividades realizadas com estudantes do 2º ano do Ensino Médio, da Escola Estadual Dr. Napoleão Sales de Alfenas-MG.

Em caráter interdisciplinar, o projeto, desenvolvido anualmente desde 2010, reúne diversas áreas, como a física, a matemática, a história e a geografia. “O professor de física trabalha essa questão da física do voo e aerodinâmica; o professor de matemática trabalha proporções, escalas e ângulos da pipa. Também é desenvolvida a história da pipa e a história da fotografia; além da geografia que aborda a localização, orientação, cartografia e paisagem urbana”, explica.

Para adequar o equipamento, o Prof. Evânio realizou muitas pesquisas e foi orientado até por profissionais que armazenam fotografias aéreas no site Flickr.

Medindo cerca de 4m², a pipa é confeccionada proporcionalmente em nylon e varas de bambu, que garantem mais estabilidade ao voo, por envergarem de acordo com o vento. A linha utilizada é especial, com capacidade de aguentar mais de 60 kg/força. Nesta linha, é acoplado um suporte eletromecânico onde ficam pequenos motores de aeromodelismo e a câmera fotográfica. Embaixo, fica o rádio-controle, responsável por controlar o movimento e as tomadas da câmera. “Para tirar fotografia à distância, o suporte mecânico realiza os movimentos verticais e horizontais da câmera e aciona o disparador por meio dos pequenos motores elétricos de aeromodelismo (servos). A imagem é transmitida por um vídeo-link ao operador do rádio-controle”, esclarece.

Em relação ao voo, comenta: “O voo da pipa é a ação resultante de várias forças: a gravidade, a tensão na linha, o arrasto pelo vento. Uma relação importante envolve o tamanho e o peso da pipa com a intensidade do vento, que resultará numa suspensão mais eficiente ou não. Essa relação é alterada com o peso do equipamento fotográfico. Evidentemente, para compensar este peso extra, a pipa deverá ser maior e mais leve possível para ter mais força de suspender o equipamento.”

Com o atual equipamento utilizado pela equipe, a pipa atinge por volta de 300 metros de altura e suporta em média 700 gramas, no entanto, o Prof. Evânio destaca que outros profissionais da modalidade podem conseguir atingir maior altura, levantando equipamento mais pesado.

De acordo com o professor, a câmera deve ser leve. “A câmera deve ser a mais compacta possível, com uma boa resolução e um bom sistema de correção de movimentos, uma vez que o vento e os movimentos feitos para manter a pipa voando balançam a linha”, afirma. A câmera utilizada no projeto pesa 120g e possui resolução de 14 megapixels. Com estas características, são aproveitadas cerca de 90% das fotos.

Apesar de inovadora, a técnica de fotografia aérea com pipa é utilizada desde o século XIX, antes do advento do avião, quando a pipa era muito usada como instrumento científico fotográfico, história que também é explorada no projeto de extensão.

Um aspecto interessante destacado pelo professor é a economia nos custos do equipamento em relação ao benefício que pode proporcionar. “Você pagar uma hora de helicóptero para tirar fotografia aérea fica muito caro. Já esta modalidade é acessível e tem toda aquela ciência, o lúdico para você buscar.” Segundo ele, com menos de R$ 500,00 é possível montar o próprio equipamento.

Nas atividades desenvolvidas no projeto de extensão, a equipe realiza a oficina de pipas, em que é trabalhada a confecção da pipa bem como toda dinâmica e funcionamento dos equipamentos. “Neste projeto de extensão desenvolvido na Escola Estadual Dr. Napoleão Sales, no bairro Vista Grande, a gente tenta ver o espaço do cotidiano deles em outra perspectiva para que eles interpretem aquele lugar no contexto da cidade. Dentro da disciplina, da questão urbana, localizamos, por exemplo, o espaço de vivência deles, um espaço periférico para tentar explicar a produção da cidade, dos espaços urbanos e da segregação socioespacial”, conta. O trabalho de campo é feito entre os meses de julho e agosto, quando o vento é mais intenso e constante.

Desde que iniciou a prática de fazer fotos aéreas através da pipa, a equipe envolvida, que já conta com um acervo de 2.000 fotografias, apresentou o trabalho em um evento em São João del-Rei-MG, no curso de Matemática da UNIFAL-MG (à convite da Profa. Rejane Siqueira Julio), em Poço Fundo-MG na Mostra de Extensão, e fotografou as instalações da Unidade II da UNIFAL-MG em Alfenas e também dos campi, Poços de Caldas e Varginha. Durante esta semana, o Prof. Evânio está em Belo Horizonte, participando do Encontro Nacional de Geógrafos, no qual apresentará um artigo sobre o tema, e ainda este ano, a equipe realizará oficina (minicurso) durante a Jornada de Geografia prevista para acontecer na universidade.

Além de aperfeiçoar as técnicas e incentivar o uso da pipa de forma segura e consciente, um dos desafios do professor para o futuro é interligar a ferramenta ao projeto pedagógico, para que outras disciplinas também possam fazer uso da fotografia aérea com pipa. “Meu próximo projeto é trabalhar isso na universidade, como instrumento científico ligado a outras disciplinas”, ressalta.

Para outras informações sobre o trabalho de fotografia aérea com pipa, os interessados podem entrar em contato diretamente com o professor, através do e-mail: evanio.branquinho@unifal-mg.edu.br.

NOTA: As fotos aéreas dos campi da UNIFAL-MG, bem como o desenvolvimento das obras, podem ser acessados e acompanhados também no acervo disponível no site da Pró-Reitoria de Planejamento, Orçamento e Desenvolvimento Institucional, em Projetos e Obras.

Galeria

Por: Ana Carolina Araújo
Jornalista da Assessoria de Comunicação Social
Universidade Federal de Alfenas
 
Colaboração: Cristiane Moreira Mendes, da Coordenadoria de Desenvolvimento Institucional da UNIFAL-MG