Informativo "Comunicação e Informação em Saúde" divulga relato de experiência

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Tema: Dia Nacional do Surdo

No dia 26 de setembro é comemorado nacionalmente o Dia do Surdo. Esta data foi instituída em memória à inauguração do Instituto Nacional de Educação de Surdo (INES) em 1847, no Rio de Janeiro, sendo esta instituição a primeira escola para surdos do Brasil. Atualmente, o INES é um centro de referência nacional na educação de surdos, sendo conservado pelo Ministério da Educação e Cultura.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010, o Brasil possui cerca de 2.147.366 milhões de pessoas que apresentam deficiência auditiva severa.

Pensando nas inúmeras barreiras que as pessoas portadoras de deficiência enfrentam no dia a dia, o projeto de extensão "Comunicação e Informação em Saúde", do curso de Enfermagem, convidou a professora Rita de Cássia Marinho para compartilhar sua experiência, relatando sobre a sua história de vida frente às dificuldades enfrentadas.

Rita de Cássia Marinho, 53 anos...

“Aos meus 2 anos de idade, meu pais me levaram para Campinas-SP achando que eu era cega por ter um olho azul e o outro castanho e surda por não atender aos sons. Após a avaliação dos médicos, foi concluído que eu era apenas surda, e que, minha visão era totalmente preservada. A partir de então fui estudar em um internato especializado no ensino de crianças surdas, em Belo Horizonte-MG, onde estudei dos 7 aos 10 anos de idade.

Retornei para Lavras-MG, onde comecei a estudar com o meu irmão em casa, pois, nas escolas da cidade não aceitavam crianças surdas, passei também pela APAE, mas não permaneci por muito tempo. Certo dia, uma escola me aceitou, mas era tão difícil, pois lá não havia professores especializados em lecionar aula para surdos, passei muitas dificuldades. Passei por outra escola, na qual concluí a 8ª série. No ensino médio, estudei no Magistério e, logo após a conclusão passei no vestibular da UNILAVRAS, onde me formei e defendi a tese com nota máxima. Após isso, fui aprovada no concurso da Prefeitura Municipal de Lavras e trabalhei com ensino aos surdos, depois fui contratada também pelo estado. Fui professora na UFLA-MG durante dois anos, porém, quando abriu o concurso da universidade não foi possível que eu participasse. Foi quando soube que havia aberto concurso na UNIFAL-MG, prestei e passei em 1º lugar nas provas objetiva e didática, ficando em 2º lugar na classificação final. Tomei posse durante 4 meses, lecionando e já fazendo mestrado, foi quando então fui surpreendida com minha demissão do cargo (veja abaixo nota explicativa). Os prejuízos que tive foram muitos, fiquei muito magoada, mas luto para alcançar meus objetivos novamente. Fico feliz que atualmente o avanço na inclusão social e as leis que protegem aqueles que são deficientes, têm avançado muito.

Hoje estou desempregada e tenho três filhos, faço uma segunda graduação – Letras/ Libras na IFNMG – sendo que já tenho 53 anos e ainda luto, não desisto, vou em frente.”

Finalmente, Rita gostaria de terminar o seu relato com uma mensagem motivadora a todos os leitores:

“Não se abalem por esta nossa deficiência, não se envergonhem, afinal todo ser humano tem uma deficiência.  Lutem! Apesar das coisas serem muito difíceis, juntos poderemos formar um mundo melhor para todos nós.

Lembrem-se, a união faz a força!!!

Não se dispersem.

Obrigada!"

 
REFERÊNCIAS:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE 2010
Ministério dos Direitos Humanos
Centro Educacional para Surdos Rio Branco
 
NOTA EXPLICATIVA: A professora tomou posse na UNIFAL-MG por força de decisão judicial. Tal decisão foi revogada quatro meses depois, resultando na sua exoneração do cargo. O processo ainda tramita na Justiça.
 
Com informações: Samuel de Oliveira Antonelli, discente do curso de Enfermagem da UNIFAL-MG, integrante do projeto de extensão "Comunicação e informação em saúde"