Práticas integrativas amenizam inquietações e angústias na vida universitária

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Terapia Comunitária na UNIFAL-MG abre espaço para partilha, acolhimento e inclusão

O encontro do dia 11/04 do projeto de extensão "Roda de Terapia Comunitária Integrativa (TCI): espaço de partilha e promoção de saúde", promovido pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace) na sede da UNIFAL-MG, contou com a participação especial de universitários do campus Poços de Caldas e de integrantes do Serviço de Psicologia daquela unidade.

Conforme a psicóloga do campus Poços de Caldas, Rosana Tavares, a iniciativa buscou conhecer e vivenciar a experiência da Roda de Terapia Comunitária Integrativa, para implementar a prática também no campus avançado da Universidade. “A avaliação dos alunos participantes em relação à visita foi positiva”, afirmou. “Alguns destacaram que nos cursos da área de exatas, por exemplo, as pessoas passam silenciosamente por problemas que acabam se tornando maiores e a roda pode minimizar a falta de socialização e empatia entre os colegas na Universidade”, enfatizou, acrescentando que o espaço favorece a troca de conhecimentos e experiências, inclusive formas de superar angústias, permitindo reflexões no dia a dia. 

Pela primeira vez participando da atividade, a acadêmica Bianca Erler, do 2º período do curso Bacharelado em Ciência e Tecnologia - BCT, demonstrou entusiasmo com o método utilizado para a partilha de vivências entre os integrantes. “A roda é um projeto muito importante para a interação interpessoal, para o autoconhecimento e aprendizado frente às situações no cotidiano e para a saúde mental”, comentou.

Para a psicóloga Rosana, este trabalho coletivo valoriza as vivências cotidianas e o autoconhecimento como recurso de transformação pessoal e social, o que é um aspecto fundamental da atuação na Roda. “Ouço, por exemplo, nos atendimentos, uma preocupação dos alunos às vésperas dos processos seletivos em relação ao seu comportamento, já sabendo da valorização de aspectos do trabalho em equipe, entre outras habilidades; e essas habilidades são desenvolvidas ao longo da vida, da graduação e espaços coletivos de expressão os auxiliam a se conhecerem melhor, formar vínculos, terem maior repertório de saída frente às dificuldades, desenvolver a escuta empática, tão importante para as lideranças”, analisa.

Com a participação e aceitação do projeto pelos estudantes, o Serviço de Psicologia já prevê o início das atividades da Roda também no campus de Poços de Caldas, para a data 03 de Maio de 2017, no horário das 18 às 19h, na sala E-104. Vale ressaltar que esse espaço é aberto a alunos e também a servidores da UNIFAL-MG, bem como à comunidade externa.

O QUE É TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA?

De acordo com a pró-reitora adjunta de Assuntos Comunitários e Estudantis, Vânia Regina Bressan, a Terapia Comunitária Integrativa é uma prática recomendada pelo Ministério da Saúde desde 2008, por meio da Atenção Primária à Saúde. “Foi nessa época que começaram os convênios entre diversos estados brasileiros, inclusive Minas Gerais, com o Ministério da Saúde, para capacitar terapeutas comunitários a fim de atuar na Atenção Primária à Saúde”, explica.

Conforme Vânia, a partir de 2016, o Ministério da Saúde reconheceu a Terapia Comunitária Integrativa como Prática Integrativa Complementar, via Portaria nº 404 de 15 de abril de 2016, e a partir desse ano de 2017, a Terapia Comunitária Integrativa foi inserida à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS (Portaria nº 849 de 27 de março de 2017). 

Contando um pouco a respeito de como nasceu a TCI, Vânia compartilha: “A Terapia Comunitária Integrativa (TCI) foi sistematizada há 30 anos por Adalberto Barreto, professor da Universidade Federal do Ceará, psiquiatra, teólogo, antropólogo e terapeuta familiar”. Segundo a pró-reitora adjunta da Prace, as rodas de TCI têm sido realizadas em várias universidades federais, tais como Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como uma ação de promoção à saúde e bem-estar dos participantes.

“Na UNIFAL-MG, quatro servidores da Escola de Enfermagem concluíram, no final de 2016, o curso de capacitação em Terapia Comunitária Integrativa, os docentes Dênis da Silva Moreira, Gabriela Itagiba Aguiar Vieira e Sueli de Carvalho Vilela, e eu, técnica-administrativa”, diz.

A proposta do curso, de acordo com Vânia, foi a de implantar as rodas de TCI na UNIFAL-MG como ação de prevenção e promoção de saúde, devido à crescente demanda de pessoas em sofrimento psíquico nos últimos tempos, não só na população em geral, como na Universidade. “No serviço de Acolhimento oferecido pela Prace, foram atendidos 95 discentes, no ano de 2016, que procuraram ajuda e foram encaminhados para psiquiatras e psicólogos da rede de atenção em Saúde Mental do município, reforçando a necessidade de implantação de propostas de prevenção e promoção de saúde, como esse projeto”, justifica.

COMO FUNCIONA A RODA DE TCI?

O projeto Roda de Terapia Comunitária Integrativa (TCI): espaço de partilha e promoção de saúde trata-se de um espaço de partilha de experiências de vida, inquietações, angústias e conquistas.

“Na roda, as relações são horizontais, ninguém é melhor que ninguém, o que importa é a partilha de sentimentos e experiências de vida e não o saber acadêmico, teórico, técnico. Inclusive o terapeuta comunitário se sentir vontade de partilhar suas experiências de vida pode fazê-la”, menciona Vânia.

A prioridade da roda é o acolhimento, respeito e inclusão. “A TCI é uma prática baseada em cinco pilares teóricos: pedagogia de Paulo Freire, resiliência, comunicação, pensamento sistêmico e antropologia cultural”, observa.

Durante os encontros, os participantes passam pelo momento do acolhimento, escolhem um tema para conversar naquele dia, contextualizam, problematizam ou partilham as experiências e em seguida, acontece o encerramento. “Para que a roda ocorra em ambiente de confiança e respeito, seguimos algumas regras: escutar quando o outro fala; falar de si utilizando a primeira pessoa ‘eu’; não julgar, não dar conselhos, não fazer análises, sermões, interpretações e em qualquer momento da roda, que o participante lembrar de uma música, poesia, provérbio, piada, que lembre o tema que está sendo discutido, pode interromper e se expressar”, detalha.  

Vânia também explica que na etapa da partilha de experiências, quem passou por situação semelhante ao participante que teve seu tema escolhido para discussão, pode dar sua contribuição e dizer o que fez para superar, auxiliando o outro na superação de seu problema. “O que percebemos é que a partilha de experiências de vida aproxima as pessoas e o indivíduo não se vê mais sozinho diante de um problema que não é só seu, mas do coletivo”.

RODA DE TERAPIA COMUNITÁRIA INTEGRATIVA NA UNIFAL-MG

O projeto de extensão teve início em agosto de 2016 e retornou em 2017. É aberto a discentes e servidores da UNIFAL-MG, e também à comunidade externa. Ocorre todas as terças-feiras, às 17h na sala R-107, na sede da Universidade. Não é necessária inscrição prévia.

Para discentes da UNIFAL-MG, cada participação é contada como duas horas de atividade complementar, pois se acredita que a participação nas rodas auxilia no desenvolvimento pessoal e profissional. A roda também conta com a colaboração de terapeutas comunitários que auxiliam nas atividades. São profissionais da saúde, de educação e do serviço social que finalizaram o curso junto aos servidores da Instituição.

“A participação tem sido ainda muito pequena ou não há participação em determinados dias, por isso, gostaríamos que as pessoas viessem conhecer a proposta e fazer parte da construção dessa rede de apoio na Universidade”, argumenta Vânia. “Precisamos desmistificar a ideia de que participar da roda é se expor demais. A exposição ocorre sim, mas somente se o participante sentir-se à vontade. Muitas vezes sente-se beneficiado somente em ouvir o outro falar”, conclui.

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