Roda de conversa com psiquiatra aborda dificuldades na vida estudantil

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UNIFAL-MG recebeu pesquisadora para falar sobre diversão e depressão na fase universitária

A comunidade universitária da UNIFAL-MG se reuniu em uma roda de conversa com a médica psiquiatra, Dra. Alexandrina Maria Augusta da Silva Meleiro, na manhã do dia 28/10, no auditório Dr. João Leão de Faria, para discutir sobre “Vida estudantil: diversão ou depressão”.

Convidada diretamente pela Reitoria, a médica da Universidade de São Paulo (USP/SP) e coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, participou da ação promovida pela Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace), no âmbito da relação entre saúde mental e educação, como parte do projeto “Acolhe: Subsídios para ouvir, entender e auxiliar o estudante da UNIFAL-MG”.

As boas-vindas foram dadas pela vice-reitora, Profa. Magali Benjamim de Araújo, que explicou o objetivo da palestra e convidou a pró-reitora de Assuntos Comunitários e Estudantis, Profa. Maria de Fátima Sant’Anna, para apresentar a palestrante e a proposta da Prace em promover atividades preventivas de apoio ao aluno.  

Fatores que influenciam o estilo de vida do universitário

Mesclando leveza e seriedade em sua fala, Dra. Alexandrina falou sobre os fatores que influenciam o comportamento dos estudantes, salientando que na fase universitária, longe de casa e dos pais, os jovens, que iniciam a faculdade com sentimento de vitória, liberdade e autossuficiência, precisam aprender a conviver também com a sobrecarga de atividades do curso; privação de sono não apenas relacionada aos estudos, mas também às festas; frustrações e situações difíceis como reprovação em disciplinas, perda de colegas, rompimento de relacionamentos; incertezas e inseguranças e, ainda, com o medo de errar na escolha da carreira.

Segundo a psiquiatra, o perfil do aluno, assim que ingressa em uma universidade, é simbolizado pelo triunfo. “O universitário é ativo, competitivo, ambicioso, compulsivo, entusiasta e individualista. A pessoa com essas características é facilmente frustrada na necessidade do seu dia a dia. E se ela não tem preparo para algumas frustrações, vai adoecer”, frisou.

Outro aspecto apontado pela médica para a insatisfação pessoal é o estudante estar sempre atrás de uma tela de laptop, celular ou tablet, e ainda assim, não estar se comunicando. “Você tem um monte de amigos, mas na hora que você precisa, você não tem nenhum. É uma coisa fake. A gente se esconde atrás de uma tela e perde o visual. É um autoengano e muitas vezes começa a bater um sentimento de estar só”, pontuou.

A individualidade de cada um, suas crenças e valores, bem como as limitações organizacionais encontradas na universidade ou no curso também foram elencados como fatores que comprometem o comportamento do estudante.

De acordo com Dra. Alexandrina, existe uma personalidade muito comum e estimulada na atualidade, ligada à competitividade e concorrência. “A pessoa tem um desejo contínuo de ser reconhecida e progredir, tendência em atingir médias elevadas, acentuada competição, um número ilimitado de aquisições. E aqui entra muito a questão do verbo ‘ter’. O verbo ‘ter’ passa a identificar a nossa personalidade e não o verbo ‘ser’”, refletiu.

Tal comportamento, também chamado de ‘mal da vida moderna’ pela palestrante, refere-se a um padrão reforçado pela política global que, para a psiquiatra, envolve a questão dos custos, da informatização, da mudança na jornada de trabalho, do declínio da situação econômica, da produção em massa e da lucratividade. “Aí vem a urgência do tempo, a agressividade, a competitividade e a incapacidade de relaxar. Porque a pessoa está sempre alerta, querendo mais e mais”, destacou.

A médica enfatizou ainda, a consequência desses fatores estressantes na vida universitária, que frequentemente levam à frustração e ansiedade. “Chega um ponto da ansiedade, que ela cai. E nesse momento de queda, a ansiedade começa a adoecer. Vem o quadro de pânico, o quadro de ansiedade generalizada, a gastrite, a dor nas costas, a dor de cabeça, inicia então a somatização dessa ansiedade”, observou.

O uso de álcool e drogas foi mencionado pela médica como escolha negativa para enfrentar a chamada fobia social. A psiquiatra assinalou que é comum o universitário ter ansiedade de desempenho, como falar em público, fazer exames, entre outras situações que a inibição e a timidez atrapalham, acentuando prejuízo social, profissional e acadêmico; e como alternativa para lidar com essa ansiedade, faz uso de muita química. “Muitas pessoas precisam de aditivos para entrar na vida. E é importante a gente ter noção porque a prevalência de fobia social vai para casa dos 40% na população jovem e muitas vezes não é feito o diagnóstico. A gente vai identificar esse jovem com abuso de drogas, porque a droga funciona como um facilitador para enfrentar as situações sociais”, ressaltou.

Aprofundando o tema, a ministrante explicou que todos esses fatores desencadeiam a depressão, que envolve desde a genética da pessoa, quanto transtorno psiquiátrico, temporalidade com acontecimentos, abuso de substâncias, ambiente em que se vive e abuso físico e social. “Embora a depressão seja mais prevalente nas mulheres, os homens se suicidam três vezes mais e o suicídio é muito dominado pela depressão.”

Barreiras de prevenção ao suicídio

Durante a palestra, Dra. Alexandrina também abordou a necessidade de acabar com o sigilo e se falar sobre o suicídio. “Suicídio é uma coisa que se pode prevenir. É a morte evitável”, assinalou.

Conforme a psiquiatra, é importante que se questione a pessoa depressiva, se ela está planejando acabar com a própria vida, pois assim, ela se sentirá confortável em partilhar o que está pensando em fazer.  

Apresentando dados estatísticos, a médica mostrou que o suicídio é uma das maiores causas de morte e que não há investimentos para reduzir os números, como houve para doenças como a leucemia, a doença cardíaca, a Aids e os acidentes, nos últimos 30 anos. “A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio. A cada três segundos, uma tenta. E cada morte por suicídio tem impacto em cinco ou dez pessoas à volta”, enfatizou, afirmando que sem investimento em prevenção, fica difícil fazer pesquisa para determinar e mudar essa realidade.

O reconhecimento do problema e o apoio à pessoa deprimida foram algumas estratégias apontadas pela Dra. Alexandrina para enfrentar a situação, além de conversar sobre o assunto, incentivar que a pessoa fale sobre o que sente, indicar um professor ou um profissional para ajudar e, sobretudo, diminuir o estigma de depressão ser uma doença mental.

A psiquiatra também aconselhou que o universitário aprenda a distinguir a depressão, do estresse e ansiedade, e identificar as fontes de estresse para entender quais os sintomas que está tendo e como controlar.

No final da explanação, a palestrante incentivou ainda, que os participantes se atrevessem a fazer perguntas e deixou um recado aos estudantes: “Aprenda universitário: a rir, a chorar, a conversar, a dançar, a amar, a cantar, a sonhar, a descansar, a errar, a brincar, e, acima de tudo, a impor limites e dizer ‘não’”.

“No suicídio a pauta maior é a prevenção”

À tarde, a psiquiatra participou de uma reunião com pró-reitores, diretores das unidades, coordenadores de cursos e professores, oportunidade em que ressaltou a necessidade de planejar ações preventivas ao suicídio. “No suicídio, com certeza, a pauta maior é a prevenção”, afirmou.

Dra. Alexandrina disse que uma das grandes preocupações é identificar a possiblidade antes que aconteça. “Na maioria das vezes, a pessoa não procura ajuda. Principalmente quando está com depressão e também com alguma dependência de drogas, ela se fecha. O que deve ser observado pelas pessoas mais próximas é a mudança do comportamento”, comentou.

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