Semana dos Museus resgata histórias controversas para dizer o indizível

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Abertura contou com presença de Nilmário Miranda, secretário estadual de Direitos Humanos

Encerra-se neste final de semana, com viagem técnica à cidade de Petrópolis-RJ, a 9ª Semana Nacional de Museus da UNIFAL-MG, que neste ano abordou a temática “Museus e Histórias Controversas: dizer o indizível em museus”.

O evento na Instituição envolveu uma programação extensa que contou com lançamento de livros, mesa-redonda, palestras, debates, oficinas, apresentações de comunicações abrangendo discussões acerca de museus e patrimônios, e com a conferência de abertura, no dia 08/05, proferida pelo secretário estadual de Direitos Humanos, Nilmário Miranda.

A Semana integra as ações da Política Nacional de Museus do Instituto Brasileiro de Museus – Ibram, e tem por finalidade mobilizar os museus brasileiros a partir de um esforço conjunto para um acordo de suas programações em torno de um mesmo tema, sugerido pelo Conselho Internacional de Museus – Icom, para o Dia Internacional de Museus, celebrado no dia 18 de maio. “A partir de escolhas, disputas de poder e silêncios, tal seleção produz ausências e esquecimentos; é o que chamamos de ‘não dito’, típico das operações que configuram as escritas de histórias”, descreve o Instituto a respeito da escolha temática desta edição.

ABERTURA

A abertura do evento teve início com a exposição de fotografias no hall do auditório Dr. João Leão de Faria, enviadas por profissionais e amadores de Alfenas, e também do exterior. Alinhadas ao tema da Semana Nacional de Museus, as imagens retratam os museus, as histórias controversas, para dizer o indizível.

“Muitas vezes, o que procuramos nos museus não está ali, dito ou apresentado. Está do lado de fora. Essa busca pode ser gerada tanto pela ausência quanto pela reflexão. Cabe aos museus escolher qual o caminho seguir”, disse a museóloga, Luciana Menezes de Carvalho, coordenadora da Semana, na cerimônia de abertura. “Temos a responsabilidade em não nos escondermos em falsos discursos de neutralidade ou até mesmo na temática e nos objetivos dos nossos museus, para evitar tratar determinados assuntos”, acrescentou, afirmando que há muito ainda a ser explorado pelos museus, principalmente, aquilo que incomoda.

A cerimônia de abertura, que contou com apresentação musical realizada pelos discentes de mestrado em Educação da Instituição, Junior Roberto Faria Trevisan e Nicole Pereira de Almeida; teve a presença do reitor, Prof. Paulo Márcio de Faria e Silva; da pró-reitora adjunta da Extensão, Profa. Ana Rute do Vale, e do vice-coordenador do Museu da Memória e Patrimônio da Universidade, Prof. Cláudio Umpierre Carlan.

“Quero aproveitar a oportunidade para lhe dirigir uma vez mais, Luciana, mas de modo mais enfático hoje, todo agradecimento da Administração dessa Universidade por esse trabalho glamoroso que você vem fazendo desde que chegou aqui”, expressou o reitor.

Prof. Paulo Márcio também acolheu o convidado para a conferência, manifestando publicamente sua satisfação como gestor, em receber o secretário estadual de Direitos Humanos na UNIFAL-MG. “É um orgulho, Nilmário Miranda, tê-lo aqui em nosso meio. Por toda sua história pessoal, sua trajetória na política, seu exemplo de coerência política, eu tenho que fazer essa manifestação publicamente: sua presença enriquece a nossa Instituição e é um orgulho muito grande poder receber um político como o senhor aqui hoje”, salientou.

SOBRE O CONFERENCISTA NILMÁRIO MIRANDA

Na sequência, o conferencista foi apresentado por bolsistas do Museu da Memória e Patrimônio, que não deixaram de mencionar o currículo do convidado, o qual comprova toda a dedicação do político na militância em defesa e desenvolvimento dos Direitos Humanos no Brasil.

Nilmário Miranda é hoje uma referência importante no movimento e em sua fala durante a conferência, indicou obras que resgatam parte da atividade política em Teófilo Otoni, na região nordeste do Estado de Minas Gerais, cidade onde viveu sua infância, acompanhando a família que ali trabalhou por muitos anos no restaurante popular que possuía.

“Não há nada mais importante em uma pessoa, que sua história. É isso que define a pessoa. A existência que precede a essência”, disse durante a conferência.

A história de Nilmário é marcada por ideias que recolhia no seio familiar. Motivado por leituras e pelo inconformismo diante das desigualdades sociais e do sistema de arbítrio instalado pelo regime militar, ainda bem jovem, Nilmário abraçou o sonho socialista, participando, nas décadas de 60 e 70, primeiro do movimento pelas reformas de base em Teófilo Otoni e, depois, do movimento estudantil em Belo Horizonte.

Militante de um dos grupos políticos proscritos nos anos de chumbo, a POLOP, o atual secretário estadual de Direitos Humanos conheceu a amarga experiência da prisão política por três anos e meio e teve seus direitos políticos cassados por cinco anos. Ao ser libertado, no final dos anos 70, não hesitou em retornar à militância, passando a desempenhar um papel de liderança na construção do movimento popular e sindical na região industrial da Grande Belo Horizonte. Junto a outros companheiros, criou e dirigiu o Jornal dos Bairros, um instrumento de mobilização de comunidades pobres em torno de direitos como o acesso à moradia, ao saneamento e outros serviços públicos. Nessa ocasião, ajudou a criar o embrião de um movimento nacional de desenvolvimento urbano.

Formou-se em Jornalismo na tradicional Universidade Federal de Minas Gerais, em 1979, tendo trabalhado como jornalista no Sindicato dos Bancários de Minas Gerais e no Sindicato dos Metalúrgicos de Betim, associando a atuação profissional à militância política e social. Em 1980, faz pós-graduação em Ciência Política na Universidade Federal de Minas Gerais e, em 1982, conclui, no CIESPAL, do Equador, o curso de especialização em Comunicação Popular. Entre 1983 e 1985, Nilmário trabalha como chefe de gabinete do Partido dos Trabalhadores na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Num dos momentos históricos memoráveis da cidadania brasileira, a retomada da ordem democrática e a intensa mobilização social que culminaram nas constituintes nacional e estaduais, Nilmário é eleito, em 1986, deputado estadual constituinte. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, destaca-se pela sua atuação, tendo sido líder da Bancada do PT em 1989, e prestado relevante contribuição na elaboração da Constituição do Estado, inclusive como presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia e integrante da Comissão de Defesa do Meio Ambiente. Nessa época, Nilmário Miranda também foi membro da Executiva Estadual e do Diretório Nacional de sua agremiação.

LANÇAMENTO DO LIVRO "NARRATIVAS SOBRE TEMPOS SOMBRIOS: DITADURA MILITAR NO BRASIL"

Após a conferência, a coordenação do evento também promoveu o lançamento da obra "Narrativas sobre tempos sombrios: Ditatura Militar no Brasil", elaborada pelos organizadores, professores do Instituto de Ciências Humanas e Letras da UNIFAL-MG: Mário Danieli Neto, Marcelo Hornos Steffens e Marta Gouveia de Oliveira Rovai.

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