O programa foi organizado em torno de uma área de concentração, “Ensino e Pesquisa de História Ibérica”, e de uma linha de pesquisa, intitulada “Cultura, Poder e Religião“, para o desenvolvimento de práticas de ensino e de pesquisas que contribuam para a delimitação do processo de ensino e de aprendizado da História Ibérica em todas as suas dimensões e em todas as interfaces e as conexões possíveis com as investigações acerca da Antiguidade, da Medievalidade, da Modernidade e da Contemporaneidade.

Privilegiar-se-á, na linha de pesquisa “Cultura, Poder e Religião”, a pesquisa e o ensino de temas, de objetos e de fontes acerca da construção, da manutenção e da transformação dos mundos ibéricos e de outros a estes vinculados, bem como tratar-se-á da problematização das noções de temporalidade caracterizadas pela Antiguidade, pela Medievalidade, pela Modernidade e pela Contemporaneidade. Para tanto, agregam-se especialistas das áreas de História e de áreas afins, bem como especialistas em tecnologias voltadas à Educação, os(as) quais, no trabalho de orientação e de coorientação, atuam para a elaboração de Objetos de Aprendizagem como resultado principal das pesquisas realizadas.

É fundamental observar que os três conceitos (Cultura, Poder e Religião) variaram historicamente e precisam ser, portanto, compreendidos como categorias históricas, em constante transformação. Outro dado importante a ser considerado é que a compreensão desses conceitos também está atrelada diretamente às diferenças das classes sociais, às diferenças étnicas e raciais, bem como às diferenças etárias e de gênero, etc., portanto, são conceitos plurais.

Partiremos do conceito amplo de cultura entendido como um conjunto de valores compartilhados na dinâmica das relações sociais, cuja construção e partilha ocorrem a partir de critérios estabelecidos por indivíduos e por grupos de acordo com as suas identidades, suas formas de percepção do mundo, seus imaginários e suas ideologias. Dessa forma, a cultura (uma teia de significados que os seres humanos tecem para a ela se fixar, para organizar suas vidas e dar sentido às suas ações e às existências) é convertida em fator estruturante da vida social em todas as dimensões e as temporalidades, permitindo que os agrupamentos humanos elaborem padrões de comportamentos duráveis e ao mesmo tempo cambiáveis ao longo de experiências históricas. A mobilização de tal conceito amplo viabiliza diferentes abordagens no Mestrado Profissional em História Ibérica, pois o quadro de docentes é composto por profissionais com formas variadas de compreensão dos fenômenos culturais, garantindo a produção de pesquisas fundamentadas em matrizes teóricas plurais e, assim, gerando resultados que possam apresentar uma visão diversificada das relações e das práticas de cultura.

No mesmo sentido, para promover a diversificação de abordagens e de resultados que permitem uma conceituação e uma compreensão complexa dos fenômenos humanos, mobilizamos um conceito amplo de poder, noção que será compreendida como exercício de autoridade nas mais diversas formas de relações e nos mais diferentes espaços onde é praticado, gerando um conjunto de diferentes modalidades de domínio, de confrontos e de resistências na dialética social. Desse modo, é possível observar o poder como uma prática multifacetada e multi-espacializada que indivíduos e grupos (re)produzem, adaptam e transformam de acordo com seus interesses e com as condições históricas.

No que concerne à religião, cabe observar que, mais do que somente um conjunto de ritos, trata-se de um fenômeno estruturante, definidor de mentalidades, de comportamentos individuais e coletivos e, principalmente, de programas culturais, políticos e sociais voltados à conformação de modelos de sociedade fundamentados em moralidades e doutrinas. Portanto, religião é um elemento capaz de nortear processos históricos e, por isso mesmo, um locus privilegiado de observação dos argumentos humanos em diferentes espaços e tempos. No Mestrado Profissional em História Ibérica, os estudos acerca da religião/das religiões se configuram como âmbitos para a identificação e o conhecimento das diferentes religiões e de seus agentes (ideologias e métodos de ação), bem como para interpretação de processos que agentes religiosos desencadearam no sentido de transformar os mundos ibéricos. Além disso, também há espaço para a reflexão teórica e metodológica acerca das relações entre História e religião, a fim de analisar os temas, as abordagens e os métodos empregados pela historiografia no estudo sobre o papel desempenhado pelas religiões e seus agentes nos processos históricos.