Reportagem do G1 destaca o projeto Time Mining Games da UNIFAL-MG

Versão para impressãoEnviar por email
Estudantes de Engenharia buscam recursos para participar de olimpíada internacional

No dia 02/02, o G1 Sul de Minas divulgou uma reportagem sobre o projeto de extensão Time Mining Games da UNIFAL-MG, campus Poços de Caldas, formado por estudantes do curso de Engenharia de Minas, que foi selecionado para representar o Brasil em uma olimpíada internacional de extração de minérios por métodos antigos.

Com a dificuldade para conseguir recursos para representar o país na 39ª edição dos Jogos Internacionais de Mineração, os estudantes resolveram tentar uma ‘vaquinha’ na internet para arrecadar o dinheiro, que está no ar desde outubro do ano passado e segue até o dia 1º de abril para quem quiser ajudar com alguma doação.

O projeto de extensão é coordenado pela professora Carolina Del Roveri e engloba diversos projetos extracurriculares, sociais e científicos, permitindo que o time cumpra seu objetivo de reforçar o valor educacional de experiências esportivas interuniversitárias para um maior número de alunos possível. A participação do time da Universidade nos jogos garante atividades extracurriculares que envolvem o esporte como forma de integração, iniciativa que tem como base a experiência dos estudantes nos Jogos Internacionais e durante a graduação, criando uma relação entre o curso de Engenharia de Minas da UNIFAL-MG e a comunidade estudantil do município de Poços de Caldas.

Confira a reportagem na íntegra:

Equipe mineira busca recursos para participar de olimpíada da mineração
Estudantes de engenharia representam Brasil em competição nos EUA.
Sem patrocínio, equipe de Poços de Caldas faz até vaquinha na internet.

Lara Cristina*Do G1 Sul de Minas

Pelo quarto ano consecutivo, uma equipe de estudantes de engenharia da mineração foi selecionada para sair do Sul de Minas e representar o Brasil em uma olimpíada curiosa de extração de minérios por métodos antigos. Mas a participação na 39ª edição dos Jogos Internacionais de Mineração, o Mining Games, pode não acontecer este ano. Com a crise, o grupo não consegue patrocínios de empresas privadas e nem apoio financeiro da Universidade Federal de Alfenas (Unifal), onde estudam, que também teve cortes de orçamento. Correndo contra o tempo, eles abriram uma “vaquinha” na internet para tentar arrecadar dinheiro para a viagem.

O Internacional Mining Games, ou olimpíadas de mineração, teve sua origem em 1978 como forma de homenagem aos 91 mineiros que morreram no incêndio na Mina de Sunshine, em Kellog, Idaho (EUA) em 1972. A competição consiste em sete provas que relembram como era a mineração antes das tecnologias, mais precisamente em 1972.

O estudante do 7º período do curso de engenharia de minas da Unifal, André Costa Lopes, de 23 anos, acredita que o conhecimento dos métodos antigos utilizados na competição ajuda a desenvolver novas tecnologias cada vez mais eficientes.

“É importante saber como era difícil antigamente e então dar valor nas facilidades da atualidade. Foi através do conhecimento antigo que as chegamos às máquinas que temos hoje e que facilitam nosso trabalho. Uma é a evolução da outra, as novas tecnologias são necessárias para tornar o processo cada vez mais rápido, seguro e eficiente, e os jogos nos dão essa possibilidade de conhecer de onde tudo começou.”

A Universidade Federal de Alfenas foi a única representante do Brasil em dois anos dos três em que a equipe participou dos jogos representando o Sul de Minas Gerais. Além da Unifal, alunos da Universidade de São Paulo (USP) participarão pela primeira vez este ano do campeonato que acontecerá entre os dias 22 e 26 de março.

A equipe da Unifal surgiu em 2012 e é composta por 10 alunos do curso de engenharia de minas do campus de Poços de Caldas (MG). No último ano, ficou em 17º lugar na classificação geral e trouxe uma medalha de bronze após representar o Brasil na competição. “Nos dois primeiros anos nós focamos em pesquisas, e em 2014, fomos para a primeira competição. No ano passado conseguimos uma medalha na prova de topografia”, conta o capitão do time, Henrique Lima, de 30 anos.

Provas Mining Games
Durante a competição, a equipe precisa realizar todas as sete provas utilizando técnicas antigas no menor tempo possível. No “Mucking”, os participantes devem encher um carrinho de minério de duas toneladas e transportá-lo entre dois pontos no menor tempo possível. No Hand Steeling, os integrantes devem perfurar o mais profundo possível um bloco de concreto utilizando um martelo 3’’ e 4’’ e uma talhadeira.

Já a Swede Saw exige que a equipe serre uma seção de madeira no menor tempo possível, seguindo uma determinada técnica e normas. No Gold Panning, os integrantes devem procurar um determinado minério em uma bateia cheia de material indesejado, como areia e lama. Ganha a equipe que também tiver o menor tempo na soma final. No Track Stand, o objetivo é adicionar uma seção de trilho, dormentes, conectando placas e parafusos no menor tempo possível e depois desmontá-la.

Na prova Surveying, dois competidores de cada time recebem um ponto de partida e devem informar as coordenadas de um ponto final desconhecido, utilizando como equipamento de posicionamento um teodolito rústico. A equipe vencedora é determinada pela precisão da identificação das coordenadas do ponto desconhecido. E no Jackleg Drilling, vence o time que perfurou com maior profundidade um bloco de concreto com um martelo pneumático.

“Tudo é baseado em técnicas antigas. A bateia relembra os mineradores que iam procurar ouro, metais pesados em riachos. A serra é porque eles utilizavam muita madeira para fazer as estruturas e também os trilhos e os dormentes manualmente, para depois encher o carrinho de minério e transportá-lo. Perfurar a rocha para colocar explosivos também era manual. Topografia era importante para a população se localizar ou então, fazer uma planta do local que vai trabalhar”, explica Lopes.

Mineração brasileira
Além das participações no Mining Games, a equipe da Unifal desenvolve um projeto social para estudantes de ensino médio com o objetivo de apresentar o curso e auxiliar os estudantes a escolherem o futuro de suas vidas – e quem sabe, na área da mineração.

No “Mineração em Campo”, os universitários oferecem um dia no centro de treinamento e fazem palestras sobre as experiências dos estudantes universitários nos Jogos Internacionais de Mineração, demonstrações e exposições das provas, passeio pelo campus com brindes.

“Nosso principal objetivo é trazer a cultura de mineração para o Brasil”, afirma Lopes. Segundo último levantamento do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), feito em 2014, a mineração é responsável por quase 5% do PIB brasileiro e é capaz de oferecer produtos utilizados em indústrias metalúrgicas, fertilizantes, siderúrgicas e, principalmente, as petroquímicas.

Todos os anos os capitães de equipe se reúnem durante o Mining Games para escolher o país que sediará a competição em dois anos. Pela primeira vez, a equipe da Unifal tentará fazer do Brasil a sede dos jogos em 2019. “Nossa equipe é tradicional nos jogos e estamos crescendo a cada ano. Nosso sonho é trazer para Poços de Caldas a 41ª edição do Mining Games, pela tradição e estrutura que podemos oferecer”, conta o capitão do time.

À sombra da crise
Este ano, apenas seis dos dez integrantes irão viajar para participar da competição nos Estados Unidos, mas a equipe ainda encontra dificuldades para custear as despesas da viagem. “É complicado depender dos órgãos públicos em meio à crise”, lamenta Lopes. A universidade cede o espaço para o centro de treinamento e oferece bolsas de ensino de extensão que permite a formação da equipe para competir, mas não consegue cobrir os custos das viagens.

Segundo a técnica em assuntos educacionais da coordenadoria de extensão do campus Poços de Caldas, Keri Prosperi, este ano ainda teve o agravante da redução do repasse federal para as universidades. Na Unifal, o corte foi de 15,80%, o que impacta principalmente os projetos e pesquisas em itens como insumos e bolsas.

“Por causa da crise, o único meio de auxiliar os alunos é por meio de bolsas de extensão. Por isso, a Unifal apoia e estimula o desenvolvimento do projeto porque, além de contribuir com a formação técnico-científica do aluno, amplia suas experiências acadêmicas. Para este ano, o projeto foi contemplado com 20 bolsas de extensão”, completa Keri.

Em 2016, o projeto foi patrocinado pela Lei Municipal de Incentivo ao Esporte e pelo Departamento Municipal de Eletricidade, mas devido a uma mudança na licitação deste ano, o projeto não se enquadrou e não conseguiu o patrocínio. “O DME cortou 12 projetos que não tinham como principal objetivo ações sociais. O Mining Games apresentou um projeto de custeio de viagem sem um fundo social, por isso não conseguiu o patrocínio”, explicou o comissário de análises dos projetos apresentados do DME, Carlos Alberto dos Santos.

Além da viagem, Lopes afirma que a falta de patrocínio complica até manter a equipe para competir. “[Temos] dificuldade em reproduzir as provas, porque nosso centro de treinamento não está totalmente estruturado. Sem o dinheiro não conseguimos comprar os materiais para melhorar o CT, para viajar. Falta de patrocínio tanto de instituições públicas como privadas, a gente precisa muito do apoio de gente que acredite no setor de mineração.”

Após a perda do principal patrocinador, a equipe conseguiu apoio de quatro empresas privadas, mas não foi suficiente para custear a viagem. “Nós precisamos do mínimo de R$ 26 mil para custear as despesas básicas do time como taxa de inscrição, passagem, hotel, alimentação”, explica Lopes.

Além de correr atrás de novos patrocínios, os estudantes resolveram tentar uma ‘vaquinha’ na internet para arrecadar o dinheiro, que está no ar desde outubro do ano passado e segue até o dia 1º de abril para quem quiser ajudar com alguma doação. De acordo com os integrantes, até o momento eles conseguiram R$ 390, pouco ainda comparado com o necessário.

“Não é um trabalho fácil, juntamos o time e buscamos nossos recursos, até porque não é fácil dedicar tempo total ao time em meio aos nossos estudos, mas a dificuldade é importante para a união do time”, afirma Lopes.

Para ele, permanece a esperança de conseguir representar mais uma vez o país no mundo. “Estamos buscando novos horizontes, divulgando o curso e a faculdade em Poços de Caldas, em Minas Gerais, no Brasil e no mundo, uma vez que não é muita gente que conhece o curso de engenharia de minas, inclusive aqui.”

*Sob supervisão de Samantha Silva, do G1 Sul de Minas

Disponível também na página do G1: http://g1.globo.com/mg/sul-de-minas/noticia/2017/02/equipe-mineira-busca-recursos-para-participar-de-olimpiada-da-mineracao.html