Sobre

Trata-se de uma obra de valorização e preservação da cultura regional. Ressaltamos o respeito à cultura e ao conhecimento das pessoas que contribuíram com a criação do projeto. O conhecimento de uma comunidade, ao longo de gerações, é indispensável para a formação do ser humano e insubstituível para as nossas existências.

As expressões idiomáticas constituem algo do que de mais peculiar fornecem as línguas naturais no que concerne aos seus aspectos identitários e reveladores da visão de mundo dos falantes de uma comunidade.

Por meio delas é possível não apenas estudar aspectos lexicais de um falar regional, como também questões de ordem mais ampla, como as formas de registro linguístico das construções culturais dos falantes.

Este dicionário objetiva registrar parte significativa das expressões idiomáticas do sul de Minas Gerais, de modo a permitir uma descrição de natureza lexical e uma apresentação de parte dos registros histórico-culturais realizados pelos falantes dessa região em suas estruturas linguísticas mais típicas, visando à construção de um dicionário sul-mineiro de expressões idiomáticas.

O acelerado processo de perda de identidade linguística justifica a necessidade de estudos do falar regional, permitindo, ao menos, o registro dos falares típicos e seu estudo por uma ótica cultural.

Tal estudo, ainda, poderá servir como referência para que uma descrição histórico-cultural seja realizada em pormenor, a partir dos estudos linguísticos calcados em uma semântica cultural.

A metodologia de coleta do corpus foi viabilizada de duas formas:

  • 1º. através de fontes escritas na região, como jornais e textos de Internet e de fontes orais de mídia, como as rádios locais e regionais;
  • 2º. pela observação de interações informais entre pessoas em locais públicos como feiras e mercados, e pela entrevista pessoal com pessoas nascidas na região, preferencialmente com idade acima de cinquenta anos conhecedoras do falar tradicional, sem grande influência de nível elevados de educação formal (por essa razão, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido teve sua linguagem adaptada ao nível presumido de educação formal e compreensão da linguagem padrão dessas pessoas).

Este projeto é um dos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisas Linguísticas Descritivas, Teóricas e Aplicadas – GP-Lin da UNIFAL-MG e foi aprovado por meio do Parecer 995.776/2015.

Sugerimos o seguinte padrão de registro no diário de campo (ou quando os dados forem transcritos) para sistematização das informações pertinentes:

IDDadoContextoCenárioSentido
  • ID – Identificação do dado. Pode-se associar o número do dado à ID de uma obra. Por exemplo: A06 (Dado 6 da obra A);
  • Dado – Apresentação do dado como coletado, com a grafia original;
  • Contexto – Transcrição do contexto suficiente para a identificação do dado, que pode ser de uma mera frase a um trecho extenso de texto;
  • Cenário – Construção mental com base nos conhecimentos culturais e no complexo conjunto situacional que envolve a enunciação. No dicionário, será a apresentação descritiva sucinta da situação discursiva em que o dado foi realizado. Devem ser citados todos os aspectos considerados significativos na realização. Por exemplo, se o dado aparece em um diálogo, deve-se descrever a situação e o espaço em que o diálogo ocorre e demais elementos importantes para a significação que podem ser percebidos na leitura, como tom de voz e gestos;
  • Sentido – Apresentação sucinta (embora possa ser ainda aproximada) do sentido (portanto, geral/cultural) inferido a partir da fonte do dado. Se houver significativa ocorrência de sentido individual (como um neologismo estilístico criado pelo narrador), este também deverá ser registrado.

Dados registrados dessa maneira permitem uma compreensão mais completa de como e por que seus sentidos foram atribuídos da forma que foram. Além disso, permitem a comparação da atribuição de sentidos nos respectivos âmbitos discursivos, ou seja, a identificação de padrões de atribuição de sentidos na relação [sinal < > contexto < > cenário].