Tabaco: Disfarces do século XXI
Modismos só aumentam, antigamente, o que era moda era o consumo do cigarro, que era considerado status. Com o passar do tempo, voltou o consumo do famoso “paiero”, e mais recentemente, são utilizados pelos jovens o narguilé e cigarro eletrônico (SAÚDE BRASIL, 2018) .A vulnerabilidade dos jovens diante do consumo dessas substâncias cresce a cada dia através da influência dos amigos, e até mesmo através da televisão, redes sociais e cinema, que fazem superexposição do uso e com isso, cria-se a curiosidade do consumo.
Depois da curiosidade, vem o hábito de fumar e a dependência à nicotina. Esses modismos escondem os riscos, já que o cigarro contém cerca de 4720 substâncias tóxicas, das quais 50 são cancerígenas (FUNDAÇÃO DO CÂNCER, 2016). O fumo é causa direta de mortes por doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite e enfisema), por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), por doença coronariana (angina e infarto), cerebrovasculares (acidente vascular cerebral). Também aumenta o risco para desenvolver outras doenças, como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras (IFF, 2018).
A nicotina presente no cigarro é responsável por estimular a sensação de prazer que a pessoa sente ao fumar. Com a inalação contínua da droga, o cérebro se adapta e passa a precisar de doses cada vez maiores para manter o nível de satisfação que tinha no início. A fumaça que sai da ponta do cigarro e se difunde homogeneamente no ambiente, contém em média três vezes mais nicotina, três vezes mais monóxido de carbono e até 50 vezes mais substâncias cancerígenas do que a fumaça que o fumante inala. A exposição involuntária à fumaça do tabaco pode acarretar desde reações alérgicas (rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma) em curto período, até infarto do miocárdio, câncer do pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) em adultos expostos por longos períodos. Em crianças, aumenta o número de infecções respiratórias. A Lei Antifumo n° 12.546/2011 que proíbe fumar em local público e fechado no Brasil, foi um grande avanço nas medidas de proteção (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
As pontas de cigarro são o resíduo mais descartado no mundo, segundo o The Tobacco Atlas (2019), estima-se que 767 milhões de quilos delas tornam-se lixo tóxico. Quando descartadas incorretamente, levam até cinco anos para se decompor. Por conter substâncias nocivas, podem prejudicar o solo, poluir rios e córregos e levar ao entupimento dos bueiros, dentre outros malefícios (THE TOBACCO ATLAS, 2019) .O Sistema Único de Saúde (SUS) dispõe de estrutura especializada em ajudar os fumantes a largar o cigarro. As Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde contam com uma Coordenação de Controle do Tabagismo. Os medicamentos disponibilizados pelo Ministério da Saúde para o tratamento do tabagismo na Rede do SUS são os seguintes: Terapia de Reposição de Nicotina, através do adesivo transdérmico, goma de mascar e pastilha, e o Cloridrato de Bupropiona (IFF, 2018).
Além da legislação específica, que proíbe o fumo em locais públicos e a publicidade, o aumento significativo do preço do maço de cigarros é um fator relevante na decisão de parar de fumar. Conscientizar a criança e o jovem para não começar a fumar é mais efetivo e exequível que convencer a pessoa a deixar o cigarro. Um relatório da OMS publicado em 2006 tinha o sugestivo título de “Tabaco: mortal em qualquer forma ou disfarce” (Tobacco: deadly in any form or disguise). Muitas das inovações ou disfarces que prometiam reduzir os riscos à saúde, em nada mudaram seus perversos efeitos. Usaram termos atraentes como “orgânico”, “natural” e alguns são vendidos em lojas de produtos naturais e de conveniências. Todas as estratégias de divulgação burlam as leis e querem atrair novos consumidores, principalmente jovens que potencialmente serão clientes fiéis por décadas, se não morrerem antes. Mas os efeitos colaterais indesejáveis não são considerado pela indústria do tabaco.
Cigarro de palha
O cigarro de palha era uma forma menos comum de consumo e, até certo ponto, romantizada entre nós. O cigarro de palha era associado a caipiras do interior que levavam uma vida calma. Tem-se a imagem deles sentados na porta de suas casas com seu cigarrinho na boca esperando o tempo passar. Mas a realidade é bem diferente. (VEJA, 2017). Por não ser consumido em regiões urbanas há muitas décadas, pouco se divulgou sobre as consequências do consumo de cigarro de palha. Um estudo epidemiológico realizado no Brasil mostrou que este tipo de cigarro estava fortemente associado a câncer de boca e de faringe (MELO et al, 2015). Pior que isso, enquanto aqueles que pararam de fumar cigarro industrializado por 10 anos passavam a ter risco semelhante ao dos não fumantes para o desenvolvimento do câncer; o mesmo não ocorria com o consumo de cigarro de palha. Após 10 anos sem fumar, o risco de ter câncer era ainda quatro vezes maior (VEJA, 2017).
Não é porque é natural que é bom.
Faltam advertências: cigarro de palha também vicia!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SAÚDE BRASIL (Brasil). Narguilé e cigarro eletrônico: modismo entre jovens: A maioria dos fumantes adquire o hábito na adolescência. A curiosidade faz com que jovens experimentem novidades como narguilé e cigarro eletrônico. 2018. Disponível em: <https://saudebrasilportal.com.br/eu-quero-parar-de-fumar/narguile-e-cigarro-eletronico-jovens-sao-mais-suscetiveis-a-modismos-do-tabagismo>. Acesso em: 19 jan. 2018.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAUDE. Lei Antifumo. 2011. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/leiantifumo/index.html>. Acesso em: 19 jan. 2019.
VEJA (Brasil). O cigarro de palha faz mal, afinal? 2017. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/o-cigarro-de-palha-faz-mal-afinal/>. Acesso em: 19 jan. 2019.
THE TOBACCO ATLAS (Estados Unidos).The Tobacco Atlas.2019. Disponível em: <https://tobaccoatlas.org/>. Acesso em: 19 jan. 2018.
MELO, Letícia de Cássia et al. Perfil epidemiológico de casos incidentes de câncer de boca e faringe. RGO. Revista Gaúcha de Odontologia (Online), v. 58, n. 3, p. 351-355, 2010.
IFF – Instituto Nacional da Saude da Mulher da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. O cigarro e os seus malefícios. 2018. Disponível em: <http://www.iff.fiocruz.br/index.php/8-noticias/471-cigarro-maleficios>. Acesso em: 28 jan. 2019.
FUNDAÇÃO DO CÂNCER. OS MALES DO CIGARRO. 2016. Disponível em: <https://www.cancer.org.br/os-males-do-cigarro/>. Acesso em: 30 jan. 2019.