Ronald Polito é poeta, tradutor e artista plástico. Publicou os livros de poemas Solo, Vaga, Objeto, Intervalos, De passagem, Pelo corpo (com Donizete Galvão), Terminal, Ao abrigo, Rinoceronte e sem termo, e o infanto-juvenil A galinha e outros bichos inteligentes, com poemas visuais de Guto Lacaz. Realizou a exposição individual Minimundos no Museu de Arte Murilo Mendes e na Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, e a exposição individual Transpoesia, no Estudio 19, em Santa Teresa (RJ). Curador de exposições, as mais recentes de Walter Sebastião e de Fani Bracher na RH Espaço Arte (Juiz de Fora).

 

Três poemas visuais

Há mais de 30 anos venho criando obras no campo da poesia visual, tendo já publicado diversos trabalhos na área. Os que selecionei apontam para direções bem distintas, mas não excludentes, pois seus significados não se reduzem ao campo a que prioritariamente os vincularei. Um trabalho tem natureza eminentemente política, o segundo está mais ligado ao campo da natureza e da existência e o terceiro tenta ser uma reflexão sobre a própria possibilidade da poesia. O trabalho “político” intitula-se “NOVA NOITE MUNDIAL”. O título remete ao bordão “nova ordem mundial”, surgido no final dos anos 80. O corpo do poema se apropria e distorce a famosa frase de Luther King, “Eu tenho um sonho”, tornando-a passado e negando-a. O fundo escuro é, claro, a noite; o espaçamento das letras indicia a onipresença da escuridão, na qual estamos todos envolvidos na contemporaneidade tenebrosa cuja data de início pode bem ser o 11 de Setembro de 2001. O segundo poema, “Morro”, caligráfico, é tanto uma representação do próprio morro quanto o ato de morrer, cuja última letra é o corpo tombado. A letra tremida aponta tanto para a erosão da natureza quanto para o enfraquecimento do indivíduo ao morrer. Foi escrito durante a pandemia de Covid-19. O terceiro trabalho, “s l nc”, pretende ser uma possível arte poética. Inúmeros autores já refletiram sobre o fim de toda linguagem: alcançar o silêncio, uma dádiva que nos é negada em meio ao incrível barulho do mundo, o ruído infinito que destrói nossa paz cotidiana.