Silvia Reis é artista, fotógrafa e educomunicadora, nascida e criada no distrito de Elvas, em Tiradentes/MG. É mestra em Artes, Urbanidades e Sustentabilidade pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), onde também se graduou em Comunicação Social – Jornalismo e em Letras. Sua atuação se destaca pela articulação entre arte, fotografia e comunicação, criando obras que exploram essas interseções de maneira sensível e singular. É uma das fundadoras e integrantes do Estria Foto Coletivo, grupo que desenvolve projetos voltados à produção de imagens críticas e poéticas e à formação educomunicativa. Entre os destaques de sua trajetória como fotógrafa estão os ensaios publicados nas revistas Rasante e E-metropolis, a instalação “Cidades (in)visíveis” e a curadoria da exposição “Olhares: uma narrativa do cotidiano”, realizada durante sua pesquisa de mestrado. Participou de diversas exposições coletivas, como “Femina”, “Entre Pregos e Espinhos” e da instalação urbana “Quando Somos Todas, Quem Encara?”. Em 2024, realizou sua primeira exposição individual, Adinkra: Tradição forjada a ferro, que reuniu fotografia, memória e ancestralidade a partir do diálogo com os símbolos Adinkra e as técnicas de forja tradicionais de Tiradentes e região. Agora, com Rescaldo, apresenta sua segunda exposição individual, na qual aborda, de forma crítica e poética, os impactos das queimadas e da crise climática — uma reflexão visual que mistura fuligem, gaze e imagem como forma de denúncia e cuidado.
@silvia_cris_reis
Rescaldo
A série Rescaldo nasceu das minhas inquietações com as queimadas e a poluição do ar durante os meses mais secos de 2024. Foram dias sufocantes, com o céu coberto de fumaça, o sol vermelho e um calor intenso. No meio desse clima inóspito, em que era impossível ignorar a crise ambiental e as mudanças no clima, eu precisava produzir uma série para o curso “Artesanias na Fotografia”, ministrado por Jacqueline Hoofendy. Nesse contexto, comecei a pensar que meu trabalho seria sobre isso. Queria fazer algo que denunciasse, sim, mas que também expressasse cuidado. Foi aí que me veio a ideia de usar gaze — esse tecido que a gente associa a curativos, à ideia de tratar o que foi ferido. A virada aconteceu quando passei por uma queimada na Estrada Real, que liga Santa Cruz a Tiradentes. Aquela imagem da vegetação destruída era o sinal que faltava. Era isso. A série precisava falar do que sobra depois do fogo. Do rescaldo — tanto no sentido literal, das brasas, da fuligem, da paisagem marcada, quanto no simbólico: a sensação de que algo ficou, de que algo ainda queima mesmo quando o fogo parece apagado. Mas só registrar a paisagem queimada não era suficiente. Então comecei a intervir com gaze, e depois usei o fogo. Misturei o documental com o poético, o que se vê com o que se sente. E assim nasceu Rescaldo — uma série sobre os restos, as marcas, o calor que fica. Sobre um planeta em estado de alerta, mas também sobre a urgência de cuidar, mesmo em meio às cinzas. É uma tentativa de dizer, com imagem e afeto, que não dá mais para negar a emergência climática.



