Ronald Polito
Nasceu em Juiz de Fora, 5/4/1961. Poeta, tradutor e artista plástico.
Imóveis contemporâneos
“Imóveis contemporâneos” é uma série constituída de 10 objetos tridimensionais feitos com palitos de dente e palitos de picolé. Trata-se de um jogo entre as formas e os títulos numa perspectiva crítico-irônica. Morar neste país é um privilégio, não um direito básico de todos. Para expressar essa situação, optei por fazer “imóveis” com elementos sem “valor”: palitos. Escolhi apresentar “twinbarraco”, uma paródia das twinhouses inglesas tão nobres; “Minhas casas, minhas vidas”, um aglomerado de casas, memória dos lugares que habitei, hipóteses de sobrevivência; e “Desabite-se”, que brinca com o “Habite-se” exigido pelas prefeituras municipais quando construímos uma residência – no caso, uma casa inabitável, entupida de trastes, que ecoa a compulsão aquisitiva contemporânea e o comportamento acumulativo de tantos doentes, particularmente os que sofrem de Alzheimer. Listo aqui também os nomes dos outros “imóveis” para que se compreenda a perspectiva analítica adotada: “Meu primeiro bunker de palitos de picolé”; “Babelzinha”; “Meu primeiro bunker de palitos de picolé e papel-manteiga”; “Presidential triplex”; “Palafita duplex”; “Puxadão em construção”; e “Comunidá”. Os trabalhos, assim, guardam forte relação com a arte conceitual, por um lado, e com a artezania popular, por outro, seu sentido derivando precisamente da relação que se estabelece entre o construído e seu título.