LEISHMANIA

Classificação Taxonômica

  • Reino: Protista
  • Filo: Sarcomastigophora 
  • Ordem: Kinetoplastida
  • Família: Trypanosomatidae
  • Gênero: Leishmania

Ciclo de Vida e Infecção

             Para abordarmos o ciclo de vida é fundamental que seja esclarecido alguns tópicos antes:

          A leishmaniose visceral está ligada a duas espécies do gênero Leishmania: no chamado velho mundo é a Leishmania donovani e nas Américas é a Leishmania infantum (sinonímia L. chagasi). O vetor é o Lutzomyia longipalpis popularmente conhecido como mosquito palha ou birigui, mas vale ressaltar que cientificamente não se trata de um mosquito, mas sim de um inseto. Além disso entre os hospedeiros vertebrados, temos como principal hospedeiro em área urbana o cão (que muitos utilizam erroneamente referir-se o cão como reservatório, pois os cães podem apresentar doença).

          Ao fazer o repasto sanguíneo em um hospedeiro vertebrado, a fêmea do Lutzomyia longipalpis ingere os macrófagos do hospedeiro vertebrado, contendo a forma amastigota do parasito. O conteúdo ingerido por esse inseto, fica primeiramente, dentro de uma membrana denominada peritrófica, que separa o produto de ingestão das células do inseto, sendo assim, um mecanismo de proteção. Quando essa membrana peritrófica contendo os macrófagos infectados alcançam o intestino do inseto, os macrófagos se rompem liberando as amastigotas que vão evoluir para promastigotas, os quais se multiplicam por divisão binária, de maneira que com o passar do tempo, a membrana peritrófica é rompida e os promastigotas são liberados e se aderem nas células do inseto.

          Ao se aderirem nas células do inseto, as promastigotas (Paramastigotas) passam por diversas mudanças bioquímicas e morfológicas até se transformarem na forma promastigota metacíclica (forma infectante para vertebrados). Na forma metacíclica o parasito migra para a proboscide do inseto, para que assim, no momento de repasto sanguíneo, os promastigotas metaciclicos possam entrar no organismo do hospedeiro vertebrado dando continuidade ao ciclo.

          Os hospedeiros vertebrados são infectados quando as promastigotas metacíclicas são inoculadas pelas fêmeas dos insetos vetores, fêmeas de insetos hematófagos conhecidos como flebotomíneos (família Psychodidae, subfamiília Phlebotominae), durante o repasto sanguíneo. Esses insetos, possuem o aparelho bucal curto e adaptado para dilacerar o tecido do hospedeiro, criando condições para obter o sangue durante a alimentação.

          A saliva do inseto é inoculada nesse ambiente, desempenhando um papel crucial como anticoagulante, vasodilatador e agente de antiagregação plaquetária, facilitando o fluxo de sangue e linfa intersticial para a alimentação. Além desses efeitos, é conhecido que fatores presentes na saliva de flebotomíneos possuem ação quimiotática para monócitos e propriedades imunorreguladoras, com a capacidade de interagir com macrófagos, promovendo sua proliferação e impedindo a ação efetora dessas células na destruição dos parasitas. As formas promastígotas metacíclicas são resistentes a lise pelo sistema complemento.

          Uma vez dentro do hospedeiro, o promastigota metaciclico é fagocitado por macrófagos, onde vai se transformar em amastigota.

          Os amastigotas passam a se reproduzirem dentro do macrófago por divisão binária ocupando a capacidade máxima do macrófago de maneira que ele se rompe e libera amastigotas que podem infectar novos macrófagos e/ou novos mosquitos palhas, dando continuidade no ciclo e a infecção por Leishmania sp.

Ciclo de vida Leishmania spp.

 

Diagnóstico e Tratamento

          O diagnóstico pode ser feito por exames laboratoriais como exames imunológicos (procurar uma molécula marcadora) e exames parasitológicos (procurar o parasito). No exame parasitológico (padrão ouro), procura-se a forma amastigota no material biológico obtido por meio de biópsia ou punção aspirativa da medula óssea, baço, fígado ou linfonodos, de maneira que a análise da coleta da medula óssea é a mais segura para o paciente. Essa amostra biológica pode ser analisada parasitologicamente pelo método direto (esfregaço ou impressão em lâminas); histologia; isolamento em meio de cultura; inoculação em animais de laboratório. Enquanto que pelo método imunológico, é analisado a presença de anticorpos por meio de teste de aglutinação direta (DAT); reação de imunofluorescência indireta (RIFI); ensaio imunológico (ELISA);  Além disso existe teste rápido e barato denominado RK-39.

          No que se refere ao tratamento, temos como tratamentos de primeira escolha os antimoniais pentavalentes (SB+5) comercializados por Antimoniato-N-metil glucamina e Stibogluconato de sódio, que agem na via energética do parasito interferindo na via glicolítica e de ácidos graxos. Que devem ser administrados via intravenosa ou intramuscular por 20 a 40 dias a depender do desenvolvimento da parasitose. Por ser um tratamento de alta toxicidade, torna-se  imprescindível o monitoramento constante do paciente que está sendo tratado, principalmente as funções hepáticas, renais e cardíacas. Caso haja alguma alteração significativa em um desses sistemas citados, é necessário mudar o tratamento para o medicamento de segunda escolha, a anfotericina B, que conta com uma formulação lipossomal menos tóxica (porém de custo muito mais elevado).

Medidas Preventivas

  • Prevenção individual: Uso de repelente, telas, mosquiteiros, inseticida dentro da casa e peridomicilio, evitar áreas endêmicas evitar construir casas e acampamentos em áreas muito próximas à mata; fazer dedetização, quando indicada pelas autoridades de saúde; evitar banhos de rio ou de igarapé, localizado perto da mata. Destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir o desenvolvimento das larvas dos mosquitos. Limpeza dos abrigos de animais domésticos, além da manutenção de animais domésticos distantes do domicílio, especialmente durante a noite, a fim de reduzir a atração dos flebotomíneos para dentro do domicílio.
  • Prevenção pública: investimento em diagnóstico, epidemiologia, tratamento e treinamento de profissionais; investimento em vigilância e na atenção básica.

Epidemiologia

          A leishmaniose visceral é endêmica em 76 países, sendo que na América Latina o Brasil é responsável por 90% dos casos, tendo focos de leishmaniose no Nordeste e Norte

Referências