O comedor de Nuvens

Livro: Escrito por: Heloísa Pires Lima

Ilustrado por: Suppa

Páginas: 24 páginas

Editora: Paulinas

A partir de 1995, a antropóloga social Heloísa Pires passou a escrever histórias infantojuvenis e em O comedor de Nuvens, publicado em 2009, apresenta uma narrativa que atribui ao povo Achanti. Por meio da paráfrase do dilúvio, a autora narra a história de como as nuvens serviam de alimento a esta sociedade até um evento em particular. A partir de então, as nuvens ficam estranhas e se afastam dos humanos, pairando no céu.

Dessa maneira, em uma narrativa suave, Heloísa Pires Lima apresenta como o povo achanti explica a distância entre o céu e a terra, valendo-se de um vocabulário simples, que no decorrer da narrativa, consegue alcançar a explicação a respeito de aspectos da africanidade. Portanto, ainda que Lima não aprofunde a apresentação de suas fontes (de inspiração e de informação), qual sejam, “as crianças da Ibeji Casa-Escola”, podemos compreender que a narrativa/poesia apresentada é, conforme Alfredo Bosi, uma forma atenta de ver o mundo, capaz de devolver “corpo e alma, forma e nome ao que a máquina social já dera por perdido” (BOSI, 2013, p. 16). No caso de O comedor de nuvens, a maneira achanti de explicação sobre os fenômenos do mundo.

As ilustrações de Suppa apresentam expressões lúdicas por meio da técnica da colagem de tecidos sobre desenhos que acompanham a narrativa escrita. Portanto, a articulação entre o texto imagético e escrito apresenta as personagens em telas sem fundo e/ou sem dimensões de profundidade. Analisando dessa forma a dupla narração (FARIA, 2010) de O comedor de nuvens, o livro apresenta vários aspectos e temáticas que podem ser trabalhados de diferentes maneiras nas salas de aulas da educação básica.

O(a) professor(a) de História poderá trabalhar o livro juntamente com o(a) professor(a) de Geografia, com o intuito de discutir questões a respeito da localização espacial da sociedade Achanti. Também poderá desenvolver atividades com o(a) professor(a) de Literatura e de Língua Portuguesa a respeito da produção, edição e publicação de textos dessa natureza, isto é, textos escritos a partir de narrativas orais ou de tradições orais. As tradições orais africanas costumam veicular referências sobre diferentes sociedades do continente, as quais têm interpretações próprias a respeito da vida e do universo. Assim sendo, é possível ao professor promover entre seus alunos um estudo a respeito do processo de transcrição e edição das tradições orais e refletir sobre a maneira que algumas delas estão sendo absorvidas pelo mercado editorial brasileiro, publicando-as como livros de literatura infantil e juvenil. Em suma, a utilização pedagógica de O comedor de Nuvens abre possibilidades de trabalhos transdisciplinares.

Jorge Eduardo Araújo Lima – Acadêmico do 8º período do curso de História da Unifal-MG

Referências:

BOSI, Alfredo. Entre a literatura e a história. São Paulo: Editora 34, 213. FARIA, Maria Alice. Como usar a literatura infantil na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010.