Diário Virtual – Relatos

DIA 20 DE JUNHO DE 2020 – SÁBADO

Rafaela, natural de Boa Esperança, Preta, Discente do Curso de História da Universidade Federal de Alfenas, 26 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Sobre a pandemia lembrarei de muitas coisas.. Lembrarei de sonhos e projetos interrompidos, de estar em uma situação de guerra mesmo não estando em uma. Lembrarei também da imbecilidade do país, do desgoverno, das fakes news e de como elas juntamente com o descaso governamental provocaram tantas mortes e mesmo assim as pessoas permanecem inertes a tudo que acontece a sua volta. Não imaginava passar por um momento como esse. Lembrarei que em situações como essas vemos em quem podemos contar e como conhecemos as pessoas verdadeiramente.

E o que pretende esquecer?

É difícil definir algo que esquecerei, não esquecerei nada, acredito. Isso de uma forma ou de outra, fará parte da minha vida. Posso é tentar lidar com questões que queria esquecer, mas que serão difíceis. O melhor é saber lidar com isso lá na frente.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

A pandemia fez eu economizar demais e me fez pensar nessa parte com mais cuidado, pensando no meu futuro.
Percebi que minha relação com minha mãe tem se tornado um pouco difícil, porém, ao mesmo tempo estamos mais unidas e construindo uma relação forte. Vejo isso também com meu pai, compreender o que se passa com ele. Sinto falta das amizades, das minhas irmãs.
Sobre animais, sempre tive uma relação boa, de alguma forma tento ajudar no que posso.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

No começo da pandemia foi bem difícil, comecei a ter alguns sintomas de ansiedade que não tinha tido antes e foi muito ruim. Agora tenho mantido uma rotina. Acordo, tomo meu café, estudo e faço o que tenho que fazer em casa, ouço muita música e tenho lido alguns livros. Quero tentar caminhar ou andar de bicicleta em um horário que não vá ninguém ( dei uma engordadinha rsrs). Mas acaba que minha rotina está sendo a mesma de antes da pandemia, não houve muitas alterações. Percebi que tenho tido mais cuidado comigo. Tenho autoestima baixa e um tempo atrás estava tudo ok, mas agora com a pandemia, com as questões raciais e mais “n” outras, isso mexeu demais, me deixou pra baixo e vair ser um novo começo pra lidar comigo e com a construção do meu( essa construção eu tenho feito através das leituras, do autocuidado e confiando no tempo)

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Fé, Medo, Ansiedade, União, Esperança

Tatiana Vilela Alvarenga Thiers, natural de Alfenas, Branca, professora da rede estadual do município de Alfenas, 31 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Me lembrarei de um tempo onde aprendi a dar mais valor aquilo que tenho. No cotidiano corrido, trabalho, estudos, dedicação, roupa, louça, boletos, tudo num piscar de olhos e vamos deixando de lado laços, verdadeiros laços com aqueles que estão a nossa volta. Nossa, mas eles eram tão importantes assim?
Pois é, bastou um isolamento social para termos certeza disso. Alguns aprenderam a conviver consigo mesmo, poxa, eu não sabia que minha cia poderia ser tão agradável em alguns momentos e tão insuportáveis em outros. Outros em meio a uma pandemia não puderam sentir o gosto do que é o isolamento social, claro, não podemos esquecer aqueles que não puderam nem por um dia, talvez uma semana parar, afinal se parar, o que comer?
Pandemia foi um ponto e vírgula na minha vida e na de outras pessoas, infelizmente um ponto final em muitas.
Hoje escrevendo aqui algumas palavras, espero sinceramente que a pandemia não seja um ponto final na minha e na sua que teve a bela criatividade de criar esse ‘memorial’. Que os anos passem e que tenhamos a chance de ler isso lá na frente…

E o que pretende esquecer?

Não pretendo esquecer, não acho que seja necessário, afinal até o momento preciso ser grata, é lembrando que dou valor ao que tenho, que agradeço por não ter sido ainda contaminada. Talvez muitos pretendam esquecer, e claro, eles têm seus motivos.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Minha relação familiar se tornou mais intensa, no começo evitava até de entrar dentro da casa dos meus pais. A filha que ia na porta, mas que lá dentro não botava os pés. Mas o destino me pregou uma peça, um pé quebrado, um gesso até o joelho, recomendação médica de não pisar por seis semanas. Recurso? Mãe! Mãe e família, foram eles que estiveram nos dias de semana enquanto o marido trabalhava ao meu lado. Todo aquele medo precisou ser substituído, a dor que eu sentia estava forte e não conseguia me virar sozinha, fazer coisas que antes eram tão simples e precisei deles ao meu lado. Por sorte, até então a nossa cidade não estava com muitos casos.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Rotina? Nem sei se saberei novamente seguir uma…
O que mais fui afetada nessa pandemia foi na rotina. Planos tive vários, acordar tal horário, ler tantas páginas do livro, estudar isso e aquilo, trabalhar remotamente, almoçar tal hora, assistir esse filme, aquela série x , etc.
A realidade foi outra, me perdi totalmente, e quer saber? Como é bom se perder em si mesma às vezes né? Como é bom não ter compromisso com nada pelo menos por um tempo.
Sim, o vazio chega, aqui ele já chegou, porém não posso mentir e esconder a parte boa, foi ótimo ir dormir a hora que eu quisesse, acordar a hora que eu quisesse. Ser e fazer o que eu queremos, mesmo que o que se queira seja NADA. Ter tido tempo para não fazer nada, não produzir nada foi muito bom, não posso negar. Claro, já cansei, mas foi importante!

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Empatia, Gratidão, Ansiedade, Medo, Esperança

 

Mara Helena Lopes Ferreira, Preta, Discente do Curso de História da Universidade Federal de Alfenas, 23 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Vou me recordar, infelizmente, da desastrosa passagem do governo Bolsonarista 2018-2022. Não só pela completa falta de governabilidade, ou empatia, até mesmo Fascismo em ascensão. Mas também, pela displicência em deixar o povo a mercê do vírus, não importando com as medidas de segurança recomendas pela OMS, ademais, insinuando que o coronavírus não passava de uma ” gripezinha”. Incentivando a flexibilização do comércio em nome da economia.

E o que pretende esquecer?

Acredito que nada, falando enquanto uma futura historiadora em formação, acredito que seja demasiado importante que estejamos atentos a todos os detalhes das narrativas históricas, e também o cenário.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

saudade é a palavra; saudade dos amigos, da faculdade e até mesmo do trabalho. Nunca se percebeu tanto, como nesta pandemia, como o afeto, aproximação, uma boa conversa, uma cerveja gelada em um barzinho faz falta. Em relação aos animais, a quarentena realmente despertou outros sentidos para a vida, eu por exemplo, devido estar tão atarefada e preocupada com a limpeza diária da casa, nunca pensei em ter bichinhos. Entretanto, devido a carência, e também um amor que floresceu, adotei logo um gato, um cachorro. Núbia e Capitu, meus amores! Os consumos continuam os mesmos, claro com um diferencial por conta do distanciamento social.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Eu voltei com um interesse ávido pela leitura, e por novas formas de conhecimento. Sou uma pessoa habita da madrugada. Então, estudo, leio ( inclusive estou lendo George Orwell 1984). E está sendo cirúrgico, e também assustador para este momento que estamos vivendo.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Espiritualizada, Consciente, frustrada, Ansiosa, com expectativas