Diário Virtual – Relatos

DIA 01 DE JULHO DE 2020 – QUARTA-FEIRA

 

Gustavo, natural de São Paulo/SP, branco, masculino, 33 anos, professor da rede estadual de ensino.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Vou me lembrar que foi um momento no qual as pessoas olharam pra si mesmas, e que isso as deixou desesperadas. Vou me lembrar que fomos obrigados a nos aturar, e que sobrevivemos. Vou me lembrar de porres homéricos, pois cabeça vazia é a oficina do diabo, dizem, e em muito momentos o tédio imperava. Vou me lembrar de sementes que não germinaram. Vou me lembrar de todos os excessos. Mas acima de tudo, espero conseguir me lembrar, estar aqui pra me lembrar, visto que o número de casos aumenta.

E o que pretende esquecer?

Não pretendo me esquecer de nada. Se me esquecesse, não tiraria nada da experiência, seja boa ou ruim.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Eu me tornei mais seletivo em relação as pessoas com quem convivo, ou pelo menos penso que me tornei. Fora isso, não me relaciono com animais, a não ser as pessoas mesmo. Acredito que eu tenha aproveitado alguns espaços da minha casa, que antes eu não havia feito. Também passei a consumir mais álcool.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Não existe uma rotina na pandemia, ainda que eu fique dentro de casa. Há uma total desordem na rotina, nos horários. Você dorme na hora de acordar, acorda na hora de dormir. Almoça na janta, janta no almoço. Isso se tiver ânimo de cozinhar, caso contrário você acaba comendo qualquer bobagem, ou nem comendo.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Tédio, ansiedade, tristeza, euforia e raiva.

 

 

Mário Tavares , natural de Poço Fundo, Branco, Masculino, 31 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

A necessidade de distanciar das pessoas, uma vez que sempre reclamamos de quanto a vida era corrida e acabava nós ” impedindo” de estar com as pessoas que amávamos, hoje temos tempo mas não podemos utilizá-lo para estar próximo das pessoas que gostamos.

E o que pretende esquecer?

Ainda é muito cedo para definir tudo que gostaríamos de esquecer, mas uma coisa que com certeza é a tensão em que as pessoas estão vivendo, acordando e dormindo com medo de que possa ser o próximo infectado…

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

As relações estão sendo mais dentro do grupo familiar, e acabou nós afastando das demais pessoas

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Maioria do tempo em casa, saídas aleatória para compras e necessidades básicas…

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Aflição, Medo, Incerteza, esperança e Fé

 

 

Giovana , natural de Alfenas, branca, feminina, 43 anos, enfermeira,

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Sobre doença grave, nada de corona

E o que pretende esquecer?

O medo de estar doente

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Stress, convivência exacerbada

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Minha rotina não mudou quanto a trabalho, em casa mais convívio com filhos

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Aprendizado, solidariedade, apoio, medo e incerteza

 

Angélica Cristina de Ávila Silva, natural de São Paulo SP, Branca, Feminino, 30 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Da ausência de representatividade política e humanística do presidente da República

E o que pretende esquecer?

Pretendo preservar o máximo de memória possível, de forma que no futuro os fatos não sejam distorcidos ou minimizados e eu possa compartilhar minhas experiências com as crianças ou jovens que não se recordarão do atual momento.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Continuo trabalhando normalmente e convivendo com os familiares mais próximos. Contudo, em relação ao lazer, como viagens e passeios na cidade, tiveram que ser interrompidos.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Não houve grandes alterações na rotina. Sou motorista de app, e sempre optei por trabalhar na parte da tarde e a noite. Como o movimento caiu no período noturno, alterei os horários de trabalho e começo do início da manhã e paro no final da tarde, de forma a compensar a queda do movimento a noite. Após o trabalho, retomei as atividades físicas e caminho em bairros isolados e com menos presença de pessoas.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Mortes, Crise, Pobreza, Doença , Desigualdade.

Matheus , Negro, Masculino, 27 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

De todo o caos que foi revelado durante ela, socialmente falando.

E o que pretende esquecer?

Acho que nada, sempre bom lembrar desses momentos pra aprender com eles

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Acho que a mudança foi mais na desaceleração do tempo.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Rotina é algo que não existe na quarentena. Principalmente quando ficar dentro de casa é a única opção. Acho que planejar é bom mas um pouco de aleatoriedade ajuda a não surtar tanto

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Tédio, surto, calma, paz, caos

Anônima, natural de Alfenas/MG, Branca, Feminino, 32 anos, professora.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Me lembrarei em primeiro lugar, de todas as mortes, sempre. Não são só números. São seres humanos. Portanto, as milhares e milhões de mortes são o que mais me lembrarei….
Em segundo, lembrarei do quanto a gente reclamava da nossa rotina, que tornou-se monótona, cansativa e percebemos como aquilo tudo faz falta! Chegar em casa acabada de cansaço é o que eu mais queria.
Lembrarei, por fim, de todo medo e insegurança que passamos, foram e ainda estão sendo dias muito difíceis… São muitas as incertezas.

E o que pretende esquecer?

Pretendo esquecer toda angústia, tristeza, sofrimento, aflição, ansiedade e pensamentos negativos que a pandemia nos proporcionou.
A saúde mental foi 100% afetada.
O medo de morrer ou de perder pessoas que eu amo pra essa doença terrível é o que eu mais pretendo esquecer.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Absolutamente tudo! Sou uma pessoa que sempre viveu e gostou de viver cercada de outras pessoas. Tenho vários e diferentes grupos de amigos e eu amo isso. Não os vejo a meses e há exatos 4 meses eu não sei o que é frequentar qualquer lugar que não seja a minha casa ou a casa dos meus pais (raramente) ou sogra.
Sou professora e sinto falta dos meus alunos, da movimentação do ambiente escolar, sinto falta de poder sair livremente e sem medo… Saudade das pessoas, das coisas tão simples que nunca imaginaríamos que seríamos impedidos de fazer.
Enfim, as relações com as pessoas próximas estão restritas entre família e muito raramente.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Como dito acima, sou professora. Algo inusitado aconteceu com a nossa classe! Pela primeira vez na vida, as pessoas passaram a dar valor às professoras e professores. Sabe por que? Porque estamos na era das aulas online… É isso mesmo!
Tudo pelo computador. Os meus alunos são grandinhos e estão no 5° ano, a gente se encontra todos os Santos dias em um aplicativo chamado Zoom e temos aula das 13:30 as 17:30.
Faço questão de dizer a eles constantemente o quão privilegiados eles são, por estudarem em uma escola particular e ter a oportunidade de estar tendo aula (e aí entra a tal valorização que citei acima, os pais estão ficando loucos para ajudar os filhos em casa com as atividades escolares!!!).
A minha rotina é: realizar meus afazeres domésticos na parte da manhã, juntamente com planejamentos escolares, dar aula na parte da tarde toda e a noite, corrijo provas, assisto tb é descanso. Tudo sempre dentro de casa. Uma rotina desgastante e enjoativa, muito distante do que eu sempre fui acostumada.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Histórico, Medo, Incerteza, Insegurança, Saudade

Vanessa, branca, feminino, 31 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Vou recordar da saudade dos meus pais, do apoio do meu esposo, da saudade que a minha filha tinha da escolinha. Vou me recordar dos trabalho que tentei desenvolver envolvendo mães cientistas, dos textos que li de cada mãe e do livro que vamos publicar.
Vou me recordar do descaso político, da desigualdade, do racismo e do preconceito. Vou me recordar que vidas negras importam, que o fascismo deve ser derrotado e que a História condena. Vou me recordar das mortes e do descaso humano.

E o que pretende esquecer?

Não pretendo esquecer nada, mas sei que sou limitada biologicamente e esquecerei. É preciso lembrar para não esquecer.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Fique mais próxima e mais distante da minha família. Mais próxima, pois o seu valor aumentou potencialmente. Mais distante, pois o trabalho remoto me exauri por completo.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Acordo todos os dias antes das 6 horas, dou aulas online, preparo slides o dia todo, quase não tenho tempo para a família. Meu esposo cuida da casa e da nossa filha. Se não fosse isso, seria impossível.
Olho os grupo s de mães que administro, mamães na pós-graduação e a pagina mães na universidade. Olho o grupo do Coletivo Nacional de Mães na universidade faço a moderação. E também entro no NIEM.
Tento lives, tento ler, tendo brincar com a minha ilha, tento ser esposa, tento ser cientistas, tendo dormir e tento viver. Se tudo isso vai dar certo? Só o futuro dirá.
Ainda, entro no e-mail do mães cientistas para baixar os textos do livro que estamos organizando e fazer a seleção em conjunto com a profs. Ana  e com a Camila Cidade. Sei que estou produzindo fonte histórica e acho que sei um pouco da importância de tudo isso para o futuro. A dimensão total, nunca saberei.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

cansaço, saudade, medo, família, maternidade.

Luciano, natural de Machado, Branco, Masculino, 45 anos.

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

De que não estamos prontos para encarar as adversidades, mas que somos dotados de uma capacidade de adaptação ao novo, quando de fato vislumbramos um horizonte de incertezas descobrimos que somos capazes de superar e enfrentar as adversidades…

E o que pretende esquecer?

As pessoas as quais pagaram com a vida e o sofrimento para que os outros pudessem evoluir um pouco, se tornando mais tolerantes e altruístas.

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Graças a Deus no que se refere em relações a pessoas próximas tudo continuou do mesmo modo, o que ocorreu foi que os momentos de convivência se tornaram maiores, inclusive com os animais de estimação. O que ocorreu de ruim ao meu ponto de vista foi que me tornei mais digamos viciados nos meios de comunicação e redes sociais, pelo motivo de estar recluso socialmente.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Durante o primeiro mês saia de casa apenas pra ir ao supermercado, nem caminhada fazia, e ficava muito dependente da tv, dormindo tarde e acordando ainda mais tarde e indisposto o dia todo. Depois que a academia abriu pude frequentá-la e voltando a minha rotina, apenas a rotina do trabalho que ainda não pude retornar, pois trabalho na educação pública,

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Esperança, fé, altruísmo, introspecção e angustia.

Claudia, parda, Feminino, 37 anos

Do que você vai se lembrar sobre a pandemia do coronavírus?

Das rupturas e isolamento social

E o que pretende esquecer?

Dos surtos de tristeza e incerteza…

O que mudou na sua relação com as pessoas próximas – grupos afetivos e meios em que vive – como a relação com os animais, formas de habitação, meios de consumo – durante a pandemia?

Estou mais próxima dos meus filhos, mais assertiva, com menos vontade de sair.

Conte-nos sobre sua rotina durante a pandemia (esse espaço é reservado para qualquer comentário que queira deixar registrado).

Trabalho e faxina durante todo o período em que estou acordada.

Escreva 5 palavras que definem esse momento para você.

Desespero, incerteza, união, esperança e coragem.