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Pesquisa do mestrado em Gestão Pública e Sociedade resgata a memória organizacional da Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais de Varginha

Estudo percorre a trajetória de gestões, políticas públicas e modelos de administração do órgão sob o olhar dos servidores

Uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública e Sociedade (PPGPS) da UNIFAL-MG mergulhou nas memórias da Superintendência Regional de Ensino (SER), de Varginha, para compreender não apenas a história da instituição, mas também como seus servidores vivenciaram gestões, políticas públicas e modelos de administração ao longo do tempo. O resultado pode ser conferido na dissertação de Aline Rodrigues Totti, desenvolvida sob a orientação da professora visitante do programa, Margarete Panerai Araújo, e coorientação do professor Luiz Antonio Staub Mafra.

Anotação sobre o relatório de atividades apresentada por servidora entrevistada. (Imagem: Reprodução/Dissertação)

Segundo a autora da pesquisa intitulada “Memórias de uma Superintendência Regional de Ensino de Minas Gerais: entre o habitus e o capital cultural”, a motivação para esse trabalho veio da sua própria experiência como servidora do órgão. Em 2013, quando entrou para o serviço público, ela vivenciou um processo para compreender como funcionava o órgão público, até pela sua área de formação que é Ciência da Computação.

Ao longo de uma década, Aline Totti absorveu memórias compartilhadas informalmente em cafés e corredores, o que a impulsionou a investigar a história da organização e seus servidores. “Essas histórias que eram contadas e recontadas me provocaram a buscar, de maneira mais sistematizada e metodológica, essa memória organizacional”, diz.

O estudo revelou uma conexão entre eventos políticos históricos e as narrativas dos servidores, o que de acordo com a pesquisadora possibilitou conhecer versões diferentes de um mesmo fato. “Durante as entrevistas, o interessante foi justamente a conexão entre acontecimentos políticos históricos e as narrativas memoriais. Uma coisa é você fazer uma pesquisa teórica histórica sobre um acontecimento político, sobre um modelo de administração, outra coisa é você ouvir dos próprios servidores e ex-servidores como foi para eles vivenciar estes acontecimentos, como esses acontecimentos chegaram para administração pública de fato, na prática, na ponta do atendimento”, relata.

Para realizar a investigação, a pesquisadora traçou um paralelo entre uma linha do tempo histórica com os acontecimentos políticos, como importantes com as narrativas memoriais contendo as versões dos entrevistados sobre esses momentos. “Esse é um encontro interessante entre memória e história, onde memória e história são versões diferentes de um mesmo acontecimento passado”, ressalta.

Da narrativa dos próprios servidores, Aline Totti explica que foi possível analisar como se deu a implantação de determinadas políticas públicas e como elas impactaram na construção do capital cultural dos servidores e da instituição. “Essa capacidade de apreender e de se adaptar e incorporar essas sucessivas políticas públicas e gestões é o próprio habitus dos servidores se modificando conforme foram ocorrendo os ganhos em capital cultural”, esclarece.

Como a pesquisa foi realizada

A abordagem do estudo, embora não etnográfico, assemelhou-se a essa metodologia, uma vez que a autora buscou compreender o grupo de servidores e a instituição como uma sociedade com suas próprias tradições e costumes. “Foram formados dois grupos focais. O primeiro grupo focal foi de servidores aposentados deste órgão, com 10 participantes. O segundo grupo focal foi formado por seis servidores ativos que ainda atuam na instituição”, explica a pesquisadora sobre a metodologia aplicada.

Quadro destaca memórias sobre o processo de redemocratização no país e os reflexos no trabalho junto ao órgão. (Imagem: Reprodução/Dissertação)

Os membros de cada grupo foram entrevistados em junho de 2023 nas dependências da própria instituição, que cedeu o auditório para a realização da pesquisa. A autora gravou toda a dinâmica dos grupos e transcreveu, posteriormente. “As entrevistas focais foram o auge deste trabalho, um processo muito rico de interações e de emoções entre os participantes. Foi muito bonito ver os dois grupos se reunindo para construir coletivamente estas memórias”, compartilha.

Sobre o material levantado, Aline Totti comenta que a dinâmica em grupo enriqueceu o conteúdo coletado, visto que os participantes se lembraram de fatos que sozinhos em uma entrevista individual não se lembrariam, já que em grupo, a narrativa de um participante era complementada pelas narrativas de outros.

“Muitas memórias só vieram à tona em razão do grupo. Foi realmente um desafio depois de gravadas as entrevistas realizar a transcrição de modo que não se perdesse essa riqueza de interações, as pausas, as emoções, as interrupções, as complementações e até mesmo as contradições do grupo”, pontua.

Aline Totti também conta que foi outro desafio organizar o material com o volume grande narrativas. “Para essa organização do conteúdo a ideia foi seguir a mesma estrutura do roteiro de

entrevistas, para poder tentar categorizar preliminarmente as narrativas, para só depois então de fato analisá-las à luz dos teóricos escolhidos”, aponta.

Desdobramento da pesquisa

A pesquisadora conta que se avalia a possibilidade de disponibilizar o material para o público. “A ideia é procurar organizar esse trabalho no formato de livro”, revela. Conforme Aline Totti, está sendo discutida também a criação de um espaço digital para memória organizacional, junto à instituição, um espaço que não seja estático como um site institucional, mas que possa contar com a contribuição de servidores, ex-servidores e familiares.

“Foi sugerido por um dos entrevistados que fizéssemos uma entrevista com todos os ex-dirigentes, visto que todos estão vivos. Foram muitas as narrativas memoriais, de casos, que não puderam entrar para a dissertação pela limitação de objetivos, tempo e espaço”, relata.

Sobre a Superintendência Regional de Ensino (SER) – Varginha

A Superintendência Regional de Ensino (SER) de Varginha é um órgão intermediário, vinculado à Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, que tem por responsabilidade coordenar o funcionamento da rede estadual de ensino, atuar em regime de colaboração com as redes municipais de educação e agir como instância reguladora da rede particular de ensino.

As atividades ocorrem no âmbito de 28 municípios: Alfenas, Boa Esperança, Cambuquira, Campanha, Campo do Meio, Campos Gerais, Carmo da Cachoeira, Carvalhópolis, Coqueiral, Cordislândia, Elói Mendes, Fama, Guapé, Ilicínea, Lambari, Luminárias, Machado, Monsenhor Paulo, Nepomuceno, Paraguaçu, Poço Fundo, Santana da Vargem, São Bento Abade, São Gonçalo do Sapucaí, Três Corações, Três Pontas, Turvolândia e Varginha.

Para conhecer melhor a pesquisa, acesse a dissertação de Aline Rodrigues Totti, disponível na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFAL-MG, neste link.