As mudanças bruscas de temperaturas, as condições do ar e patógenos, principalmente os vírus, trazem sérios riscos para a nossa saúde respiratória, por isso, precisamos estar sempre atentos. Em entrevista especial para o Jornal UNIFAL-MG, o Dr. Evandro Monteiro de Sá Magalhães, coordenador da Liga Acadêmica de Alergologia e Imunologia (LAAI) e médico do Centro Integrado de Atenção à Saúde e Segurança no Trabalho (CIAST), falou sobre o assunto e da importância da imunização e dos cuidados. O médico, que também é membro da Comissão de Ligas Acadêmicas da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) – Biênio 2024-2025, também abordou as atividades da LAAI e gravou um podcast sobre “asma” (Ouça o podcast), uma das doenças que acomete mais de 350 milhões de pessoas no mundo. Confira:
Com a mudança das estações ocorre um aumento do risco de doenças respiratórias? E, por isso, precisamos ampliar os cuidados?
Evandro Magalhães: Nas mudanças de estações, principalmente no outono e no inverno, as alterações climáticas repentinas propiciam uma maior incidência das doenças respiratórias infecciosas, em destaque as causadas por diversos vírus. Os portadores de alergias respiratórias, como asma brônquica e rinite alérgica, também ficam mais predispostos a terem mais crises nessa época, como também os indivíduos com outras comorbidades crônicas (diabetes, DPOC, insuficiência cardíaca, etc.)
O senhor pode nos explicar as diferenças entre doença respiratória crônica e aguda?
Evandro Magalhães: As doenças crônicas são as que o indivíduo terá que conviver com as mesmas e que, felizmente, podem e devem ser bem controladas no sentido de obter uma maior longevidade e com qualidade. As doenças crônicas mais prevalentes são as denominadas pela OMS de Doenças do Estilo de Vida pois relacionam-se com fatores e agravos como o sedentarismo, obesidade, alimentação inadequada, tabagismo e álcool em excesso, estresse e ansiedade.
E quais são as principais doenças respiratórias na atualidade? E quais cuidados devemos ter para mantermos a nossa saúde respiratória?
Evandro Magalhães: As doenças respiratórias crônicas mais prevalentes são: asma e rinite alérgica, doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite crônica; enfisema pulmonar), tabagismo e câncer de pulmão. As doenças respiratórias agudas infecciosas de maior incidência nas estações frias são as que acometem as vias aéreas superiores (faringites, traqueites, rinossinusites), sendo autolimitadas e de rápida recuperação. Entretanto, podem ocorrer casos mais graves com envolvimento das vias aéreas inferiores e pulmonar, evoluindo para insuficiência respiratória aguda, necessitando de cuidados em ambiente hospitalar.
As principais medidas preventivas e que são bastante eficazes são :
1-Manter sempre atualizada a sua carteira vacinal e, nessa época do ano, destaca-se a imunização contra vírus influenza. Outras vacinas importantes são as antipneumocócicas (pneumo 23 e pneumo 15) e, mais recentemente, a antivírus respiratório sincicial;
2- Realizar atividade física regular;
3- Alimentação saudável;
4- Cuidar da saúde mental.
As doenças respiratórias agudas são causadas apenas por um tipo de patógeno? Entre os patógenos, é possível considerar um mais perigoso?
Evandro Magalhães: As doenças respiratórias agudas de origem infecciosa podem ser causadas por diferentes patógenos sendo os vírus os mais prevalentes. Na luta patógeno x hospedeiro nosso sistema imunológico, que está continuamente em alerta na maioria das vezes e com ajuda de medidas anti-infecciosas, consegue controlar totalmente o processo infeccioso. Entretanto, em situações de imunossupressão, resistência antimicrobiana e/ou grande poder agressivo do patógeno, a evolução pode ser desfavorável necessitando, por vezes, de cuidados intensivos.
A pandemia Covid-19 revelou várias fragilidades no sistema de saúde em todos os níveis, mas também gerou intensa pesquisa científica e oportunidade de aprimoramento pessoal e coletivo”
A qualidade do ar também é um fator de impacto nessa situação? Sabemos que as queimadas, até mesmo aquelas em terrenos desocupados na área urbana, são bem frequentes, principalmente, no período do inverno.
Evandro Magalhães: As alterações climáticas estão causando um impacto grave em todo o mundo, com o aumento das temperaturas, os incêndios florestais e a má qualidade do ar, levando a taxas mais elevadas de doenças respiratórias alérgicas (asma, rinite) e, também, a doenças pulmonares crônicas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica.
As crianças e os idosos são os mais prejudicados em relação à questão ambiental e às mudanças de estação? Correm mais riscos que os adultos, por exemplo?
Evandro Magalhães: Os extremos de idade estão mais predispostos a terem mais complicações infecciosas e agilização sazonais e, portanto, são considerados grupos de maior risco e que merecem maior atenção e cuidados.
A Covid-19, em casos mais graves, atinge diretamente o pulmão. Depois da Covid-19, o senhor acredita que as pessoas começaram a prestar mais atenção à saúde respiratória?
Evandro Magalhães: A pandemia Covid-19 revelou várias fragilidades no sistema de saúde em todos os níveis, mas também gerou intensa pesquisa científica e oportunidade de aprimoramento pessoal e coletivo. Entretanto, necessitamos cada vez mais difundir e nos conscientizarmos a respeito dos avanços científicos, principalmente na área de imunização coletiva.
Um informe do Engripe, da Fio Cruz, mostra um aumento dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país. O que vem a ser a SRAG? E, em relação às variadas doenças respiratórias, quais sintomas precisamos ficar atentos e entender que devemos procurar ajuda médica?
Evandro Magalhães: Alguns casos de infecção respiratória podem evoluir com agravamento dos sinais e sintomas caracterizando uma Síndrome Respiratória Aguda Grave. Os principais achados de alerta que demanda avaliação médica, tanto para a SRAG quanto para outras doenças respiratórias, são:
- Febre por mais de 3 dias ou ressurgimento da febre após período afebril;
- Dificuldade para respirar;
- Dor no tórax;
- Confusão mental ou sonolência excessiva;
- Prostração, queda do estado geral ou sinais de piora;
- Saturação de oxigênio <94%, quando o oxímetro disponível.
“Os extremos de idade estão mais predispostos a terem mais complicações infecciosas e agilização sazonais e, portanto, são considerados grupos de maior risco e que merecem maior atenção e cuidados”
Atualmente, temos casos de novas doenças respiratórias devido a circulação de novos vírus? Há casos de surtos no Brasil?
Evandro Magalhães: Existe uma vigilância mundial através da OMS, principalmente, em relação ao vírus influenza/coronavírus, entre outros. Atualmente, o vírus respiratório sincicial (VRS), bem conhecido na pediatria, vem ganhando destaque pelo seu acometimento pulmonar em pessoas acima dos 60 anos e portadores de comorbidades, principalmente, a Doença pulmonar Obstrutiva Crônica. Daí a importância e atenção à imunização nessa faixa etária. O Dia Mundial da Asma, 7 de maio, é organizado pela Global Initiative for Asthma (GINA) , uma organização colaborativa da Organização Mundial da Saúde, fundada em 1993, que tem por objetivo divulgar e proporcionar conhecimento e guia atualizado para o manejo correto da asma brônquica a nível mundial. Esse ano o tema para o Dia Mundial é “A Educação sobre a Asma Empodera”, enfatizando a importância de educar a pessoa, bem como a família, para gerir, de forma correta, a doença e capacitar os profissionais de saúde para proporcionar um manejo adequado da asma.
E em relação a Liga Acadêmica de Alergologia e Imunologia da UNIFAL-MG (LAAI-UNIFAL) quais são seus objetivos e ações?
Evandro Magalhães: A Liga Acadêmica de Alergologia e Imunologia da UNIFAL-MG (LAAI-UNIFAL), fundada em 2019, de caráter multidimensional, com participantes de várias áreas das ciências da saúde, tem como principal objetivo complementar o conhecimento teórico-prático dos alunos de graduação no que tange às áreas de alergia e imunologia, levando à sociedade ações que refletem conhecimento embasado em ciência e pesquisa. Nossa liga foi uma das escolhidas, oficialmente, pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) para compor a Comissão de Ligas Acadêmicas da Asbai. Escolhemos o tema “Asma Brônquica” como objeto de nosso estudo e atenção e, em breve, colocaremos em ação nosso projeto de capacitação da asma. Na atenção primária é proporcionado um melhor controle dessa importante doença em nosso município e região.
Informações sobre a Liga Acadêmica de Alergologia e Imunologia da UNIFAL-MG podem ser obtidas pelo e-mail: laaiunifal@gmail.com