Pesquisas desenvolvidas por professores da UNIFAL-MG contribuem para debate nacional sobre os rumos da Educação Pública e Pesquisa no país

Estudos desenvolvidos por docentes da UNIFAL-MG, do Programa de Pós-Graduação em Educação, ganham representatividade nos espaços participativos junto à Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd) nas discussões nacionais sobre os rumos da Educação Pública e Pesquisa no país.

Além do professor Frederico Augusto Toti, do Instituto de Ciências Exatas (ICEX) e atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação, que integra o Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação (FORPREd), os docentes do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), Geovania Lúcia Santos, Luís Antonio Groppo, Natalino Neves da Silva, Paulo Romualdo Hernandes e Sônia Siquelli, têm colaborado para reflexões sobre o ensino público brasileiro, sobretudo, em um contexto de ataques à educação pública e escassez de recursos e investimentos.

Educação de Jovens e Adultos

Profa. Geovania Lúcia Santos durante a apresentação da pesquisa na reunião da ANPEd realizada em outubro (Foto: arquivo pessoal Profa. Sônia Siquelli)

Na tese de doutorado, a professora Geovania desenvolveu a pesquisa “Educação Superior ainda que tardia: retornos do diploma para egressos da EJA”, na qual constata que os níveis e etapas da educação formal no Brasil não contemplam espaços para o adulto, visto que se voltam no atendimento a crianças, adolescentes e jovens. “Na educação básica esta orientação é relativizada pela garantia da oferta das etapas fundamental e média para adultos, por meio de uma modalidade específica a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Já no ensino superior, apesar de ter presença significativa na composição do público, a participação do estudante adulto fica subsumida no entendimento prevalente de este ser um tempo-espaço de formação dos e para os jovens com trajetória regular”, diz.

De acordo com a pesquisadora, quase metade dos ingressantes no ensino superior na atualidade é constituída por pessoas com idade a partir de 25 anos quando a expectativa é de que nesta idade já se tenha concluído a graduação. “Buscamos, a partir do diálogo com adultos que fizeram a formação superior tardiamente, configurar os sentidos da vivência da formação superior e os significados da experiência da diplomação tardia. Assim, visamos conhecer os retornos da titulação na e para a vida de seis adultos egressos da EJA que concluíram o ensino superior”, detalha.

Profa. Geovania levou seu estudo para debate no Grupo de Trabalho de Educação de Pessoas Jovens e Adultas na última reunião da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, realizada no final do mês de outubro, no Rio de Janeiro, sobre a temática “Educação Pública e Pesquisa: ataques, lutas e resistências”.

Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos

Da mesma forma, o Prof. Groppo contribuiu para a discussão nacional sobre Movimentos sociais, sujeitos e processos educativos, integrando o Grupo de Trabalho sobre o tema, durante a reunião da ANPEd, em que, inclusive, foi eleito como o novo coordenador do grupo para o próximo biênio (2020-2021). Na oportunidade, sua  orientada de mestrado, Isabella Silveira, apresentou a comunicação “Lute como uma menina: gênero e processos de formação na experiência das ocupações secundaristas”. Segundo o orientador, o estudo tem por objetivo aprofundar as reflexões sobre as ocupações estudantis secundaristas que se alastraram pelo país nos anos de 2015 e 2016.

“O foco investigativo e o recorte temporal escolhidos para a produção dos dados são as ocupações que ocorreram no último trimestre de 2016. A partir da apresentação do panorama político e apoiada nos conceitos de classe e experiência do historiador inglês Edward Thompson buscou-se investigar como aconteceram os processos formativos no interior das ocupações e como estas práticas permitiram a construção de um novo olhar sobre o espaço escolar, movimentos estudantis e as relações interpessoais estabelecidas no contexto desta experiência”, conta.

Conforme Prof. Groppo, considerou-se relações de gênero estabelecidas no interior das ocupações como o principal medidor dos impactos desta vivência. “Como resultados, percebeu-se que o exercício da autonomia, da autorganização e do fazer-se político foram fundamentais para que as ocupações não se limitassem ao papel de ser só uma ferramenta pragmática de luta política”, pontuou.

Experiência social e escolar de jovens negros e brancos

Lançamento do livro do Prof. Natalino Neves durante o encontro no Rio de Janeiro (Foto: arquivo pessoal Profa. Sônia Siquelli)

A obra do professor Natalino “Qual é o valor do ensino médio? experiência social e escolar de jovens negros(as) e brancos(as)”, desenvolvida a partir de um estudo de caso, também foi repercutida nacionalmente durante o encontro da Associação, contribuindo para as discussões acerca do valor atribuído ao ensino médio por jovens negros e brancos, por meio de suas experiências e expectativas sociais e escolares. “O estudo de caso parte de uma questão simples, mas profundamente envolvente, pois exigiu um mergulhar atento nas experiências de vida de uma parcela da população cujo processo de formação educacional vem sendo questionado pelas carências, incertezas e fragilidades das políticas públicas ao definir metas educacionais que correspondam às transformações pelas quais vivemos e que precisam ser, de alguma forma, formuladas tendo o seu público-alvo como interlocutores diretos”, relata.

O autor da obra afirma que a narrativa explicita as lógicas da ação as quais marcam e moldam o protagonismo dos jovens que fizeram parte da investigação, recuperando-se, praticamente, em cada capítulo, as suas posições em relação a temas que afetam as suas vidas direta e cotidianamente.

Contrarreforma do Ensino Médio

O estudo desenvolvido pelo Prof. Paulo Romualdo, intitulado “A lei 13.415 e o arranjo curricular de formação técnica e profissional”, também ganhou visibilidade entre os educadores de outras instituições de ensino brasileiras, durante as discussões  do grupo “Trabalho e Educação” da ANPEd.

Segundo o pesquisador, o estudo é resultado de uma pesquisa ampla desenvolvida  na UNIFAL-MG em torno da Contrarreforma do Ensino Médio. “A oferta do quinto arranjo curricular, formação técnica e profissional, como forma de treinamento para o trabalho, trará diversas dificuldades para que os sistemas de ensino cumpram com a razão de ser da educação escolar segundo os pressupostos da teoria histórico-crítica: transmissão e assimilação de saberes elaborados, científicos, das ciências, da arte e da filosofia, integrados a vários modos de produção”, constata o pesquisador.

Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e no âmbito da pesquisa em Educação

Profa. Sônia Siquelli durante a reunião da Comissão de Ética (Foto: arquivo pessoal Profa. Sônia Siquelli)

Outra importante colaboração para o debate nacional de Educação Pública e Pesquisa no Brasil foi feita pela professora Sônia, que participou da elaboração de um documento na Comissão de Ética em Pesquisa da ANPEd, cujo objetivo foi demonstrar a importância de discutir a Ética em Pesquisa em Ciências Humanas e no âmbito da pesquisa em Educação. No trabalho, desenvolvido em formato de verbetes, a professora descreve a respeito da “Revisão ética de projetos de pesquisa: aspectos normativos”.

Conforme Profa. Sônia, a ANPEd apoia a criação de um sistema de revisão ética próprio das Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas, movimento à criação do  volume 1 do e-book “Ética e pesquisa em educação: subsídios” com a  colaboração de diversos pesquisadores.

O verbete de sua autoria centra-se no processo de revisão ética em funcionamento no Brasil e busca evidenciar as preocupações com o referido processo. “O campo da pesquisa, da investigação científica e da produção do conhecimento em um país do sul do continente americano, marcado por um processo histórico de colonização, determinante em forjar uma sociedade desprovida do acesso ao conhecimento elaborado pela cultura científica encontrada na educação escolar, produziu não só uma população de pouco acesso aos conhecimentos científicos, mas estudiosos e pesquisadores que nem sempre levam em consideração os cuidados éticos de seu agir ao envolver seres humanos como participantes assujeitados aos objetivos de seu projeto de pesquisa”, analisa.

De acordo com a pesquisadora, ainda é possível encontrar no verbete, os passos para protocolo na  Plataforma Brasil  onde os projetos são protocolados para análise do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição ao qual o pesquisador está vinculado. “O verbete chama atenção dos pesquisadores quanto o preenchimento dos dados do projeto de pesquisa, devido a exigência minuciosa na coleta de informações quanto à proteção das pessoas/participantes da pesquisa, diante de sua vulnerabilidade frente ao pesquisador e a pesquisa.

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