Pesquisador da área de Engenharia Química da UNIFAL-MG é premiado na Unicamp por inovar o processo de separação de fármaco usado no tratamento de doenças cardiovasculares e câncer hepático

O professor Rafael Firmani Perna, pesquisador da área de Engenharia Química do Instituto de Ciência e Tecnologia da UNIFAL-MG, campus Poços de Caldas, foi um dos 306 profissionais que se destacaram na produção de novas tecnologias e receberam o Prêmio Inventores Unicamp 2021. A premiação foi conferida ao pesquisador da UNIFAL-MG na categoria “Patente Concedida”, pelo produto tecnológico desenvolvido que gerou uma patente de invenção em 2020.

Ao explicar a invenção, Prof. Rafael esclarece que a idealização da pesquisa, realizada no Laboratório de Biosseparações da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, surgiu a partir de problemas recorrentes de processos de separação e purificação de fármacos quirais, comercializados como misturas racêmicas, vivenciados por indústrias farmacêuticas da região de Campinas-SP. Segundo o pesquisador, o processo de separação e purificação do fármaco se deu por meio da tecnologia Leito Móvel Simulado (LMS) – um equipamento de origem francesa.

“Na condição de engenheiros químicos, estamos interessados em obter e otimizar os parâmetros operacionais, como temperatura, pressão, vazões de alimentação, reciclo e de saída de produtos, dimensões geométricas das colunas cromatográficas, concentração de entrada da mistura racêmica, tempo de operação, número de colunas; e os parâmetros de desempenho, como pureza, produtividade, recuperação e consumo de solvente, do processo em questão”, detalha.

Importância da inovação tecnológica para o processamento das moléculas que compõem o fármaco
(Foto: Reprodução/Internet)

De acordo com Prof. Rafael, as moléculas do fármaco verapamil (S(-)-verapamil e R-(+)-verapamil), chamadas de enantiômeros, apresentam as mesmas propriedades físico-químicas, porém, diferem nas propriedades fisiológicas. Dessa forma, enquanto um composto pode ser usado para o tratamento de doenças cardiovasculares, outro composto é usado para o tratamento de câncer hepático, no entanto, a indústria farmacêutica comercializa o fármaco como mistura, levando o paciente consumir ambos os enantiômeros sem necessidade. “Um paciente com problemas cardíacos poderia apenas consumir o fármaco contendo S-(-)-verapamil. Por que consumir, também, o enantiômero R-(+)-verapamil? Eis o desenvolvimento da tecnologia de separação e purificação que gerou a patente. Além disso, a tecnologia permite agregar valor ao produto final, visto que o processo possibilita obter as moléculas na sua forma pura”, exemplifica o pesquisador.

Para explicar como ocorre o processo de separação e purificação do fármaco pelo Leito Móvel Simulado, o pesquisador informa que na mistura, as moléculas são alimentadas nas chamadas colunas cromatográficas do equipamento. Nas colunas, as moléculas ficam distribuídas em duas fases mantendo contato íntimo: enquanto uma das fases permanece estacionária, a outra fase se move por meio dela.

“Durante a passagem da fase móvel sobre a fase estacionária, as moléculas do fármaco, presente na mistura, são distribuídas pelas duas fases (móvel e estacionária) de tal forma que cada uma dessas moléculas é seletivamente retida pela fase estacionária, o que resulta no transporte diferenciado dessas moléculas e, consequentemente, possibilita as suas separações. Portanto, as moléculas deixam as colunas cromatográficas (colunas estas que constituem o equipamento LMS) em tempo de diferentes”, explica.

A inovação tecnológica foi desenvolvida pelo professor Rafael, durante sua tese de doutorado, sob a orientação dos pesquisadores César Costapinto Santana e Marco Aurélio Cremasco, da Unicamp. O produto gerou a patente de invenção, cujo pedido de depósito, perante o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), ocorreu no ano de 2012, sendo concedida em 2020 sob o título “Processo de obtenção dos enantiômeros de verapamil em Leito Móvel Simulado convencional e não convencional”.

“Nós, engenheiros, professores e pesquisadores, estamos à disposição da sociedade e buscando, constantemente, melhorias na qualidade dos nossos produtos e serviços. A valorização da ciência e tecnologia é o caminho mais curto para se alcançar o progresso de um país”, afirma o pesquisador contemplado Rafael Firmani Perna.

“Estamos diante de uma inovação tecnológica de um processo químico integrado com a indústria e, o mais importante, desenvolvida em universidade pública. Esse prêmio, sem dúvidas, é o reconhecimento do nosso trabalho árduo dentro da academia. Nós, engenheiros, professores e pesquisadores, estamos à disposição da sociedade e buscando, constantemente, melhorias na qualidade dos nossos produtos e serviços. A valorização da ciência e tecnologia é o caminho mais curto para se alcançar o progresso de um país”, finaliza.

Vale mencionar que o gerenciamento, o marketing e a divulgação da inovação tecnológica compete à Agência de Inovação da Unicamp. 

Conforme Prof. Rafael, existe a possibilidade de parceria para utilização da unidade do Leito Móvel Simulado, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), lotado na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, para futuros trabalhos nos temas de pesquisa, desenvolvidos sob a sua coordenação junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (PPGEQ) da UNIFAL-MG. 

Prêmio Inventores Unicamp
(Foto: Divulgação)

O Prêmio Inventores Unicamp é uma iniciativa que busca reconhecer o esforço empreendido por docentes, pesquisadores, alunos e ex-alunos da universidade que contribuíram para o desenvolvimento do país – seja na busca por soluções para os desafios que se impõem no dia a dia ou aplicando a criatividade na produção da inovação em diversas áreas – com o depósito de patentes e em ações de transferência de tecnologia.

Em sua 14ª edição, o evento realizado pela Agência de Inovação da Unicamp, a Inova, premiou os inventores nas categorias: Tecnologia Licenciada, Tecnologia Absorvida pelo Mercado e Patente Concedida. A cerimônia aconteceu no dia 17/6, de forma remota e um dos inventores do produto tecnológico – Prof. Marco Aurélio Cremasco –  foi comunicado quanto à premiação.

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