“Muitas vezes, nós nos sentimos isolados e à margem, enquanto nosso trabalho deve ser colaborativo, como uma colcha de retalhos”, diz professor em homenagem ao Dia Nacional dos Profissionais da Educação; confira matéria especial

Em 22 de dezembro de 2014, entrava em vigor a Lei n° 13.054/14, que institui o dia 6 de agosto como o Dia Nacional dos Profissionais da Educação. Após sete anos, a data se fortalece em aplausos aos profissionais que, ao reinventar espaços e vivências para atuar remotamente, enfrentaram os muitos desafios impostos diante da pandemia que atingiu o mundo. Hoje, 6 de agosto de 2021, nossa matéria especial com preceptores do Residência Pedagógica e supervisores do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) de variadas áreas do saber, com participação de docentes da UNIFAL-MG, reforça a valorização de professores e professoras que lutam dia a dia em prol da educação.

Período de transformações e desafios 
“Vejo que o maior desafio para nós, professores, foi a introdução do mundo digital de forma integral no ensino”, relatou o professor Thiago Henrique dos Reis. (Foto: Arquivo Pessoal/Thiago Henrique dos Reis)

No ano de 2020, a repentina mudança para o ensino on-line impactou planejamentos e rotinas. De um dia para o outro, professores e estudantes se viram frente a uma realidade não imaginada, assim como aconteceu com o professor de Física Thiago Henrique dos Reis, preceptor do Residência Pedagógica na Escola Estadual Diretor Nélson Rodrigues, em Serrania, e a professora de Biologia Simone da Silva Lamartine Hanemann, supervisora do Pibid na Escola Estadual Prefeito Ismael Brasil Corrêa. “Nós, professores, passamos inesperadamente a utilizar ferramentas digitais, a gravar e editar vídeos, a disponibilizar nossos contatos em redes sociais, mas sem nenhum preparo prévio”, relatou a professora Simone Hanemann.

Para a professora, as mudanças educacionais mostraram a necessidade de investimentos na estrutura da educação brasileira, para alcançar todos os alunos indistintamente. “Isso possibilitaria também a adequação dos profissionais da educação em novas práticas e metodologias de ensino”, completou. (Foto: Arquivo Pessoal/Simone da Silva Lamartine Hanemann)

Ela, que gosta de trabalhar notícias atuais sobre Biologia para possibilitar mais interação entre alunos e provocar o interesse pela ciência, precisou percorrer um novo caminho com rapidez.

O tempo reduzido para o domínio das novas tecnologias também se destacou na opinião de Luís Fernando Borges Silva, professor de Geografia e supervisor do Pibid na Escola Estadual Padre José Grimminck. “Foi um grande desafio. A ansiedade diante do uso desses veículos, que passou a ser frequente, foi nítida. Nesse ponto, revelou-se mais uma vez a capacidade de resiliência da grande maioria dos profissionais da educação. Vi muitos colegas superando dificuldades e comemorando cada novo aprendizado de uma ferramenta ou aplicativo”, disse.

“A escola é muito mais do que um ambiente de estudo para os alunos, e eles, abruptamente, se viram privados desse lugar de convivência e experimentação”, salientou o Prof. Luís Fernando. (Foto: Arquivo Pessoal/Luís Fernando Borges Silva)

Para ele, outro desafio foi criar estratégias para alcançar os estudantes, os quais se viram privados do convívio escolar e, como consequência, de um local de experimentação. “Busquei utilizar ferramentas mais atrativas, gamificadas (que aplica técnicas de jogos – games – às atividades escolares). Durante os plantões, recorrentemente, abri um espaço de escuta. Nossos alunos queriam falar, por vezes, que estavam cansados e o porquê de seus desânimos, e, por outras vezes, contar como estavam motivados e situações que os haviam deixado felizes”, contou o Prof. Luís Fernando, para quem o processo de escuta significa evidenciar que a participação dos estudantes na sala de aula é tão importante quanto a explicação do professor.

O maior aprendizado para a professora Fabrícia Resende foi a capacidade de os profissionais se reinventarem e adaptarem para atender nossos alunos, mesmo com poucos recursos. (Foto: Arquivo Pessoal/Fabrícia Resende Freire)

No período de distanciamento social, o apoio de profissionais da educação também se consolidou como fundamental para a aprendizagem, conforme afirmou a professora de Matemática Fabrícia Resende Freire à Dicom. “Embora, muitas vezes, o estudante desconfie de sua capacidade de aprender um conteúdo, no caso de conteúdo de matemática, busco mostrar que, com esforço e dedicação, podemos vencer as dificuldades. Nesse momento em que o estudante pode não ter ajuda em casa para realizar as atividades, a autoconfiança e o apoio do professor são muito importantes”, contou a supervisora do Pibid na Escola Estadual Dr. Emílio Silveira. 

Além dos desafios para instigar a motivação e o interesse das turmas remotamente, figurou, em 2020, um cenário no qual a desigualdade de acesso a ferramentas tecnológicas ou espaços adequados para estudo impactou experiências. Em Minas Gerais, para as escolas públicas, estabeleceu-se o Plano de Estudo Tutorado (PET) e o aplicativo Conexão Escola, para alunos com acesso à internet, e aulas na Rede Minas, para alunos sem acesso à internet.

“A escola em que trabalho tem alunos com diferentes perfis socioeconômicos, característica que já influenciava na vida escolar, mas durante a pandemia essas disparidades muito se acentuaram. Sabe quando você tem que apertar um parafuso e não tem a chave certa e tem que apertá-lo com uma faca? Então, você consegue apertar, mas não com a mesma precisão. E quem não tem nem mesmo uma faca? Vai apertar com o quê?”, aludiu o Prof. Luís Fernando Borges.

Para além dos impactos sociais e emocionais, o ano de 2020 registrou sobrecarga de trabalho e necessidade de divisão de espaços familiares com o espaço de trabalho e das aulas. Em conjunto, essas questões reforçaram a importância da atuação colaborativa entre professores e professoras.

Trabalho colaborativo, como colcha de retalhos 
“Em meio à pandemia, nós, profissionais da educação, não paramos. Reinventamos nossos métodos, aprendemos mais sobre tecnologia, nos tornamos professores, pais, psicólogos, gamers/youtubers e monges budistas (afinal, foi exigida muita resiliência de nós)”, relatou o Prof. Eller Rafael (Foto: Arquivo Pessoal: Eller Rafael da Silva)

“Muitas vezes, nós nos sentimos isolados e à margem, enquanto na verdade nosso trabalho deve ser colaborativo, como uma colcha de retalhos”. Essas são as palavras do preceptor do Residência Pedagógica do curso de Letras/Espanhol, professor Eller Rafael da Silva, para quem se sentir parte integrante e atuante de um grupo que respeita a educação foi o maior ganho nesse período.

“A pandemia afetou a todos. Penso que vamos ter que encontrar algum caminho para tentar recuperar não somente o conteúdo, mas também o interesse dos alunos pelo conhecimento”, disse o Prof. Carlos Antônio (Foto: Arquivo Pessoal/Carlos Antônio da Silveira Júnior)

De acordo com ele, no trabalho colaborativo, o papel motivacional dos professores é peça-chave. “Mas cativar nossos alunos e fazer com que eles se envolvam com a proposta que temos exige muito planejamento, uma boa base (formação) e o ímpeto em estarmos sempre atualizados. Sempre buscamos nos diferenciar em nossas ações, em nos aproximar do nosso público; cativá-los com músicas e séries que sejam pertinentes; trazer elementos culturais que permitam compreender e respeitar a pluralidade do mundo, entre outros”, completou o professor.

Um dos caminhos para isso, de acordo com o Prof. Carlos Antônio da Silveira Júnior, supervisor do Pibid do curso de Ciências Sociais na Escola Estadual Dr. Emílio Silveira, é se aproximar das turmas. “Acho que, primeiramente, devemos nos colocar, com empatia, no lugar de nossos alunos. Segundo, é tentar apontar caminhos para que eles não desistam dos estudos, tentando mostrar que a saída se dá pela educação. A escola é viva e depende da interação de todos. Nesse cenário, precisamos apontar possíveis caminhos, depois mostrar a importância das disciplinas que ministramos”, disse o professor.

Nas práticas por ele vivenciadas, inclusive, alunos relataram não saber que a Sociologia poderia ser tão divertida. “Temos que plantar uma semente, um desejo por entender a realidade que nos cerca”, acrescentou.

Entre o presente e o futuro, as superações e os aprendizados

Conforme relataram os professores entrevistados, cada momento de 2020 pôde mobilizar novas aprendizagens em busca de interações mais atrativas, ainda que a distância. Como exemplo, destacam-se as iniciativas de criação de mídias sociais como o Facebook, para estimular a curiosidade e o entendimento da disciplina de Biologia, conforme relatou a professora Simone Hanemman, ou a postagem de conteúdos no Youtube, assim como a realização de plantões “tira-dúvidas”, de acordo com a professora Fabrícia Resende. Nesse sentido, se realça o papel do Pibid e do Residência Pedagógica na construção de novas possibilidades para as aulas.

“Diante de tudo isso, uma das coisas que a professores e professoras digo é: vá além do saber técnico adquirido nas disciplinas da graduação, busque se aprofundar nas diferentes visões pedagógicas, sempre encare uma sala de aula com a mente aberta e, principalmente, não tenha medo de mudar a metodologia quando ela não estiver funcionando”, indicou o Prof. Thiago Henrique dos Reis.

Para o futuro, com o ensino híbrido e as aulas presenciais, fica o saber de que o retorno reunirá novas realidades. “A volta ao presencial, a cada dia, se aproxima, e já é realidade em muitos cenários. Por isso, conteúdos terão que ser revistos, reexplicados, retrabalhados. Tanto tempo em modelo remoto gerou novos comportamentos nos nossos alunos, por exemplo, que não voltarão as salas de aulas como saíram”, concluiu o professor Luís Fernando.

Frente a um novo futuro, novos desafios e novas transformações, nossa matéria especial em homenagem ao Dia dos Profissionais da Educação, ao se construir a partir de falares e experiências de professores e professoras da Educação Básica, reforça a importância da educação a todos e todas.

Confira, abaixo, a participação especial de docentes da UNIFAL-MG sobre os desafios dos profissionais da educação durante a pandemia, com reflexões a partir desse período, e sobre formas possíveis de motivação a estudantes da Educação Básica: