“Há mais de 200 anos vacinas salvam vidas. A vacina é a oportunidade de vida durante a pandemia. Vacinem seus filhos”, ressalta pediatra e professora da Faculdade de Medicina da UNIFAL-MG

Em janeiro de 2022, o Ministério da Saúde anunciou a vacinação contra covid-19 em crianças de 5 a 11 anos. Desde então, informações e dúvidas começaram a circular pelas redes sociais e pela imprensa. Para esclarecer o assunto, a Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG conversou com a pediatra e professora Marina Bernardes Lourenço, da Faculdade de Medicina. Na entrevista, a especialista fala sobre a importância da vacinação para preservação da vida, ação das vacinas e intervalo de doses, bem como salienta recomendações para os pais que têm dúvidas sobre vacinar ou não os filhos. Confira:

Sabemos muito bem da importância da vacinação infantil e, em se tratando da covid-19, vacinar as crianças é uma questão de preservação da vida?

Sem dúvida! Sete dias após a segunda dose da vacina, a eficácia estimada é de 90% contra casos graves e mortes. Apesar de geralmente terem quadros mais leves do que os adultos, as crianças podem adoecer e morrer, bem como apresentar sequelas após quadros mais graves, como a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica. Além da proteção individual, imunologistas defendem que a circulação do vírus só irá diminuir quando a maioria da população estiver vacinada. Em Minas Gerais, crianças entre 5 e 11 anos representam 9,02% da população total. No Brasil, são quase 20,5 milhões de crianças dentro dessa faixa etária.  Quanto mais pessoas protegidas, há menos risco de que novas variantes surjam. Isso porque pessoas sem proteção alguma dão espaço para o vírus se replicar em grandes quantidades. Vacinando as crianças, além de protegê-las, é possível frear o avanço da doença.

A ação da vacina contra a covid-19 no organismo das crianças é a mesma dos adultos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Os pais ficam apreensivos em relação à saúde de seus filhos, mas também existem algumas resistências em relação à vacinação, principalmente pelo grande volume de informações e percepções equivocadas sobre o tema. Na sua experiência como pediatra, é uma minoria que ainda pensa assim? Ou não?

Infelizmente, são muitos os pais que ainda têm receio em relação à vacina e não decidiram sobre vacinar ou não seus filhos. Houve grande repercussão nas mídias sobre o caso da criança de 10 anos que apresentou parada cardiorrespiratória 12 horas após a vacinação contra covid-19, em Lençóis Paulista-SP. Não observei repercussão na mesma proporção sobre o esclarecimento do caso. A criança é portadora de uma síndrome chamada Wolff Parkinson White, que pode levar à arritmia e parada cardiorrespiratória. O que aconteceu foi resultado desta condição, não tendo relação nenhuma com a vacina, como já comprovado.

A ação da vacina no organismo da criança é a mesma no organismo do individuo adulto?

Sim! Estudos compararam a produção de anticorpos neutralizantes após a segunda dose da vacina, entre crianças de 5 a 11 anos de idade e adolescentes e adultos de 16 a 25 anos de idade, não havendo diferença entre eles.

Estudos compararam a produção de anticorpos neutralizantes após a segunda dose da vacina, entre crianças de 5 a 11 anos de idade e adolescentes e adultos de 16 a 25 anos de idade, não havendo diferença entre eles.

A ocorrência de uma possível reação adversa é um motivo justificado para não vacinar as crianças?

Não. Estudo entregue à ANVISA, realizado pela empresa Pfizer, com aproximadamente 1500 crianças vacinadas, entre 5-11 anos, não identificou eventos adversos graves. Corroborando com este estudo, das mais de cinco milhões de doses aplicadas desta vacina nos Estados Unidos da América, nesta faixa etária, apenas 4249 apresentaram efeitos adversos, sendo que apenas 100 crianças tiveram necessidade de internação. Em relação ao tão temido desenvolvimento de miocardite após a vacina, estudos mostram que é mais raro e geralmente menos grave do que as complicações cardíacas associadas à própria covid-19.

Inicialmente, a vacinação infantil seria apenas com a vacina da Pzifer e, agora, em alguns locais, será com a Coronavac. Essa mudança influencia em algo? É uma forma de ampliar a vacinação?

A vacina da Pfizer é importada e a Coronavac, de fabricação nacional. Após a eficácia e segurança terem sido demonstradas em ensaios clínicos em crianças, ela foi incluída sim, com o propósito de ampliar o acesso à vacinação. Há uma maior disponibilidade de doses. Entretanto, não é indicada para imunossuprimidos nem para crianças abaixo de seis anos.

Uma criança que tomou outra vacina recentemente pode ser vacinada contra a covid-19?

Sim. Desde setembro de 2021, o Programa Nacional de Imunizações publicou nota técnica informando que não é mais necessário aguardar intervalo entre a vacina contra covid-19 e outras vacinas, como era feito até então.

Ser pediatra significa promover o bem-estar. É cuidar para que o bebê chegue à fase adulta com saúde”, destaca Marina Bernardes. (Foto: Arquivo Pessoal)

O intervalo da primeira para a segunda dose tem sido maior do que o recomendado pelos fabricantes. Isso traz algum prejuízo para a imunização das crianças?

A bula da vacina Comirnaty®️, produzida pela farmacêutica Pfizer, orienta um intervalo de 21 dias entre a primeira e segunda dose. Os estudos sobre a eficácia da vacina incluíram participantes que tinham recebido a segunda dose no prazo de 19 a 42 dias após a primeira administração, intervalo este muito menor do que o de oito semanas adotado pelo governo.

À imprensa, o Ministério da Saúde elencou duas motivações para o maior espaçamento entre as doses: uma maior eficácia na produção de anticorpos neutralizantes e a redução de riscos de efeitos adversos, contudo não há pesquisas científicas que subsidiam essa decisão.

Acredita-se que esta decisão está condicionada à disponibilidade das vacinas. Vacina-se com a primeira dose um maior número de pessoas e, conforme a disponibilidade da vacina for aumentando, há um encurtamento no intervalo para aplicação da segunda dose. Isso foi observado no início da vacinação dos adultos com as vacinas da Pfizer e Astrazeneca.

Os prejuízos só poderão ser observados no decorrer do tempo.

Como pediatra e como mãe, qual a sua recomendação aos pais que ainda têm dúvidas sobre vacinar ou não vacinar os filhos?

Ser pediatra significa promover o bem-estar. É cuidar para que o bebê chegue à fase adulta com saúde. Há mais de 200 anos vacinas salvam vidas. A vacina é a oportunidade de vida durante a pandemia. Vacinem seus filhos. Vacinarei o meu assim que ele estiver no grupo contemplado.