Consumidores relacionam café com lembranças e emoções positivas, segundo estudo da Universidade

Conheça esta pesquisa e também um estudo sobre a produção cafeeira de um grupo de mulheres de Poço Fundo-MG

O café é uma bebida apreciada em todo o mundo, conhecida pelo seu aroma e sabor inconfundíveis. Seja de textura leve ou mais acentuada, a bebida pode ser preparada de diversas maneiras. Não é à toa que um estudo realizado pela plataforma Cupom Válido, com dados da Organização Internacional do Café e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontou o café como a segunda bebida mais consumida no Brasil, ficando atrás apenas da água. Neste dia 14 de abril, comemora-se o Dia Mundial do Café e para celebrar a data, vamos conhecer dois projetos de pesquisa desenvolvidos na UNIFAL-MG sobre essa marcante bebida.

A acadêmica Daiana Barbosa Mequelino concluiu o mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Estatística Aplicada e Biometria (PPGEAB) em 2021, com a dissertação sobre o tema “Emoções e lembranças associadas ao consumo de café em ambientes evocados via internet”. O trabalho, orientado pelos professores Eric Batista Ferreira (Instituto de Ciências Exatas) e Flávia Della Lucia (Faculdade de Nutrição), teve como proposta comparar a aceitabilidade do café bebido em ambientes evocados via internet, como cafeteria, cozinha de casa, laboratório de análise sensorial, padaria, degustações livres em supermercado e ambiente de trabalho.

Outro trabalho sobre o café foi desenvolvido pela discente Maria Izabelle Pereira, que estudou as características do café feminino para o trabalho de conclusão no curso de Matemática, repercutindo em publicações como o artigo “Café feminino: mulheres organizadas buscando igualdade no Sul de Minas”. A pesquisa, também orientada pelo professor Eric Ferreira, abordou a trajetória de fortalecimento do grupo Mulheres Organizadas Buscando Igualdade, o MOBI, ligado à Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (CoopFam).

Consumidores tendem a associar o consumo do café em ambientes evocados via internet a lembranças e emoções boas

Para desenvolver a pesquisa “Emoções e lembranças associadas ao consumo de café em ambientes evocados via internet”, a acadêmica Daiana Mequelino criou vídeos contendo imagens dos ambientes e seus sons típicos. “Esses vídeos foram armazenados no YouTube e enviados aos participantes voluntários da pesquisa por meio de um questionário eletrônico”, relata o orientador do trabalho.

Acadêmica Daiana Mequelino – autora da pesquisa sobre lembranças associadas ao consumo de café. (Foto: Arquivo Pessoal)

O participante deveria assistir ao vídeo daquele ambiente, usando fones para ouvir o som típico e se imaginar tomando café naquele local. “Após essa experiência, eram feitas perguntas sobre o que ele sentiu e do que se lembrou, além do prazer que teve ao tomar café (virtualmente) naquele local”, diz.

Conforme o professor Eric Ferreira, o que motivou a realização da pesquisa com essa metodologia foi a restrição causada pela pandemia da covid-19. “Os consumidores não eram mais encontrados nos pontos de venda, locais de consumo, nem poderiam ser convidados a comparecer ao laboratório de análise sensorial. Dessa forma, tivemos a ideia de trabalhar com ambientes evocados via internet, ou seja, por meio da transmissão de sons e imagens, levar o consumidor a imaginar que está em determinado ambiente”, conta.

Sobre os resultados, o professor afirma que, em geral, os consumidores tendem a associar o consumo do café em ambientes evocados via internet, a lembranças e emoções boas. “Isso indica que as motivações para o seu consumo refletem o significado social satisfatório da bebida tanto no âmbito doméstico, como a cozinha, ilustrando um ambiente feliz e familiar, quanto para as cafeterias, que foram caracterizadas como um ambiente de emoções agradáveis e lembranças de conversas e amigos”, revela.

Prof. Eric Batista Ferreira (Instituto de Ciências Exatas) e Profa. Flávia Della Lucia (Faculdade de Nutrição) – orientadores do trabalho. (Fotos: Arquivo Pessoal)

“Com exceção do laboratório e do supermercados, os ambientes evocados mostraram estar fortemente associados aos hábitos e costumes da sociedade brasileira”, acrescenta. O estudo mostrou que o consumo de café está relacionado à lembrança de abraços, dos amigos, da avó, de casa, das comemorações, de compras, de conversas, dos estudos, dos pais, bem como de simplicidade, de sofisticação e de trabalho.

Foram listadas também emoções evocadas pelo café, tais como as sensações: acordado, agradável, animado, atento, ativo, aquecido, bem-estar, bom humor, concentrado, confortável, descontraído, disposto, energizado, esperto, estimulado, feliz, livre, pensativo, prazer, preocupado, relaxado, revigorado, saciado, satisfeito, saudade, saudável, sociável e tranquilo.

A pesquisa envolveu, voluntariamente, um total de 383 participantes, todos com idade que varia entre 18 e 67 anos e que afirmavam ser consumidores de café. As variáveis sociodemográficas indicam que 61,4% dos respondentes são do sexo feminino e 38,6% do sexo masculino.

Para conhecer mais detalhes da pesquisa, acesse neste link o trabalho da acadêmica.

Produção de café leva mulheres a se organizarem na busca pelo empoderamento feminino na agricultura 

Motivações pessoais levaram a acadêmica Maria Izabelle Pereira, hoje mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estatística Aplicada e Biometria (PPGEAB), a realizar o estudo “Café feminino: mulheres organizadas buscando igualdade no Sul de Minas”.

Para retratar a expressiva participação das mulheres na produção cafeeira e as dificuldades que elas enfrentam para assegurar um lugar na tomada de decisões nas cooperativas, associações e até mesmo dentro de suas casas, a autora concentrou seu trabalho em conhecer e apresentar o Grupo Mulheres Organizadas Buscando Igualdade (MOBI).

Vinculado à Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam), o grupo é formado por mulheres produtoras de café orgânico feminino e café sustentável feminino na cidade de Poço Fundo-MG e região, que buscam mudar esta realidade.

Acadêmica Maria Izabelle Pereira – autora do estudo sobre o grupo MOBI. (Foto: Arquivo Pessoal)

“No início meu interesse nesse tema se deveu à minha proximidade pessoal com o grupo. Eu sou de Poço Fundo e minha mãe faz parte do grupo MOBI. Depois, descobrimos que a literatura científica é carente sobre a produção de café feminino, e havia a necessidade de se registrar o marco histórico desse grupo específico, para que servisse de exemplo e inspiração para outras mulheres em outras regiões do Brasil e do mundo”, relata.

Maria Izabelle Pereira mostra no estudo a organização do grupo, que por meio do trabalho de cooperação consegue produzir e comercializar o próprio café e, ainda, garantir e a autonomia financeira às participantes. As integrantes também participam de cursos e eventos, os quais possibilitam o desenvolvimento de valores que propiciam o empoderamento feminino na agricultura.

Entre as iniciativas do grupo MOBI, a acadêmica elencou o Festival Gastronômico do Café Fair Traid de Poço Fundo, realizado em 2018, onde houve um concurso culinário apenas com pratos elaborados com café e o projeto HortMOBI. “No projeto HortMOBI, as mulheres do grupo eram incentivadas a manterem hortas orgânicas para produzirem suas próprias verduras e legumes, sendo assim autossustentáveis”, conta.

Grupo MOBI – Mulheres Organizadas Buscando Igualdade de Poço Fundo e região. (Foto: Arquivo/Maria Izabelle Pereira)

Para realizar a pesquisa, a discente entrevistou cooperados e colaboradores da Coopfam, bem como as participantes do grupo MOBI. Devido à pandemia da covid-19, as entrevistas ocorreram via Google Meet. “As perguntas norteadoras das entrevistas foram específicas para cada participante, mas ambas com o objetivo de compreender como ocorreu a fundação da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e região, e como acontece o funcionamento da cooperativa em termos de produção, certificação e comercialização, bem como compreender a necessidade do surgimento do grupo MOBI e sua organização”, explica o orientador.

Festival Gastronômico do Café Fair Traid de Poço Fundo, realizado em 2018. (Foto: Arquivo/Maria Izabelle Pereira)

Ao comentar a contribuição do estudo e do trabalho empreendido pelas mulheres do grupo MOBI, o orientador destacou: “O trabalho contribuiu para a visibilidade de mulheres na agricultura que se organizaram em busca de voz e autonomia nas decisões dentro de suas propriedades e cooperativa. Tais mulheres possuem papel fundamental para o progresso da agricultura e produção de cafés em Poço Fundo e região, uma vez que mostram que sempre estiveram presentes na agricultura familiar, porém sem o devido reconhecimento.”

O artigo sobre o trabalho foi publicado em uma revista da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pode ser acessado neste link.

Vale destacar que o grupo MOBI foi incubado pelo programa de extensão Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da UNIFAL-MG, cujo objetivo principal é contribuir com a formação e a consolidação de empreendimentos econômicos solidários. Saiba mais