Em homenagem ao nascimento do escritor Monteiro Lobato, comemora-se em 18 de abril o Dia Nacional do Livro Infantil. Na UNIFAL-MG, livro para crianças também é tema de produção acadêmica. Um projeto de extensão voltado para o estudo de novas mídias na elaboração e comunicação do conhecimento histórico gerou como produto o e-book “Como tudo começou? — Narrativas sobre a origem da vida”.
Idealizado por Luiz Antonio Sabeh, professor do curso de História, o livro foi escrito a muitas mãos, envolvendo um grupo de sete discentes dos cursos de História e de Letras, participantes do projeto.
“Em Como tudo começou? abordamos as teorias sobre a origem da vida formuladas por diversas sociedades em diferentes períodos da história”, conta o professor. Segundo Luiz Sabeh, o intuito foi demonstrar que não existem apenas as narrativas formuladas por nossa sociedade para se explicar a origem da vida.
Para desenvolver as narrativas, a equipe se debruçou na leitura de obras como “A gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo”, livro codificado por Allan Kardec, “A mitologia umbandista”, artigo de Antonio Talora Delgado Sobrinho, “A origem das espécies” (edição ilustrada), livro de Charles Darwin”, “Big Bang”, livro de Simon Singh, entre outros.
“O resultado foi um material que valoriza os saberes formulados por outros povos e que estimula as crianças a formularem percepções sobre o mundo sem as amarras etnocêntricas que são tão perniciosas no processo de formação humana”, relata o professor.
Narrativas sobre a origem da vida
Em texto acessível e ilustrações em aquarela, assinadas pelas acadêmicas do curso de Letras, Anna Lívia Balbino Carvalho Braga e Luana Bruno da Silva Bellini Ramos, o livro explora a sensibilidade ao apresentar a personagem Maria Firmina, uma menina inteligente e curiosa, que por meio de diálogos com o avô Joaquim, mergulha cada vez mais fundo em questionamentos intrigantes sobre a origem da vida.
O personagem do avô, usa de sua abrangente sabedoria para, didaticamente, esclarecer as dúvidas da neta, apresentando teorias científicas, como a da Big Bang e a do Evolucionismo, bem como as concepções religiosas sobre a existência, passando por crenças de judeus, cristãos, muçulmanos, hindus, candomblecistas, povos indígenas e outras.
A obra, elaborada pelos estudantes Anderson Vilela Oliveira Dias, Anna Lívia Balbino Carvalho Braga, Augusto César Silva de Oliveira, Fabrício de Oliveira Ferreira, Guilherme Talles Júlio dos Santos de Carvalho, Luana Bruno da Silva Bellini Ramos e Maria Emília Moura Saldanha, foi publicada em 2021.
“Sinto-me extremamente grata por contribuir, pintar e fazer parte de uma trajetória tão bonita e educativa como a de Maria Firmina e do vovô Joaquim”, compartilha Luana Bellini, estudante do curso de Letras e uma das ilustradoras da obra. “Com certeza, fazer parte da equipe ‘Novas Mídias’ mudou minha graduação e minha forma de ver e agir no ambiente acadêmico”, afirma.
Na visão da acadêmica, a experiência de participar do projeto possibilitou ainda entender a importância da extensão universitária e da contribuição de projetos como esse, que abrem um espaço para que os discentes possam expressar suas vozes e anseios.
“Foi nesse projeto que percebi, efetivamente, como a produção acadêmica podia ser feita em conjunto. Em nosso primeiro ‘livrinho’, conseguimos produzir, juntos, uma narrativa que, além de respeitar e valorizar visões culturais distintas, comunica, de forma acessível e sensível, um conhecimento que, muitas vezes, é negligenciado no ensino básico”, compartilha.
Uso das Tecnologias da Informação e Comunicação no ensino
O ponto de partida para a produção do livro foi a guerra ideológica travada com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O professor Luiz Sabeh comenta que em 2017, foram apresentados projetos conservadores de sociedade e de política no Brasil pelos meios de comunicação de massa e com recursos de oratória emprestados dos regimes autoritários.
“Uma das estratégias mais marcantes foi a disseminação de conhecimento histórico produzido por diletantes que, para se legitimar, entre outras coisas se apoiava em um discurso voltado a desvalorizar o conhecimento histórico produzido no ambiente universitário por profissionais do campo”, contextualiza o professor.
A situação motivou o grupo a trabalhar na educação de base e o livro infantil pareceu a melhor ferramenta para iniciarem esse movimento. Mesmo que o projeto não tenha conseguido recursos para publicação da obra em formato físico, tão logo o livro foi publicado, docentes do curso de Pedagogia da Universidade passaram a utilizar o material com turmas do Ensino Fundamental I em um projeto voltado a utilizar a literatura no ensino.
“Na época, fomos convidados a participar de uma aula com discentes do curso que nos relataram que o material atingiu seus objetivos principais: ao mesmo tempo que permite a formulação de novas concepções de mundo, estimula o respeito e a tolerância”, relembra.
De acordo com o professor, o uso das TICs no ensino é o paradigma da Educação na “sociedade da informação”. “Estamos em meio ao processo de popularização dessas ferramentas e de absorção delas nos processos de ensino e de aprendizagem, portanto, são as experiências que nos mostrarão o melhor caminho para utilizá-las em sala de aula”, afirma.
Luiz Sabeh relata que na UNIFAL-MG o curso de História já teve experiências positivas com Tecnologias da Informação e Comunicação em atividades do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid). No entanto, ele expõe preocupação em relação aos recursos para acesso democrático. “Percebemos que não é possível estimular o uso das TIC’s no ensino sem antes se promover a democratização da mídia-educação. O e-book, embora possa ser divulgado gratuitamente, ainda não pode ser utilizado de forma democrática, porque o acesso aos aparelhos digitais ainda é restrito”, argumenta.
“De qualquer modo, as experiências de seu uso em sala de aula mostraram que a literatura é uma ferramenta extremamente rica para o ensino. Nosso desafio, agora, é fazer a obra chegar em sala de aula de forma gratuita, porque também temos dificuldade em captar recursos para concretizar essa ação”, conclui.
O livro pode ser acessado gratuitamente neste link.
Projeto “Novas Mídias para a produção e comunicação do Conhecimento Histórico”
Desenvolvido na UNIFAL-MG desde 2015, o projeto de extensão “Novas Mídias para a produção e comunicação do Conhecimento Histórico” propõe instrumentalizar profissionais da História e do magistério em geral com repertório que permita a elaboração e comunicação do conhecimento histórico produzido pela Universidade para um público amplo, por meio das mais variadas mídias.
“Identificamos as principais mídias usadas na comunicação do conhecimento para, em seguida, conhecer as técnicas de uso dessas ferramentas de comunicação para levar, para a sociedade em geral, o saber histórico produzido pelas universidades”, conta o professor Luiz Sabeh.
O grupo de docentes e discentes, vinculados ao “Novas Mídias”, criou e mantém o Repositório de Material Didático para o Ensino de História (REMADIH), que reúne o material produzido por participantes do projeto. O conteúdo é disponibilizado gratuitamente no endereço http://www.unifal-mg.edu.br/remadih/, com possibilidades de circular livremente como bens culturais e, sobretudo, para o ensino, nas aulas de História da Educação Básica e do Ensino Superior. Em 2020, o projeto também passou a produzir livros infantis para comunicar o conhecimento histórico para este público.
A equipe do projeto está em processo de produção de mais um livro infantil, cuja temática é voltada para a história do Brasil, anterior ao processo de colonização europeia iniciado na Época Moderna.