Estudo avalia técnicas cirúrgicas usadas no tratamento de retração gengival para auxiliar cirurgiões-dentistas na escolha do melhor procedimento

Pesquisa compara métodos utilizados na cirurgia de enxerto para recobrimento da raiz exposta

A exposição da raiz do dente, também chamada de retração ou recessão gengival, leva muitos pacientes a procurarem por tratamento odontológico. Essa condição causa sensibilidade dentária, cáries, comprometimento estético durante o sorriso e em casos mais avançados até mesmo perda do dente afetado. O tratamento inclui cirurgia com enxerto de gengiva, procedimento cujas técnicas vêm sendo reavaliadas por pesquisadores da área. Este é o caso de uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da UNIFAL-MG.

Na busca por viabilizar evidências científicas para orientar a tomada de decisão de cirurgiões-dentistas quanto a melhor técnica cirúrgica no tratamento de retração ou recessão gengival, Marcela Iunes da Silveira desenvolveu a pesquisa de mestrado intitulada “Avaliação comparativa da técnica de túnel e do enxerto gengival livre no tratamento de recessões gengivais múltiplas”.

Marcela Iunes da Silveira (autora da pesquisa), Jovânia Alves Oliveira (colaboradora) e professora Suzane Cristina Pigossi (orientadora). (Fotos: Arquivo Pessoal)

Orientado por Suzane Cristina Pigossi, professora de Periodontia na UNIFAL-MG entre os anos de 2018 e 2022, que atualmente integra o quadro docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o estudo contou também com a colaboração de Jovânia Alves Oliveira, mestra em Ciências Odontológicas pela UNIFAL-MG e doutoranda em Odontologia na UFU.

A autora explica que o tratamento cirúrgico para a retração ou recessão gengival utiliza o enxerto de gengiva removido do céu da boca (palato) do paciente e durante a cicatrização, o enxerto se integra aos tecidos, possibilitando o recobrimento da raiz previamente exposta. “Atualmente, várias técnicas têm sido propostas com o objetivo de melhorar os resultados da cirurgia e possibilitar um pós-operatório menos doloroso ao paciente”, detalha.

Segundo ela, duas técnicas cirúrgicas – técnica de túnel e técnica do enxerto gengival livre – foram comparadas durante a sua pesquisa para avaliar qual seria mais eficaz no tratamento de recessões gengivais localizadas nos dentes inferiores anteriores. “A diferença entre as duas técnicas cirúrgicas se dá na forma que o enxerto gengival obtido do palato é posicionado na raiz exposta”, explica.

Enquanto a técnica de enxerto gengival livre, mais antiga e convencional, posiciona o enxerto no topo da raiz exposta e suturado, o uso da técnica do túnel possibilita que o enxerto seja fixado topo da raiz exposta e coberto pela gengiva do próprio paciente localizada abaixo da recessão gengival.

“Embora a técnica do enxerto gengival livre proporcione um ganho muito significativo de gengiva, o local onde o enxerto foi feito fica evidente por uma mudança de cor, o que limita seu uso em áreas com maior exigência estética, ou seja, aquelas que aparecem durante o sorriso ou fala”, explica.

Por outro lado, o uso da técnica do túnel, conforme a pesquisadora, permite que a área enxertada permaneça com a mesma cor dos dentes próximos a ela, o que torna a técnica mais indicada para casos mais estéticos, com um período pós-operatório menos doloroso. “Ambas as técnicas melhoram as recessões gengivais de forma significativa. No entanto, a técnica do enxerto gengival livre proporcionou maiores ganhos em espessura gengival, enquanto que a técnica de túnel proporcionou maiores índices de recobrimento radicular completo, melhores padrões de cicatrização e escores estéticos”, relata.

Como a pesquisa foi realizada

Para realizar a pesquisa, a autora recrutou voluntários atendidos na Clínica de Periodontia da Faculdade de Odontologia da UNIFAL-MG. O estudo incluiu 30 participantes que apresentavam recessões gengivais nos dentes anteriores inferiores, os quais foram divididos de forma aleatória em dois grupos de 15 participantes, de acordo com a técnica cirúrgica. No primeiro grupo foi realizada a técnica do enxerto gengival livre e no segundo grupo foi realizada a técnica de túnel. O acompanhamento dos pacientes foi feito em 30 dias, depois em três meses, seis e 12 meses, oportunidades em que foram feitos registros e medidas clínicas, bem como a avaliação da dor pós-operatória e da satisfação do participante com o resultado do tratamento.

De acordo com a autora, os resultados contribuem na indicação da melhor técnica cirúrgica com base na necessidade clínica do paciente para os cirurgiões-dentistas. “Se o principal objetivo do procedimento cirúrgico for ganhar espessura gengival, nossos resultados sugerem que o enxerto gengival livre seria a técnica mais adequada. Quando o objetivo é proporcionar cobertura completa da raiz em regiões com alta demanda estética, a técnica do túnel parece proporcionar melhores resultados clínicos”, diz, ressaltando que estudos com uma amostra maior de participantes e tempo de acompanhamento mais são necessários para confirmar os resultados obtidos.

A pesquisa teve início em setembro de 2021 e os resultados parciais foram apresentados em julho de 2023. Os participantes serão acompanhados até julho de 2024.