Maior parte das prefeituras da microrregião de Varginha utiliza mídias sociais como via de mão única para divulgar ações da administração, aponta estudo

Dados sugerem contribuições do uso da plataforma à comunicação pública, sobretudo no que diz respeito a garantir o acesso à informação

Ao analisar como as prefeituras da microrregião de Varginha atuam nas plataformas de mídia social para divulgar ações da administração, o acadêmico José Agnaldo Montesso Júnior verificou como o Facebook e o Instagram são usados na comunicação pública por 16 prefeituras, constatando o uso dos canais para informar e realizar propaganda governamental.

O trabalho gerou um relatório técnico e uma proposta de Manual de Recomendações para Atuação nas Plataformas de Mídias Sociais, que fazem parte da pesquisa desenvolvida pelo autor junto ao Mestrado Profissional em Administração Pública (ProfiAP) oferecido pela UNIFAL-MG em Rede Nacional.

José Agnaldo Montesso Júnior – autor da pesquisa, e a professora Carla Leila Oliveira Campos – orientadora. (Fotos: Arquivo Pessoal)

Realizado sob a orientação da professora Carla Leila Oliveira Campos, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), o estudo intitulado “Comunicação pública nas plataformas de mídias sociais: apropriação, atuação e impacto da utilização do Facebook e Instagram pelas prefeituras da microrregião de Varginha-MG” consistiu na raspagem de dados das plataformas de mídia social, análise de conteúdo e perguntas enviadas via Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) às prefeituras da microrregião de Varginha.

O levantamento contemplou Boa Esperança, Campanha, Campo do Meio, Campos Gerais, Carmo da Cachoeira, Coqueiral, Elói Mendes, Guapé, Ilicínea, Monsenhor Paulo, Santana da Vargem, São Bento Abade, São Thomé das Letras, Três Corações, Três Pontas e Varginha. “Todas essas prefeituras possuíam perfis no Facebook e 12 delas possuíam Instagram no momento da coleta de dados, que aconteceu do dia 01 de outubro de 2021 a 31 de dezembro de 2021”, conta.

Mapa da microrregião de Varginha (Fonte: José Agnaldo Montesso Júnior com base em mapa ilustrado pela Fundação João Pinheiro, 2019)

Agnaldo Montesso verificou que, de maneira geral, as plataformas de mídias sociais foram utilizadas como via de mão única para divulgação de ações da administração. “Isso se deve à baixa presença de interação e de postagens com convite para engajamento público, enquanto a divulgação de serviços públicos-sociais e as de ações governamentais tiveram mais postagens”, explica.

A pesquisa mostrou também que a maioria das plataformas de mídias estão ativas na atual administração, mesmo tendo sido criadas em gestões anteriores. Além disso, os conteúdos voltados à covid-19 ocuparam os primeiros lugares no número de postagens. “Os posts que utilizaram vídeos foram os que tiveram mais engajamento”, revela, citando que a maior média de engajamento observado ficou com a prefeitura de Campo do Meio com os posts no Facebook e com a prefeitura de Três Pontas no Instagram.

Com formação em Jornalismo e atuação como servidor público municipal em Varginha-MG na área de comunicação da administração indireta do município, o pesquisador compreende a importância da comunicação e das plataformas de mídias sociais para a administração pública e destaca que o estudo mostrou o quanto a estrutura da área ainda é precária.

“Em número expressivo das prefeituras, a estrutura da área ainda é pequena para as demandas crescentes, sendo composta majoritariamente por servidores comissionados com formação em Jornalismo e pode ser considerada insuficiente para atender às demandas”, afirma.

Embora a investigação tenha apontado a estrutura pouco favorecida, o pesquisador verificou que as plataformas podem trazer contribuições à comunicação pública, sobretudo no que diz respeito a garantir o acesso à informação. “As plataformas ainda são pouco usadas para fomentar o diálogo e estimular a participação nas decisões públicas”, ressalta.

Segundo ele, há ainda o fato de que não há obrigatoriedade de conteúdos que devem ser postados nas plataformas. “Isso que prejudica o accountability, pois as administrações tendem a postar assuntos que levem a uma imagem positiva da organização”, comenta.

Na dissertação de Agnaldo Montesso, que apresenta a pesquisa, também foi disponibilizado um Manual de Recomendações para Atuação nas Plataformas de Mídias Sociais com apontamentos e sugestões de como aprimorar a utilização por parte das gestões municipais que compõem o estudo. Confira aqui.

Como a pesquisa foi feita
Gráfico das prefeituras da microrregião de Varginha com a quantidade de seguidores registrados no Facebook em 08/09/2021, 25/04/2022 e 22/10/2022. (Fonte: Reprodução/Dissertação José Agnaldo Montesso Júnior)

Para atender ao objetivo de discutir como as prefeituras dispõem do Facebook e do Instagram como uma interface socioestatal e um  instrumento de comunicação pública no contexto digital para prestação de contas, transparência e interação com a sociedade, inicialmente, o autor fez a raspagem dos dados coletando número de seguidores, curtidas, compartilhamentos, comentários e interações.

Em seguida, os posts foram codificados e classificados pelas categorias previstas no Livro de Códigos, tais como data de publicação, dia, identificação da prefeitura, do post, tipo de plataforma, formato, setor, entre outras.

O estudo foi dividido em duas etapas. Na primeira, o autor coletou 6.203 posts e realizou a análise da apropriação, da atuação e do impacto da utilização das plataformas de mídias sociais pelas administrações municipais. Em uma segunda fase, foram elaborados 17 questionamentos enviados às prefeituras por meio do Sistema Eletrônico do Serviço de Informações ao Cidadão, previsto pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011, conhecida como Lei de Acesso à Informação. “O intuito desta fase foi entender a estrutura de comunicação responsável por elaborar as postagens. Houve resposta de 12 prefeituras nesta etapa”, diz.

As perguntas enviadas abordaram temas como: o status de comunicação dentro da hierarquia administrativa da prefeitura; o valor de investimento em comunicação; o número de profissionais da área; a formação; a capacitação; o investimento em anúncios; a forma de gerenciamento das mídias e de interação com usuários; a existência de contrato com agência de publicidade, entre outras questões.

A pesquisa também apresenta os números da internet no Brasil considerados expressivos, citando, por exemplo, dados do relatório da ONG We Are Social e do Hootsuite.

Importância das plataformas de mídia social para a comunicação pública
Números destacados pelo autor no Manual de Recomendações para Atuação nas Plataformas de Mídias Sociais. (Fonte: Reprodução/Manual)

Na visão do autor do trabalho, as plataformas de mídia social podem ser consideradas como canais importantes para a comunicação pública no âmbito dos municípios. “Estas plataformas possuem funcionalidades que poderiam ser usadas para o engajamento público e para se tornarem canais de diálogo entre a sociedade e a administração pública”, afirma.

Citando dados do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), Agnaldo Montesso menciona que das 5.114 prefeituras do país, 94% possuíam um perfil em alguma plataforma em 2021 e já no início de 2022 mais de 171,5 milhões de brasileiros acessavam as mídias sociais gastando em média 3 horas e 41 minutos nelas. No entanto, de acordo com o pesquisador, no estudo foi constatado que o modelo de comunicação é ainda o tradicional, ou seja, voltado apenas para informar sobre os atos da administração.

“Como membro da Associação Brasileira de Comunicação Pública, em que tenho contato com profissionais de todo o Brasil nas mais diversas instâncias da administração pública, verifico que ainda é um desafio fazer com que esses canais sejam utilizados da maneira mais adequada possível para contato com a sociedade”, comenta. “Falta investimento na área de comunicação e também o entendimento por parte dos gestores da relevância dessa interface entre Estado e sociedade. Há ainda muito a avançar”, conclui.

Para conhecer a pesquisa na íntegra, acesse a dissertação de José Agnaldo Montesso Júnior na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UNIFAL-MG, neste link.

Conheça também o Manual de Recomendações para Atuação nas Plataformas de Mídias Sociais desenvolvido pelo pesquisador