Análise espacial da variação da temperatura do Sul de Minas Gerais nos últimos 60 anos

Marcos Vinícius Brandão Mendes¹
 Paulo Henrique de Souza²

Atentando para o momento de mudanças climáticas que se observa nestes tempos de aquecimento global, foi desenvolvida uma análise das temperaturas médias do ar na região do Sul de Minas Gerais utilizando como base dados meteorológicos de temperaturas do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (INMET). Os dados foram coletados das estações convencionais próximas da área de estudo e utilizando o SIG QGis foram elaborados mapas da média das temperaturas do ar de cinco em cinco anos no período de 1961 a 2020.

A importância deste estudo reside em constituir-se num primeiro levantamento que pode comprovar se está havendo na região de estudo uma alteração da temperatura média anual. Este aumento médio global de (0,90C° a 1,10C°) alertado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC (2021) pode parecer “pouco” mas é extremamente preocupante.

Figura 1 – Oscilação da temperatura da superfície em relação a 1850-1900

Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáticas (IPCC)

Na pesquisa foram utilizados os Mapas de base do Brasil, de Minas Gerais e da região Sul de Minas Gerais obtidos no Portal de Mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados das Estações Meteorológicas obtidos no Banco de Dados Meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Após a aquisição dos dados de localização das estações e dos dados de temperatura de cada uma delas, foi feita uma média da temperatura de cinco em cinco anos, de 1961 a 2020. Uma tabela também foi elaborada com as médias de temperatura de cinco em cinco anos de cada estação meteorológica. Esses dados foram interpolados através da ferramenta IDW e os parâmetros de interpolação foram os mesmos para todos os 12 mapas. Distância para coeficiente P: 2,0; e tamanho do pixel: 0,05.

O resultado da interpolação IDW feita com os parâmetros citados acima geraram doze produtos cartográficos do tipo Raster que demonstram de certa forma uma variação da média da temperatura da superfície de cinco em cinco anos da região sul mineira. Os mapas são resultado da fórmula “Inverso da Distância Ponderada” (tradução da sigla IDW), aplicados aos dados elaborados, onde foi feito uma média da temperatura de cinco em cinco anos de todas as estações utilizadas.

Na área de estudo estão presentes dois domínios morfoclimáticos o primeiro é o Mares de Morros (áreas mamelonares tropical-atlântica florestadas) com a presença da Serra da Mantiqueira e um segundo constitui área de transição desse domínio para o Cerrado. É importante ressaltar a influência que os domínios morfoclimáticos exercem sobre a temperatura no contexto das estações utilizadas, assim como exerce o entorno das estações presentes em centros urbanos.

Figura 2 – Mapa de temperatura compensada da área de estudo entre 1961-1965 e 2015-2020

Fonte: Autores (2023)

Como a Figura 2 evidencia, verifica-se uma diferenciação na tonalidade do gradiente de temperatura utilizado no estudo com o passar das décadas. Se entre 1961-1965 São Lourenço-MG e Passa Quatro-MG apresentam temperatura média menor e apenas duas aparecem com temperatura um pouco acima da média, justamente na divisa de Minas Gerais com Rio de Janeiro na região de influência da estação meteorológica de Resende-RJ e na divisa de Minas Gerais com São Paulo na região de influência das estações de São Simão-SP e Franca-SP, numa conjuntura em que predomina na região índices ao redor dos 20º C, no final da série, no período entre 2015-2020 percebe-se uma pequena área com temperaturas menores nas estações de São Lourenço-MG e Passa Quatro-MG nos domínios e influência da altitude da Serra da Mantiqueira, indicando que esse diferencial morfoclimático conseguiu resistir ao processo de aquecimento global, mas, constitui exceção por suas características específicas, evidenciando que há um paulatino processo de aumento da temperatura na região à semelhança daquilo que se observa em todo o planeta. Isso é preocupante, pois aponta um cenário de permanente aquecimento global que pode ocasionar uma permanente mudança climática que por sua vez obrigará as espécies da flora e da fauna a se adaptarem ao novo cenário de distribuição de tipos climáticos ou a migrarem em busca dos lugares nos quais consigam sobreviver.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA DO BRASIL – INMET. Banco de dados Meteorológicos (1961/2020). Disponível em https://bdmep.inmet.gov.br. Acesso em 17/10/2022.

PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS – IPCC. Mudança do Clima 2021. A base científica, sumário para formuladores de Políticas. Tradução: Ministério do Meio Ambiente. Original impresso em outubro de 2021 pelo IPCC, Suíça. Disponível em: www.ipcc.ch. Acesso em 21/10/2022.


 

Marcos Vinícius Brandão Mendes é bacharel em Geografia pela UNIFAL-MG, atuando em estudos socioespaciais de pequenas cidades, climatologia focada em mudanças climáticas, habilidades em QGis e Google Earth Engine.

 

 

 



Paulo Henrique de Souza
é professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN) da UNIFAL-MG, onde exerce pesquisa e ensino. Graduado em Geografia, com mestrado em Engenharia Civil, doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental e pós-doutorado em Geografia, o docente tem experiência na área de Geociências, atuando principalmente nos temas: planejamento, espaço, atividades antrópicas, educação, climatologia e biogeografia.