Dia nacional da conscientização sobre as mudanças climáticas

Amanda Silva Almeida1
Deilson Alves Dias2
Ingrid Pereira Machado3
Nicolas Pereira Machado4

Breve Introdução 

No Brasil, desde 2011, celebramos o Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas em 16 de março. Este é um momento crucial para refletirmos sobre os desafios que enfrentamos e as ações que podemos tomar para proteger nosso planeta. 

O aumento da temperatura média da Terra, cerca de 1°C acima dos níveis pré-industriais, em 2017, tem desencadeado uma série de fenômenos preocupantes, como o derretimento das calotas polares, elevação do nível do mar, alteração dos padrões de chuva e seca, intensificação de eventos extremos como furacões, enchentes e incêndios florestais, perda de biodiversidade e migrações forçadas. Eventos climáticos extremos, tanto no  Brasil quanto em todo o mundo, são um alerta urgente para a necessidade de agir contra o aquecimento global.

Mas o que é o aquecimento global? Trata-se do aumento na temperatura média da superfície do ar e da superfície do mar, ao redor do globo, ao longo do período pós-revolução industrial. Este fenômeno é principalmente impulsionado pelo aumento na concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), resultante da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento. 

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera atingiu  níveis 50% mais altos do que na época pré-industrial em 2021.

Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2021, o desmatamento foi uma das principais causas das emissões de gases de efeito estufa no Brasil,  representando cerca de 49% das emissões nacionais, contribuindo significativamente para o problema. Naquele ano, as emissões brutas do uso da terra e das florestas em todos os biomas tiveram um aumento de 83% em comparação com 2010 ano em que houve a regulamentação da Política Nacional sobre Mudanças do Clima, criada para garantir a adoção de medidas para prever e evitar as causas das mudanças climáticas. 

No Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, é essencial promover ações e debates que estimulem a conscientização da população.  

Exemplificando os Impactos das Mudanças Climáticas em Minas Gerais

As mudanças climáticas têm se manifestado de forma cada vez mais intensa em diversas regiões do mundo, e em Minas Gerais não tem sido diferente. Cientistas alertam que, com o aumento global da temperatura, esses eventos extremos estão se tornando mais frequentes, intensos e duradouros. No mundo todo, a frequência das ondas de calor nas últimas décadas aumentou quatro vezes, e sua intensidade é um dos efeitos previstos pelos modelos climáticos associados ao aquecimento global. 

No último ano, Minas Gerais enfrentou ondas de calor excepcionais, com temperaturas que ultrapassaram os 40ºC em várias cidades, conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia do Brasil (INMET). Em novembro de 2023, 43 municípios brasileiros superaram os 40°C, sendo 12 deles em território mineiro. Um estudo mais recente do INMET revelou que 19 das 20 cidades que mais esquentaram no Brasil em 2023 ficam em Minas Gerais.

Ranking das cidades mineiras que mais esquentaram em 2023

Turmalina (MG) – variação de 5,52°C
Botumirim (MG) – variação de 5,51°C
Capelinha (MG) – variação de 5,46°C
Leme do Prado (MG) – variação de 5,45°C
Veredinha (MG) – variação de 5,42°C
José Gonçalves de Minas (MG) – variação de 5,39°C
Itamarandiba (MG) – variação de 5,36°C
Capitão Enéas (MG) – variação de 5.34°C
Riacho dos Machados (MG) – variação de 5.34°C
Angelândia (MG) – variação de 5.34°C

A análise da temperatura média anual de Minas Gerais mostra um cenário preocupante, refletindo o impacto das mudanças climáticas em suas diversas regiões. Em 2023, houve um aumento significativo nas temperaturas, com 19 das 20 cidades mais afetadas do país localizadas no estado. As mesorregiões do Norte de Minas e Jequitinhonha se destacaram ao registrar os maiores aumentos na temperatura média. A capital mineira, Belo Horizonte, também foi afetada por esse cenário, sendo apontada como a capital que mais esquentou no referido ano. Essas observações indicam uma tendência alarmante de aquecimento, destacada pelas variações entre os anos de 2022 e 2023, conforme pode ser observado abaixo pelos seguinte mapa animado:

Mapa1. Temperatura Média Anual de Minas Gerais (2022-2023)  

(Fonte: NASA | Elaboração: GEOGERAIS, 2024)

 

Embora as variações de temperatura possam parecer sutis no contexto da climatologia e tenham sido influenciadas pelo fenômeno do El Niño, elas têm um impacto substancial nas condições ambientais e no bem-estar social. Portanto, a análise da temperatura média anual não apenas confirma as condições extremas enfrentadas por Minas Gerais, mas também ressalta a urgência de ações para minimizar os efeitos das mudanças climáticas no estado.

Um estudo recente do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) colocou Belo Horizonte em destaque, mas não por um motivo positivo. A capital mineira foi a que mais sofreu com o aumento da temperatura em 2023, especialmente em novembro. Em comparação com a média histórica do mesmo mês desde 2000, a cidade registrou um aumento significativo de 4,23°C. 

Somado a isso agora em março de 2024, a Prefeitura de Belo Horizonte deu início ao corte de árvores no entorno do Mineirão, na região da Pampulha, visando a receber o evento Stock Car Brasil pelos próximos cinco anos. 

Sendo importante ressaltar que a supressão de árvores não é apenas uma questão local, mas tem implicações significativas para o meio ambiente e o equilíbrio climático global. As árvores desempenham um papel crucial na absorção de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases responsáveis pelo aquecimento global. Além disso, a destruição de áreas verdes contribui para a perda de biodiversidade e para o aumento da temperatura urbana, intensificando ainda mais os efeitos das mudanças climáticas.

A Agenda 2030 da ONU – O ODS 13
 “Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos”

Você já ouviu falar da Agenda 2030 da ONU? É um projeto ambicioso e desafiador, de ação global, que requer uma reflexão crítica sobre suas implicações e consequências, aprovado pelos 193 países membros das Nações Unidas em 2015, visa a erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir a prosperidade para todos até o ano de 2030.

Ademais, esta agenda está intrinsecamente ligada às mudanças climáticas, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 13, parte integrante da Agenda 2030, destaca a necessidade urgente de tomar medidas para combater a mudança climática e seus impactos. Ele reitera aos países que reforcem a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos climáticos, que integrem medidas de combate à mudança climática em suas políticas nacionais e aumentem a conscientização sobre mitigação e adaptação.

Quanto ao estado de Minas Gerais, observamos uma situação diversificada em relação ao cumprimento da Meta 13 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 13). O estado é caracterizado por uma variedade de níveis de realização, conforme ilustrado no Mapa 2. Destacam-se como exemplos de locais com altos níveis de realização as cidades de Belo Horizonte, Governador Valadares, Coronel Fabriciano, Contagem, Ribeirão das Neves e Cataguases.

Mapa 2. ODS 13 no estado de Minas Gerais 

(Fonte: Índice de desenvolvimento sustentável das cidades, 2023 | Elaboração: GEOGERAIS, 2024)

 

 

Mediante a esse contexto, é válido ressaltar que, desde 2018, o governo do estado de Minas Gerais instituiu o “Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática” (IMVC). O índice mineiro é fundamentado na avaliação da vulnerabilidade territorial, que se desdobra em três componentes essenciais: sensibilidade, exposição e capacidade de adaptação. De modo geral, a classificação dos municípios pode ser compreendida da seguinte forma: Extrema – Muito Alta – Moderada – Relativamente Baixa. 

São exemplos de municípios com vulnerabilidades climáticas relativamente baixas: Caeté, Santa Bárbara e Itapeva. Enquanto aos extremos, verifica-se na exemplificação: Águas Vermelhas, Nova Belém e Ataléia. Também podemos aferir que, no que se diz respeito às mesorregiões, encontram-se em melhores situações, ou seja, com vulnerabilidades baixas, o Sul/Sudoeste de Minas; enquanto as vulnerabilidades extremas são verificadas com maior incidência no Norte de Minas. Por demais, a situação dos municípios mineiros pode ser observada conforme o mapa seguinte:

Mapa 3. Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática (2018)

(Fonte: IDE-MG, 2018 | Elaboração: GEOGERAIS, 2024)

 

Desse modo, o índice se insere como uma importante ferramenta para compreensão de como os municípios mineiros estão suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas. Instrumento de políticas públicas, o IMVC permite assim,  uma visão abrangente de cada local e de sua situação climática. 

Possibilidades para combater as mudanças climáticas

É fundamental reconhecer que as mudanças climáticas não são apenas fenômenos naturais, mas sim o resultado de ações humanas, muitas vezes motivadas por interesses econômicos. Nossa sociedade tem sido moldada por uma mentalidade de consumo desenfreado e crescimento econômico a qualquer custo, sem considerar as consequências devastadoras para o meio ambiente.

Não podemos ficar apenas no mundo das ideias. É urgente agir coletivamente para reverter esse quadro. Precisamos:

  • Repensar o Consumo: Consumir de forma consciente, reduzindo o desperdício e optando por produtos sustentáveis.
  • Investir em Energias Limpas: Transição para fontes renováveis de energia, diminuindo nossa dependência de combustíveis fósseis.
  • Preservar Ecossistemas: Proteger florestas, oceanos e biodiversidade.
  • Pressionar por Políticas Públicas: Exigir ações governamentais que promovam a preservação do equilíbrio ecológico.

Amanda Silva Almeida é mestranda em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNIFAL-MG. Especialista em Geomarketing e Inteligência de Mercado (Unyleya) e em Geoprocessamento pela Faculdade Prominas. Graduada em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (IG/UFU). Atualmente participa do Grupo de Estudos em Planejamento Territorial e Ambiental (GEPLAN/UNILA) e integra o projeto GEOGERAIS: Observatório Geográfico de Minas Gerais. Possui interesse na área de Geografia Humana, com ênfase em Geografia Urbana e Geografia Econômica, atuando sobretudo nos seguintes temas: dinâmica socioespacial, usos do território, redes e circuitos informacionais.

 


Deilson Alves Dias é mestrando em Geografia no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UNIFAL-MG e integrante do projeto GEOGERAIS: Observatório Geográfico de Minas Gerais da Universidade. Graduado em Bacharelado em Geografia também pela UNIFAL-MG, cursa Licenciatura em Geografia na Instituição. O acadêmico é também analista em Geoprocessamento pela Instituição Geo Sem Fronteiras. Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Geografia Regional, Geografia Econômica, Rural e Urbano.

 

 


Ingrid Machado

Ingrid Pereira Machado é discente do curso de Geografia da UNIFAL-MG e integrante do projeto GEOGERAIS: Observatório Geográfico de Minas Gerais.

 

 

 

 


Nicolas Pereira Machado é discente do curso de Geografia (Bacharelado) da UNIFAL-MG e integrante do projeto GEOGERAIS: Observatório Geográfico de Minas Gerais . Tem experiência com geotecnologias, sobretudo sistemas de sensoriamento remoto e produção cartográfica. Atuando recentemente com geografia urbana na (re)produção do espaço urbano na perspectiva da paisagem por meio da fotografia.