Pesquisa da UNIFAL-MG revela inovações no cultivo e na resiliência do milho a partir da desfolha precoce

Resultados sobre os mecanismos de resposta da planta podem contribuir para a Tecnologia Antecipe de cultivo intercalar antecipado da Embrapa

Na data 24 de maio, comemora-se o Dia Internacional do Milho, um dos cereais mais importantes do agronegócio mundial. O Brasil ocupa a terceira posição no mundo como produtor e detém o título de maior exportador desse cereal. Dada à importância dessa commodity, que pode ser usada como matriz energética para a produção de etanol, pesquisadores da UNIFAL-MG estão realizando estudos que prometem revolucionar o cultivo do milho.

Registro do momento em que se realiza a desfolha em milho a 5 cm do solo, simulando o que ocorre na Tecnologia Antecipe no campo. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

Um grupo de pesquisa, coordenado pelo professor Thiago Corrêa de Souza (Instituto de Ciências da Natureza) em colaboração com o professor Plinio Rodrigues dos Santos Filho (Instituto de Ciências Biomédicas), busca entender os mecanismos de resposta à desfolha em milho, utilizando a Tecnologia Antecipe de cultivo intercalar antecipado, um sistema inédito de produção de grãos, desenvolvido pela Embrapa Milho e Sorgo e unidades parceiras.

Conforme explica o professor Thiago Souza, dentre os fatores que impactam na produtividade do milho, estão o estresse hídrico, causado pela seca, que afeta o crescimento e o desenvolvimento das plantas desde a germinação até o enchimento dos grãos; e o estresse mecânico, que causa a desfolha, reduz a área foliar fotossinteticamente ativa, podendo levar a perdas de produtividade. “O estresse por desfolha também pode gerar várias alterações morfofisiológicas, bioquímicas e moleculares nas plantas”, explica.

Apesar dos desafios causados por esses fatores, o pesquisador destaca que alguns estudos indicam que a desfolha precoce não impede a retomada do crescimento do milho e não resulta em perdas significativas de produtividade. “Isto é possível devido ao tamanho pequeno das folhas nos estádios iniciais, além da localização da região meristemática apical do caule estar abaixo do solo até o estádio de seis folhas totalmente expandidas (V6), permitindo a rebrota das plantas desfolhada”, diz.

O pesquisador informa que apesar de a desfolha precoce ser um estresse mecânico, vem ganhando destaque em sistemas de produção no Brasil como a Tecnologia Antecipe. “Antecipe é um sistema de produção soja/milho, o qual trata da semeadura mecanizada do milho nas entrelinhas da soja a partir do estádio R5 (início do enchimento dos grãos) da leguminosa”, esclarece.

Segundo o professor, que é um dos autores da publicação “Antecipe: cultivo intercalar antecipado”, lançado pela Embrapa, o sistema permite ocorrer a antecipação em vinte dias da colheita do milho diminuindo o risco climático na segunda safra do país. “Com a colheita da soja, ocorre uma desfolha precoce no milho no estádio de quatro folhas totalmente expandidas (V4) em decorrência do tráfego de maquinários. Contudo, apesar da desfolha, o milho retoma o crescimento, recupera deste estresse e preserva e/ou aumenta sua produtividade”, detalha.

Resultados pioneiros que podem aprimorar a Tecnologia Antecipe

Registro das plantas de milho após a desfolha (mais ao centro). Observa-se também plantas de milho sem a desfolha (controle). (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

Na UNIFAL-MG, o grupo de pesquisadores envolvidos no estudo “Como a desfolha precoce atua nas características morfofisiológicas e bioquímicas nas plantas de milho” aprofundam o conhecimento sobre os mecanismos de resposta à desfolha em milho. Os primeiros achados mostram como a desfolha precoce atua nas características morfofisiológicas e bioquímicas nas plantas de milho.

De acordo com os pesquisadores, além de aprimorar a Tecnologia Antecipe, o estudo também fornece informações sobre prejuízos e respostas envolvidos nesse processo promovido pelo estresse físico/mecânico, principalmente na recuperação da planta, sem comprometer a produtividade.

“Compreender as respostas das plantas de milho a esses estresses isolados e combinados é fundamental para desenvolver estratégias de manejo eficazes que minimizem tais perdas de produtividade e garantam a resiliência da cultura diante de condições climáticas adversas”, garante o professor Thiago Souza.

Janaína Piza Ferreira, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais, iniciou os estudos sobre a temática ao pesquisar o efeito da desfolha nas plantas. No estudo, quando as plantas de milho atingem quatro folhas totalmente expandidas ocorre um corte da parte aérea a 5 cm do solo.

“Foi observado que após o estresse, a fotossíntese, o teor de clorofilas e nutrientes foram semelhantes nas plantas com desfolha em relação às plantas controle. Os níveis dos hormônios giberelinas e ácido salicílico foram maiores nas plantas desfolhadas,” destaca o professor Thiago Souza.

Nesse estudo também foi constatada a realocação de aminoácidos e açúcares redutores para formação de novos primórdios foliares nas plantas desfolhadas. “Esses resultados demonstram pela primeira vez, os mecanismos fisiológicos e morfológicos (morfofisiológicos) de plantas de milho sob a desfolha, já que a maioria dos trabalhos não chegaram a abordar análises nesses níveis”, afirma.

Equipe atual que trabalha com desfolha em milho. Da esquerda para a direita: a doutoranda Danielle de Oliveira, o mestrando Guilherme Corrêa Rodrigues, o mestrando Antônio Carlos de Oliveira Júnior, a pós-doutoranda Daniele Maria Marques, o professor Plínio Rodrigues dos Santos Filho, a doutoranda Ana Clara Cruz da Silva, o professor Thiago Corrêa de Souza e a discente de iniciação científica Ana Carolina Blasco. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)

Após esses primeiros resultados, outros estudos passaram a ser realizados sobre o perfil de diferentes genótipos de milho frente à desfolha, além de aliar outro fator estressante como estresse hídrico. “Diferentes genótipos podem influenciar a resposta a esses estresses e nada é encontrado na literatura sobre esse assunto”, comenta o coordenador do projeto de pesquisa.

Segundo ele, esses resultados podem contribuir com a Antecipe, que mesmo sendo inovadora e disruptiva está aberta a adaptações. “Estes resultados podem contribuir com a Antecipe, pois prevê condições hídricas ideais, fator que nem sempre ocorre em um país como o Brasil com fatores ambientais e de manejos diferentes, além das mudanças climáticas vigentes”, enfatiza.

Financiada pela FAPEMIG (APQ-00251-22), a pesquisa “Como a desfolha precoce atua nas características morfofisiológicas e bioquímicas nas plantas de milho” conta com as pós-doutorandas Daniele Maria Marques e Débora Soares e os discentes, Janaína Piza Ferreira, Ana Clara Cruz da Silva, Danielle de Oliveira, Guilherme Corrêa Rodrigues, Ana Carolina Blasco e Antônio Carlos de Oliveira Júnior. Também colaboram os pesquisadores, Émerson Borghi, Paulo César Magalhães e Décio Karam, da Embrapa Milho e Sorgo.

 

(Imagem de destaque: Recorte do registro feito do desenvolvimento das plantas de milho após o tratamento de desfolha. À direita plantas de milho controle (sem desfolha) e à esquerda plantas de milho com desfolha. (Foto: Arquivo/Grupo de Pesquisa)