Desafios da internacionalização no Brasil é tema abordado por especialista da Universidade de Genebra em palestra na UNIFAL-MG

A Instituição recebeu, em Alfenas, o Prof. Abdeljalil Akkari, docente da Universidade de Genebra (Suíça) e responsável pela linha de pesquisa “Dimensões Internacionais da Educação”, para a palestra “Educação Intercultural: uma análise das desigualdades educativas na perspectiva da internacionalização da política educacional”, na tarde de 07/02. Dentre as questões discutidas o pesquisador dedicou parte da apresentação para abordar os desafios de realizar uma internacionalização do ensino superior no Brasil e estimular a reflexão entre os professores e TAEs que participaram do evento.

Para o docente de Genebra, o processo de internacionalização não deve se formar apenas enquanto discurso institucional, mas, sim, ser uma realidade cotidiana da comunidade universitária, que deve utilizar de indicadores estatísticos para definir a política de internacionalização. Tais indicadores seriam, por exemplo: número de estudantes e docentes que participam de congressos internacionais e em quais países eles foram, técnicos que possuem fluência em outros idiomas, número de pós-graduandos em instituições estrangeiras, dentre outros.

“O importante é como transformar o discurso institucional sobre internacionalização em uma internacionalização como modalidade de trabalho cotidiano. Isso significa que cada servidor da universidade e sua atividade de rotina integram a perspectiva de internacionalização”, disse. “Uma dica é sempre começar por indicadores simples, pensar, por exemplo, no número de professores que participaram de congressos internacionais: se foram 40 em 2018, de que forma podemos dobrar esse número em 2019? Quais cursos da instituição vão estar na internacionalização? E quantas pessoas poderão participar? Depois disso, é possível fazer previsões para um edital e pedir ajuda da instituição”, afirmou.

Docentes e TAEs participaram da palestra oferecida pelo PRODOC

De acordo com o Prof. Abdeljalil, existem quatro principais desafios que o Brasil precisa enfrentar para a internacionalização. O primeiro é a existência de muitos sistemas universitários e vários tipos de instituição de ensino superior no país, que precisam, ao mesmo tempo, se internacionalizarem. “Aqui o programa de internacionalização acontece junto com a massificação. A universidade tem muitos estudantes, mas a internacionalização precisa de espaço e o professor precisa trabalhar menos sob pressão. Além disso, para internacionalizar, precisa-se de mais recursos e menos estudantes. Mas na agenda social-política você tem: mais estudantes e menos recursos, o que é um grande dilema”, pontuou. Ao ser questionado sobre a consequência desse fato, o pesquisador disse que um primeiro passo para cumprir a exigência de internacionalização é assinar acordos e multiplicá-los, sempre que possível.

O segundo desafio é criar estratégias de internacionalização diferentes que atendam a universidade que se tem, de acordo com número de discentes e docentes, localização geográfica, distância dos grandes centros, etc. “É muito diferente fazer internacionalização de um campus de uma universidade isolada, em uma cidade de porte pequeno a médio. Por exemplo, uma universidade em Roraima ou no sul do Brasil pode trabalhar a opção de uma internacionalização contextualizada na localização por estar em uma região de fronteira, em que a poucos quilômetros já se está em outro país”, esclareceu o Prof. Abdeljalil.

Já o terceiro desafio é também uma crítica para as instituições, especialmente as particulares, que usam a internacionalização como estratégia de marketing. Segundo o palestrante, não é aconselhável planejar ações visando atrair mais estudantes: ”as instituições que utilizam a internacionalização como propaganda quase sempre oferecem uma internacionalização superficial”.

Por último, o professor citou um desafio que é comum em vários países: “nossos estudantes de Genebra querem ir para Finlândia, Noruega e Canadá e ninguém quer ir para Espanha ou Portugal. E não é apenas devido ao idioma, eles possuem uma representação de qualidade do ensino e pensam que nesses países não aprenderão nada que ‘vale a pena’. Entretanto, a maioria dos estudantes que recebemos na Suíça vem da Itália, Espanha e Portugal”, contou.

De acordo com ele, o desafio é como atrair mais estudantes e pesquisadores internacionais na mesma proporção de brasileiros que desejam ir para o exterior: “um dos problemas da internacionalização do Brasil no ensino superior é que as chances de encontrar um estudante brasileiro no exterior é muito maior do que a de encontrar um estrangeiro estudante no Brasil”. Os brasileiros querem ir para Espanha e Portugal devido à língua, mas também querem ir à França, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra, “mas quase não há estudantes desses países no Brasil, o que gera uma internacionalização desigual”, completou. O professor apresentou ainda uma alternativa que está sendo usada em Genebra para incentivar os estudantes a irem para países que não são muito procurados: “para fazer uma troca de estudantes com o Japão usamos como estratégia o fato de que não apenas o estudante iria, mas o professor também. Acompanhamos o processo e tivemos êxito, pois eles estão tranquilos e aprendendo”.

O Prof. Abdeljalil foi recebido na reitoria para discutir estratégias de internacionalização da Instituição

Após a palestra, o convidado foi recebido pelo reitor, Prof. Sandro Amadeu Cerveira, pelo vice-reitor, Prof. Alessandro Antonio Costa Pereira e pelo diretor de Relações Internacionais e Interinstitucionais, Prof. Claudio Umpierre Carlan, na reitoria. Na ocasião, o Prof. Sandro enfatizou o compromisso da sua gestão em fortalecer a internacionalização da UNIFAL-MG não apenas por ser uma demanda do Ministério da Educação, mas principalmente pelos efeitos enriquecedores de uma universidade internacionalizada tanto para a comunidade acadêmica, quanto para o país de modo geral.

Para o reitor, a necessidade de internacionalização em uma via de mão dupla também é essencial, sendo uma das metas da gestão: “nosso foco é para que a internacionalização não aconteça apenas no eixo sul-norte, mas, também, no eixo sul-sul. Nós precisamos superar a noção equivocada de que os países do sul, como América Latina e África não possuem uma produção de conhecimento qualificada”.

Outro ponto abordado foram algumas estratégias já utilizadas para fortalecer a internacionalização na UNIFAL-MG, como a assinatura de convênios, acordos internacionais e lançamento de editais de chamada para professores estrangeiros visitantes para atuação nos cursos de pós-graduação da Instituição.

A vinda do Prof. Abdeljalil foi realizada em parceria com a NUMIES, Unifei, UFOP, IFMG, PUC-Minas e a palestra faz parte do Programa de Desenvolvimento Profissional e Formação Pedagógica Docente (PRODOC) da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da UNIFAL-MG.

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