Instituições definem ações para preservar recursos geridos pela Fapemig

As instituições de pesquisa mineiras e entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) vão organizar dados sobre recursos gerados pela produção de ciência e tecnologia, promover encontros com o governo do estado e parlamentares e realizar campanha de mobilização da opinião pública. O objetivo é reverter o recém-anunciado corte de recursos para a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).

O tema reuniu, na tarde da última sexta-feira, 08/03, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), representantes de universidades federais e estaduais de Minas Gerais, da Fundação Osvaldo Cruz, da PUC Minas e de entidades científicas. Os dirigentes enfatizaram a disposição de contribuir para a recuperação do estado, também a médio e longo prazos, conduzindo debates e estudos sobre alternativas de diversificação da matriz econômica.

A Fapemig passa a contar com cerca de R$ 6,5 milhões mensais, para bolsas (R$ 4,5 milhões), manutenção e compromissos diversos. Estão suspensas bolsas de iniciação científica e novas chamadas para apoio a projetos, entre outras formas de suporte à pesquisa.

De acordo com o reitor da UNIFAL-MG, Prof. Sandro Amadeu Cerveira, a reunião mostrou como as diferentes instituições que promovem pesquisa em Minas Gerais reconhecem o papel essencial da Fapemig para a promoção e manutenção do investimento em ciência no estado. “Sem esse investimento, uma série de pesquisas vão ficar paralisadas, outras muito prejudicadas e ainda há aquelas que não poderão ser iniciadas. E como pesquisa é um processo de longo prazo, haverá um comprometimento com o próprio futuro devido a esse corte de recursos”, disse.

Já a reitora da UFMG, Sandra Regina Goulart Almeida, lembrou que a redução dos recursos disponíveis para a Fapemig tem consequências graves de diversas naturezas. “Além do enorme prejuízo para a produção científica, há o impacto social, já que milhares de estudantes e pesquisadores dependem dessas bolsas para se manter, e o impacto econômico para o estado, porque a produção científica gera desenvolvimento e riquezas”, afirmou.

 

Evaldo Vilela, presidente da Fapemig. Foto: Foca Lisboa/UFMG

Sinergia
De acordo com o presidente da Fapemig, Evaldo Vilela, 2015 foi o último ano em que a entidade recebeu integralmente 1% da receita orçamentária corrente ordinária do Estado, cota que lhe é garantida pela Constituição mineira. No ano passado, esse percentual que, segundo a Constituição do Estado, deve ser o mínimo a ser repassado e “em parcelas mensais equivalentes a um doze avos, no mesmo exercício”, não foi cumprido. Em 2018, o repasse foi de apenas 30% do valor constitucional.

A Fundação ainda enfrenta outra medida que agrava a restrição orçamentária: a legislação estadual determina que 40% da verba que recebe seja transferida a projetos da Secretaria de Desenvolvimento Econômico considerados estratégicos pelo governo mineiro. Esse repasse reduz ainda mais a capacidade de financiamento de projetos de pesquisa. Diante do quadro atual, de contenção de recursos, participantes da reunião defenderam a necessidade de se fazer gestões junto a parlamentares e ao próprio governo mineiro para que seja revista essa parcela de 40% que é transferida para financiar outros projetos.

“A existência da Fapemig faz sentido se ela puder influenciar positivamente a vida das pessoas. A melhoria da qualidade do povo mineiro depende do investimento em ciência, tecnologia e inovação”, disse Evaldo Vilela. “Devemos construir pontes entre o governo, a sociedade e a academia, atuar em sinergia”, defendeu. Recentemente, a Fapemig perdeu um terço de sua força de trabalho.

Valder Steffen Jr., presidente do Foripes -MG. Foto: Foca Lisboa/UFMG

O presidente do Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior de Minas Gerais (Foripes/MG), Valder Steffen Júnior, ressaltou a “enorme capilaridade” das universidades e institutos de pesquisa no estado. “Essas instituições são poderosos vetores de desenvolvimento regional em Minas. A limitação de recursos tem o potencial de interromper projetos de inovação e prejudicar a formação de gerações de pesquisadores”, alertou Steffen, que é reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Ildeu Moreira, presidente da SBPC, lembrou que a situação de Minas Gerais é similar à de outros estados, como Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Sul. Segundo ele, é importante que o governo federal apoie as fundações estaduais de apoio à pesquisa, “para evitar um desmonte em cascata”. “A Fapemig é um patrimônio de Minas Gerais e da ciência brasileira”, disse Ildeu, que propôs a elaboração de estudo sobre o impacto das ações da fundação sobre a produção científica e o desenvolvimento do estado.

Também com o objetivo de proteger os recursos administrados pela Fapemig e contribuir para a recuperação do estado, os participantes do encontro propuseram iniciativas de aproximação entre a academia e o governo, realização de eventos para discussão de nova agenda para a economia mineira e a elaboração, por parte das equipes de comunicação das instituições, de estratégias de sensibilização da sociedade para a importância do investimento em ciência, tecnologia e inovação.