“Felicidade e saúde mental” é tema de palestra oferecida a docentes e técnicos da UNIFAL-MG; ação ocorreu após homenagem aos servidores aposentados em 2019

A Comissão de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) promoveu, na tarde desta terça-feira (22/10), um bate-papo sobre “Felicidade e Saúde Mental”, a fim de proporcionar aos servidores da UNIFAL-MG um momento de interação e reflexão. A atividade, que integra as comemorações do Dia do Servidor Público, contou com a participação dos professores Paulo César de Oliveira, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), e Paulo Baisi, da Faculdade de Medicina, que realizaram as palestras sobre o tema.

O Prof. Paulo César introduziu sua apresentação questionando a ideia de paraíso e se Adão e Eva eram felizes lá: “não dá para ser feliz fora da autenticidade. Parece que o casal primitivo quis ser autêntico, então ser capaz de ver as tensões é uma das condições primeiras para a felicidade. Isso tudo está ligado à coragem de viver, de ousar e de romper. Com um curso, uma pessoa, uma profissão, rompimentos que às vezes a vida nos exige”.

Continuando, ele lembrou o público sobre a história de Ulisses, descrita na obra Odisseia do poeta grego Homero, defendendo a ideia de que “não dá para ser feliz estando no lugar errado”. O poema conta que Ulisses precisou abandonar sua esposa, por 10 anos, para ir a guerra, e foi ele quem teve a ideia do cavalo de madeira que permitiu que os gregos vencessem os troianos. “Ulisses foi condecorado porém cometeu um erro crucial: furou o olho do filho de Poseidon, rei dos mares. Este, por sua vez, ficou irritado e dificultou a volta de Ulisses para casa, levando-o para a Ilha de Calipso, que se apaixonou por Ulisses, prendendo-o na ilha. Por fim, Calipso ofereceu a Ulisses a imortalidade e juventude para que ficasse com ela. No entanto, Ulisses disse: ‘é preferível uma vida humana mortal, que envelhece, no lugar certo, do que uma vida de Deus no lugar errado’. Então, a felicidade não está no tipo de vida, na juventude, nem na eternidade, no que se tem ou se conquista, mas está em se encontrar no lugar certo. Existe um lugar para nós, no mundo, na vida, e se você estiver no lugar errado, certamente não terá uma vida boa e feliz”, disse o professor.

O Prof. Paulo César tem experiência na área de Educação, Filosofia e Teologia e foi convidado pela equipe QVT para falar sobre “Felicidade” (Crédito da imagem: Dicom/UNIFAL-MG)

Em seguida, citou Friedrich Wilhelm Nietzsche, que dizia “demore o tempo que for necessário para você perceber o que quer da vida, qual o seu lugar e não recue sob nenhum pretexto”, comentando ainda sobre a ideia de experiência da ausência: “não dá pra ser feliz se a gente não fizer a experiência da falta. Ao vivenciar a falta, nos alegramos com a presença. A felicidade não está no excesso.” Outro exemplo usado pelo docente foi a saudade, que nos permite a alegria do encontro. “A felicidade não é permanente, ela é um horizonte. É um desejo permanente, mas para que ela possa se repetir, ela não pode durar para sempre”, afirmou o Prof. Paulo César.

Outro ponto abordado pelo pesquisador da área filosófica, foi a obrigação de sermos felizes, ideia passada pelo capitalismo, que entende a felicidade como sucesso. “O capitalismo fez mal para nós de certa forma, pois conseguiu fazer aquilo que a teologia não pode: internalizar a culpa e sentir-se culpado. Ele atribui ao indivíduo a culpa, a responsabilidade pelo não sucesso. Na visão capitalista eu sou culpado pelo próprio desemprego, fracasso, sucesso, infelicidade e tudo mais. Mas não é bem assim! Nós temos uma dose de responsabilidade, porém há diversos fatores que independem de nós”, defendeu.

Por fim, o Prof. Paulo César reforçou aos servidores que é preciso gostar daquilo que fazemos: “nós nos avaliamos cotidianamente, concordamos com algumas atitudes, criticamos outras e por aí vai. Mas, nós precisamos vibrar com a gente, conversar com a gente e ter boas relações conosco mesmo”.

Na sequência, o professor e psiquiatra, Paulo Baisi, abordou o tema do ponto de vista da neurociência, que considera felicidade um estado mais duradouro, em que as emoções são predominantemente positivas. “Isso não quer dizer não ter emoções negativas, algo que faz parte da vida, mas que predominem as emoções positivas, de maneira que isso te levará a um estado de bem-estar subjetivo”, afirmou. Para ele, a sociedade hoje está mais focada nas emoções negativas, no que deu errado ao longo do dia, se esquecendo de ressaltar aquilo que deu certo. “A partir dos anos 2000, o psicólogo Martin Seligman passou a estudar por que a gente tem esse tipo de atitude de olhar para o negativo. Ele começou a fazer estas perguntas: será que, se a gente passasse a fazer um esforço consciente para também prestar atenção em situações positivas, nós viveríamos melhor?”, contou, informando a origem da Psicologia Positiva.

O Prof. Paulo Baisi abordou a felicidade do ponto de vista da neurociência (Crédito da imagem: Dicom/ UNIFAL-MG)

O médico enfatizou ainda como a noção de felicidade tem se configurado como algo inalcançável atualmente.  “Assim que você tem um salário melhor, você quer um salário melhor ainda. Se você conquistou o sucesso, você quer outro sucesso. Então, a felicidade fica em um horizonte inatingível. Não é errado ter desejos, mas é necessário, também, desenvolver virtudes e forças de caráter, porque isso gera uma felicidade mais duradoura ao longo do tempo”, afirmou.

Ao final do bate-papo, o Prof. Paulo deu algumas dicas de como exercer a gratidão por meio de cartas: “todos os dias escreva três coisas gratas sobre o dia anterior, com isso você lembra a sua memória autobiográfica e reforça coisas positivas. Quando a gente começa a mudar a nossa percepção e começa a fazer esse tipo de exercício de maneira ativa e continuada, tornando um hábito, a gente vai mudando. A gente passa a ter uma noção de felicidade, uma percepção de bem-estar associada ao que a gente cultiva com emoções com valência positiva e com afeto negativo, que muda a nossa estrada interna de bem-estar”.

Servidores homenageados

Antes das palestras, foi realizada uma sessão solene do Conselho Universitário que homenageou os servidores aposentados em 2019. Para o reitor, Prof. Sandro Amadeu Cerveira, poder participar desse momento é especial: “vamos homenagear aqueles que contribuíram ao longo de suas carreiras para a construção da nossa Universidade. É uma alegria ver os nossos colegas entrando no gozo da sua aposentadoria que, certamente, nunca deve ser vista nem como caridade nem como privilégio. A aposentadoria do servidor, do trabalhador, é um direito fundamental que tem sido atacado com um discurso de diferentes origens, diferentes lugares mas que precisa ser enfrentado”.

A pró-reitora de Gestão de Pessoas, Profa. Juliana Guedes Martins, lembrou ainda do papel da Instituição em formar gerações de profissionais há mais de um século e como isso deve fortalecer o corpo docente e técnico da UNIFAL-MG nos tempos de crise. “Eu não esqueço uma fala do professor Paulo Márcio, sobre como a universidade passou por muitos momentos históricos e que nós devemos estar sempre preparados para o por vir. Talvez a universidade pública nunca tenha vivido um momento histórico de tanto ataque, de tanta hostilidade. Mas eu tenho certeza que toda essa nossa trajetória, o legado de todos os servidores que por aqui já passaram, nos fortalecerá para enfrentar o que virá”, disse.

Também estiveram presentes compondo a mesa de honra a pró-reitora de Extensão, Profa. Eliane Garcia Rezende, a vice-diretora da Faculdade de Odontologia, Profa. Francisca Isabel Ruela, a diretora do Instituto de Ciências Biomédicas, Profa. Maísa Ribeiro Pereira Lima Brigagão e a diretora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Profa. Sandra Maria Oliveira Moraes Veiga (Crédito da imagem: Dicom/ UNIFAL-MG)

Confira abaixo os servidores que receberam a homenagem:

  • Helena Maria dos Santos Couto
  • Elaine Manso Oliveira Franco de Carvalho
  • Laércio Martelli
  • Antonio Carlos Fonseca
  • Marina Carvalho Vieira da Costa
  • Antônio Carlos da Silva
  • Lúcia Amélia Portugal Rios da Costa Pereira
  • Terezinha D’Avila e Silva Nunes
  • Ivana Pereira Tibúrcio
  • Maria José Barbosa Karam
  • Marta Felícia Marujo Ferreira

Na oportunidade, a Comissão de Qualidade de Vida no Trabalho informou que, em parceria com a professora do curso de Enfermagem, Ana Claúdia Mesquita Garcia, passará a oferecer encontros de meditação. A atividade terá como base a metodologia do Mindfulness que pode ser entendido como prestar atenção propositalmente no momento presente, de maneira aberta, gentil e sem julgamentos. “Desenvolver esta capacidade que temos pode nos auxiliar a ter uma melhor qualidade de vida e na redução do estresse”, informou a Profa. Ana Claúdia.

A ação tem como público-alvo os servidores da UNIFAL-MG. Os encontros serão semanais a partir do dia 05/11, às 7h, na sala L106, na sede. A partir de 11/11 os encontros serão às segundas feiras de 7:30 às 8:30. As vagas são limitadas e os interessados podem se inscrever no CIAST pelo telefone: (35)3701-9201.

Fotos: Equipe Dicom/ UNIFAL-MG