Intervenções culturais fomentam discussões sobre inclusão, respeito, política e resistência durante o 2º UniDiversidade no campus Poços de Caldas

Para celebrar a diversidade no meio acadêmico, o projeto de extensão “Mais Cultura no campus Poços” promoveu a 2ª edição do evento UniDiversidade nos dias 15, 16 e 17/10, em parceria com o Serviço de Psicologia do campus e apoio das Pró-Reitorias de Extensão e Assuntos Comunitários e Estudantis, da direção do campus Poços de Caldas e do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT).

Durante os três dias de evento, foram realizadas intervenções culturais e palestra sobre assuntos diversos, como conscientização, racismo, machismo, discriminação com pessoas com deficiência, discriminação religiosa, entre outros. “A ideia da realização desse evento surgiu a partir de um manifesto escrito por discentes da UNIFAL-MG, em 2018, denunciando situações de machismo, homofobia e racismo no ambiente acadêmico”, conta Danilo de Abreu e Silva, servidor técnico em audiovisual, que coordenou a atividade junto à psicóloga Rosana Elizete Tavares.

Conforme Danilo, a mobilização de iniciativas como essas é fundamental para fomentar a discussão de temas e a interação da comunidade acadêmica. “O UniDiversidade é muito importante para o ambiente acadêmico da UNIFAL-MG  de Poços, um campus dedicado à Ciência e Tecnologia, por trazer discussões sobre inclusão, respeito, política e resistência por meio de intervenções culturais entre as aulas, envolvendo alunos e servidores, além das conversas, palestras e, nesse ano, o Grafite, que inscreveu uma marca de luta para a Universidade”, diz.

O 2º UniDiversidade contou com a participação de artistas da cidade de Poços de Caldas e região, com intervenções culturais como esquetes, performances e música que abordaram sobre os temas do evento, gerando reflexão e conscientização com a comunidade. A intervenções ficaram por conta da Cia Ubuntu, Cia Nós, Gerda Mueller e Letícia Pereira, Banda D’ons Maria, Teici Miranda e as Escolas de Capoeira Angola Resistência e FICA. O evento foi abrilhantado também, com a produção de um Grafite na parede central do prédio de salas de aula, feito por Henrique Max e Érika Guedes; uma roda de conversa sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis, com Programa Municipal IST/Aids da Secretaria Municipal de Saúde de Poços de Caldas; e apresentação da plataforma FemHelp, de auxílio a mulheres vítimas de violência. Além das intervenções e rodas de conversas, houve também uma mesa de formação voltada a profissionais da Educação com o título “Inclusão e Acessibilidade na Universidade”, com Débora Faria (UNIFAL-MG), Renata Pamplin (UEMG) e Reginaldo Silva (IFSULDEMINAS).

Daniel Silva, ator que participou das intervenções culturais com a personagem Gerda Mueller, defende o UniDiversidade como espaço para compartilhar experiências de quem vivencia situações de opressão. “O Unidiversidade é um movimento grandioso, e de muito respeito às diversidades. É um símbolo de resistência, uma pulsação cultural no peito de cada um, seja público, seja artista”, destaca. “Século XXI. O machismo ainda mata. A LGBTfobia ainda mata. O racismo ainda mata. E ter um espaço acolhedor onde é possível compartilhar sua vivência cheia de medos, receios, alegrias e ansiedades é gratificante e de muita força. Poder dizer, na lata, o quanto o ser humano ainda pode cometer atrocidades e, principalmente, lutar por uma linhagem ancestral daqueles que já foram e lutaram para estarmos, hoje, com tantos direitos obtidos. Enquanto os nossos morrerem, a gente não pode se calar”, afirma.

Em depoimento, a discente Mariana Oliveira, que participou da organização das duas edições do UniDiversidade (2018 e 2019), reflete sobre a oportunidade possibilitada pelo evento e pelo Grafite, de ser ouvida e deixar uma marca para que as pessoas compreendam a importância de toda a luta. “Ser ouvida sempre foi o maior desafio (lê-se sonho) da minha vida. Muito mais que fazer as pessoas pararem para me ouvir, eu sempre quis fazer com que elas sentissem as minhas palavras, que através da verbalização elas pudessem ser despertadas a sentimentos e pensamentos que nunca passaram por elas, deixando marcas e lembranças que não pudessem ser apagadas. E perceber que isso está acontecendo é incrível e assustador, na mesma proporção. Saber que através de você pessoas pararam para ouvir outras pessoas que têm muito o que dizer traz uma responsabilidade muito grande e um orgulho proporcional a isso. Entender que um movimento partiu de você e que a tendência dele é só crescer me faz entender que vale a pena, sempre vale a pena, todo cansaço, dificuldade, apreensão”, comenta.

Mariana fala também das dificuldades enfrentadas a vida toda para dar voz aos seus pensamentos e sentimentos por questões de gênero, condição social e orientação sexual. Expressando gratidão, a discente manifesta: “É extremamente difícil enquanto mulher, pobre, do interior, LGBT, que estudou a vida toda em escola pública ter voz em um ambiente de maioria homens, héteros, classe média alta, vindos de escola particular e eu fui ouvida, mais que isso sentida, graças a vocês. Minha eterna gratidão aos loucos e fortes que se mantiverem do meu lado, me dando todo suporte que eu necessitava e acalmaram a alma dessa louca desvairada e ansiosa, se não fosse por vocês eu não teria forças foram os nossos braços juntos que construíram isso e é juntos que vamos usufruir de todos os frutos que essa lindeza de projeto ainda vai dar”, enfatizou. “A semente foi regada com muito amor, arte, resistência, talento e força, não existem chances de ela não crescer forte e saudável, quero estar ao lado de vocês pra ver esse processo e enchermos juntos nossos peitos pra dizermos juntos, como sempre estamos, que nós começamos essa história”, conclui.

Fotos: Giovani Ribeiro

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