Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência: cresce número de mulheres pesquisadoras, mas ainda há desafios a serem enfrentados

Comemora-se nesta terça-feira, 11 de fevereiro, o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2016, com o objetivo de promover o acesso integral e igualitário da participação de mulheres e meninas na ciência.

Embora a presença feminina nas universidades tem sido cada vez mais crescente, de acordo com o Instituto de Estatísticas da UNESCO, apenas 28% dos pesquisadores do mundo são mulheres. Mesmo nos campos científicos onde as mulheres estão presentes, elas são sub-representadas nas decisões políticas tomadas nos mais altos níveis da pesquisa científica.

Na UNIFAL-MG, as mulheres do corpo docente e de técnicos administrativos ainda são a minoria. Há 28 homens a mais do que o quantitativo de professoras (271 mulheres e 299 homens), e um homem a mais que mulheres técnicas administrativas (168 mulheres e 169 homens). Isto reflete no número de doutores, mestres e especialistas na Universidade. Há mais homens com titulação de doutor e de mestre na Universidade.

Entre os discentes, as meninas superam os meninos. São 1.227 a mais matriculadas que eles. Na data da publicação desta notícia, a UNIFAL-MG registrava 7.215 universitários matriculados no total, sendo 4.221 mulheres e 2.994 homens.

Elas também são a maioria na Iniciação Científica. São 356 meninas fazendo Iniciação Científica e 174 meninos, de acordo com dados da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação. A área de maior concentração de mulheres é Ciências da Saúde.

Mesmo que os dados de discentes da UNIFAL-MG sejam animadores, ainda há uma série de desafios a serem superados. É o que apontam dados de um relatório da editora científica Elsevier, divulgado em 2017, sobre gênero na pesquisa no Brasil. O relatório mostra que o número de autores homens e mulheres é muito parecido, porém, há muita desigualdade em algumas áreas. Na computação, por exemplo, são quase 20 mil pesquisadores e cerca de 6 mil pesquisadoras.

Para atuar junto às frentes que buscam mudar este cenário, a UNIFAL-MG propôs um projeto e foi uma das instituições contempladas em chamada pública do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2018, que teve por finalidade apoiar propostas que propusessem ampliar o interesse e a participação de meninas e mulheres nas áreas de ciências exatas, engenharias e computação, bem como reduzir a desigualdade de gênero. A aprovação da proposta da Universidade possibilitou a realização do projeto “Minas for Science”.

Iniciado há exatamente um ano, o Minas for Science reúne alunos e  professores das escolas de ensino médio, graduandas e docentes da UNIFAL-MG em torno de um mesmo objetivo: incentivar meninas e mulheres a seguirem carreiras ou se manterem nas áreas de ciências exatas.

Por mais mulheres na ciência

Equipe do projeto Minas for Science em visita à usina nuclear de Angra dos Reis em novembro de 2019. (Foto: arquivo do projeto)

“Muitas são as batalhas que as mulheres enfrentam quando escolhem trilhar esse caminho, então para que esse objetivo seja atingido, o projeto Minas for Science idealizou inicialmente quatro frentes de trabalho”, explica Profa. Márcia Regina Cordeiro (Instituto de Química), coordenadora do projeto.

Segundo Profa. Márcia, duas das ações têm caráter permanente, ao utilizar as mídias sociais, como Facebook e Instagram, para divulgar ciência e as mulheres nas ciência. “Nessas páginas, a equipe compartilha quase diariamente ações do projeto, informações e notícias que inspiram nossos leitores a perceberem que lugar de mulher é onde ela quiser”, conta.

O projeto também desenvolve aulas de nivelamento por meio do “ReFORÇA”, ação que envolve pós-graduandos da UNIFAL-MG em aulas de temas variados que funcionam como monitoria, para contribuir na graduação. “Muitas vezes, em uma sala de aula repleta de rapazes, as meninas não se sentem à vontade em tirar dúvidas de assuntos que às vezes julgam ser básicos”, comenta.

Ao longo de 2019, a equipe do projeto também promoveu oficinas de formação com cinco encontros, nos quais, os participantes tiveram contato com pesquisadores da UNIFAL-MG das áreas de igualdade racial e de gênero, a visão e o papel do cientista, mulheres na ciência e contextualização.

Mostras científicas temáticas sobre poluição, alimentos, matemática financeira, entre outros, também fazem parte de ações do projeto. Conforme a coordenadora, a equipe de professores, parceiros do projeto, prepara estudantes integrantes para replicarem as atividades em suas escolas com o apoio de seus professores, graduandas e de acordo com a realidade e expectativa local. “Esta experiência de colocar estudantes como organizadores de atividades desenvolveu nos integrantes, valores como responsabilidade, capacidade de pesquisar e processar informações, além de conhecimentos sobre diversos temas”, afirma.

Incentivo é fundamental

Estudantes do projeto Minas for Science aprendem a produzir essências durante oficina temática realizada em abril de 2019. (Foto: Dicom/UNIFAL-MG)

De acordo com a Profa. Márcia, o projeto não obriga as mulheres a serem cientistas, uma vez que são respeitadas e incentivadas a serem o que quiserem. “Introduzimos nossas alunas numa gama de ações para que elas vejam que há um mundo de oportunidades do outro lado da rua da escola delas. E nessa jornada, colocamos alguns meninos para que eles também sejam os agentes transformadores desse pensamento que se perpetua”, narra, dizendo que, ao verem seus colegas, muitos se inspiraram e desejaram estar com a equipe como voluntários e, hoje, o Minas for Science conta com cinco professores, 29 alunos das escolas e 16 graduandos.

Kelly Aparecida Silva Souza, graduanda do curso de Química, afirma ser ‘fantástico’ atuar em um projeto que busca incentivar a presença feminina na ciência. “Mais do que fazer ciência, é uma satisfação imensa poder cativar outras mulheres a seguirem esse caminho, ainda mais na área de ciências exatas”, enfatiza. “Nunca imaginei que o empoderamento de mulheres fosse algo tão difícil, mas ao mesmo tempo gratificante. Tive aprendizados dos quais levarei para o resto da vida.”

As atividades desenvolvidas no projeto Minas for Science têm despertado a consciência de todos os envolvidos, como pode ser observado no relato do estudante de Ensino Médio, Lucas Eduardo da Silva. Para ele, o projeto Minas for Science é inovador e necessário na atualidade. “Muitas vezes, as mulheres são ofuscadas com coisas banais por causa do gênero. Eu, mesmo não sendo o público-alvo desse projeto, percebo sua importância e me sinto honrado em participar dele”, sintetiza.

Profa. Márcia reflete sobre os desafios que as meninas enfrentam, mas é otimista. “Sabemos que os desafios são grandes e que somos poucos frente aos problemas pessoais, financeiros, falta de credibilidade dos cursos de ciências exatas que, muitas vezes, culminam com a evasão ou na não procura destes cursos pelos alunos em idade universitária. Contudo, como dizia Madre Tereza: ‘o que fazemos é apenas uma gota no oceano. Mas sem essa gota, o oceano seria menor'”, encerra.

Acesse outras publicações sobre o Minas for Science no Portal da UNIFAL-MG

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