Pandemia e Economia: cartas sobre a mesa!

De uma coisa não podemos negar: vivemos uma situação nunca antes vivida pela nossa geração. Nossas vidas mudaram completamente em tão pouco tempo nas últimas semanas. Desde janeiro, é fato, tomamos conhecimento sobre os acontecimentos na China, mas, por acreditarmos que o perigo estava longe, nem ao menos passou por nossas cabeças como poderíamos ser afetados. Nas últimas semanas, este quadro mudou drasticamente e percebemos que os problemas derivados da pandemia não podem mais ser minimizados. Enfrentamos uma situação atípica cujos impactos diretos e indiretos temos grande dificuldade de mensurar.

Ainda que estejamos preservando nossa saúde ao permanecer em casa, é  legítima a preocupação sobre como iremos nos alimentar se nossos salários forem cortados ou se não tivermos como gerar nossa renda, no caso de empresários, trabalhadores autônomos e informais. Ficou muito comum ouvirmos a frase: “se ninguém for trabalhar, a economia quebra”. Dado que a geração de renda depende dos trabalhadores, sim essa frase pode fazer sentido.

Mas há uma outra face dessa questão, ou trade-off como dizemos na Economia, e que vem sendo muito pouco discutida. Se, por sua vez, mais pessoas se infectarem por saírem de casa, conforme tem sido apontado pelos especialistas da área de saúde, teremos mais pessoas nos hospitais e consequentemente menos mão-de-obra no mercado, menor produção e menor crescimento da economia. Mais pessoas doentes também significarão, além de custos econômicos e sociais, maiores gastos com saúde, ou seja, maiores gastos, por exemplo, do governo com o Sistema Único de Saúde.

Assim como aconteceu em outros períodos da História, será necessário maior participação do Estado para suprir a falta de renda do trabalhador e evitar a falência de empresas, sejam pequenas ou grandes. Em termos econômicos, o custo de um trabalhador se ausentar de seu trabalho deve incluir o quanto ele deixa de produzir e gerar renda para o país. Por outro lado, um trabalhador doente num hospital inclui o mesmo custo já citado somado aos custos com tratamento da saúde desse trabalhador.

De qualquer forma, teremos altos custos, mas correr o risco de mais pessoas ficarem doentes incorrerá em custos ainda maiores  Por isso que o Estado e as empresas têm que ajudar a manter a renda dos trabalhadores que estão em casa.

Diferentemente da China, outros países tiveram tempo para se preparar ou pelos menos aprender, infelizmente, com erro dos outros. Realmente parece um tanto quanto estranho ficarmos imunes em casa, mas mesmo assim essa ainda é a forma mais sensata e segura a se fazer segundo as autoridades da área da saúde. Não é o momento para nos desesperarmos, o que devemos é nos cuidar.

O risco de negligenciar o isolamento social compensa? A Itália e agora os EUA nos têm demonstrado que não. Nossa teimosia pode custar muito caro em termos econômicos e sociais.

 

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Autora: Kellen Rocha de Souza
Professora do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas
Currículo Lattes