Reflexões sobre a pandemia de Covid 19 e a importância do idoso na dinâmica da economia

Quinta-feira, 30 de abril de 2020


Por Alinne Alvim Franchini e Pamila Cristina Siviero
– respectivamente, professoras de Economia e  Ciências Atuariais, do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da UNIFAL-MG

O Brasil está passando por um processo de envelhecimento populacional acelerado. Conforme dados do último censo demográfico (2010) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população acima dos 60 anos era de 20,9 milhões, representando aproximadamente 11% da população brasileira. Em 2018, 28 milhões de brasileiros eram idosos, de forma que a participação dessa parcela populacional aumentou para 13%. Projeções do IBGE indicam que aqueles com mais de 60 anos devem ultrapassar os 30% em 2060.

No que diz respeito à importância dos idosos para a dinâmica da economia, dois aspectos devem ser considerados.

Primeiramente, a participação dessa faixa etária no mercado consumidor. Conforme estudo do Instituto Locomotiva, divulgado em 2018, brasileiros com mais de 50 anos representam 42% do consumo das famílias e movimentam, por ano, R$ 1,8 trilhão. Desse grupo, 44% são aposentados e 39% ainda trabalham. Isso implica dizer que uma possível contração desse universo de pessoas produziria impacto direto no mercado interno brasileiro, afetando negativamente a produção e o consumo.

Em segundo lugar, é preciso refletir sobre a dependência das famílias em relação às pensões e aposentadorias. Com a alta do desemprego e aumento da informalidade, os cortes nas políticas públicas e a retração econômica, cresce o número de idosos que passam a prover o sustento da família.

De acordo com dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, divulgada também pelo IBGE, entre os lares que recebem até R$ 1.908,00, cerca de 16,5% da renda são oriundos de aposentadorias e pensões, sendo que chega-se a 28,6% quando se avaliam todas as transferências consideradas na pesquisa.

Essa dependência é ainda mais visível entre os mais pobres, tendo em vista que o desemprego e a informalidade os atinge de forma mais significativa. Segundo matéria publicada no Estadão, em 15 de julho de 2018, “de 2016 para 2017, o número de domicílios em que esses benefícios respondem por mais de 75% da renda avançou 22%, (…), entre as famílias da classe E, que ganham até R$ 625 por mês.” E ainda, dados da LCA Consultores evidenciam que nos lares em que existe tal dependência, a taxa de desemprego é quatro vezes maior que a média nacional.

Em consonância, um outro levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em outubro de 2018, evidencia que 43% dos brasileiros acima de 60 anos são os principais responsáveis pelo pagamento de contas e despesas da casa. Dessa forma, conclui-se que a participação dos idosos faz diferença relevante na renda familiar e que parcela expressiva da população depende dessa fonte de renda para a própria subsistência.

Outro fator a ser considerado é que, o impacto socioeconômico, causado pela possível mortalidade de idosos, também atingirá, por exemplo, municípios variados, nos quais a economia local depende da circulação de dinheiro injetado pelos pagamentos da Previdência. Estudo da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP) e a Fundação ANFIP de Estudos Tributários e da Seguridade Social, publicado em 2019, destaca que existe forte dependência entre o pagamento de aposentadorias, pensões e benefícios sociais e a dinâmica local de municípios, inclusive nas regiões Sudeste e Sul do país. Em parte desses municípios, os recursos recebidos pela Previdência Social são maiores que o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Até o momento em que esse texto é escrito, em 27 de abril de 2020, o Brasil registra 66.501 casos confirmados e 4.543 óbitos por COVID-19. Estudos apontam que pessoas com mais de 60 anos, uma vez infectados, experimentam maior risco de morte. Nos países europeus, em torno de 90% dos óbitos são concentrados na população idosa. No Brasil, este percentual é menor, cerca de 72%.  Pelo exposto, uma vez que os idosos fazem parte do grupo de risco, além da perda imensurável para os familiares, a ausência de parte deste segmento populacional também poderá produzir impactos negativos importantes sobre a economia.

Fontes:

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE DIRIGENTES LOJISTAS (CNDL) E PELO SERVIÇO DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO (SPC BRASIL) (Brasil). Pesquisa Terceira Idade 2018. São Paulo, 2018. Disponível em: https://www.spcbrasil.org.br/pesquisas/pesquisa/5514. Acesso em: 20 abr. 2020.

FRANÇA, A. S. et.al. A Previdência Social e a Economia dos Municípios. Brasília: ANFIP, 2019.

GERAÇÃO ‘Grey Power’ lidera mercado consumidor. Folha de São Paulo. São Paulo, 23 dez. 2018. Disponível em: https://www.pressreader.com/brazil/folha-de-s-paulo/20181223/282716228107948. Acesso em: 20 abr. 2020.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia. Censo Demográfico 2010.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2017-2018. IBGE, 2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9050-pesquisa-de-orcamentos-familiares.html?=&t=o-que-e. Acesso em: 25 abri. 2020.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Projeções da População do Brasil e Unidades da Federação por sexo e idade: 2010-2060. Edição 2018. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9109-projecao-da-populacao.html?=&t=resultados. Acesso em: 26 abr. 2020.

Institut national d’études démographiques (INED). Demographics of Covid-19 Deaths. Disponível em: https://dc-covid.site.ined.fr/en/data/. Acesso em: 26 abr. 2020.

MAIS pobres dependem mais de aposentados. Estadão. São Paulo, 15 jul. 2018. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mais-pobres-dependem-mais-de-aposentados,70002402363. Acesso em: 21 abr. 2020.

Ministério da Saúde. COVID-19: Painel Coronavírus. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/. Acesso em: 27 abr. 2020.

Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico 13. Doença pelo Coronavírus 2019. Disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/21/BE13—Boletim-do-COE.pdf. Acessado em: 26 abr. 2020