Em 2004, Boaventura de Sousa Santos preconizou em sua obra “A Universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da Universidade” que a “área de extensão vai ter no futuro próximo um significado muito especial”. Essa afirmação do sociólogo português pode muito bem representar a importante atuação extensionista no atual contexto de pandemia de Covid-19.
Nesses quase 1,5 ano de pandemia global, as interações proporcionadas por programas, projetos, eventos, cursos e prestações de serviço têm contribuído com a sociedade em diversas áreas. Na UNIFAL-MG, somente em 2020, as ações de Extensão Universitária dialogaram e interagiram com mais de 580 mil pessoas. Esse número, conforme apresentado no Relato Integrado 2020, decorre da realização de 342 ações extensionistas.
“A Extensão Universitária é a dimensão acadêmica da Universidade que dialoga com a população e traz para dentro da academia a realidade que precisa ser pensada, pesquisada, orientada, buscando melhor qualidade de vida para todos, impactando na formação de nossos estudantes e direcionando as pesquisas que a Universidade precisa realizar. Nesse sentido é fundamental que nesse momento de crise sanitária, incentivemos e apoiemos as propostas que visem ampliar nossa atuação junto à sociedade”, relatou a professora Eliane Garcia Rezende, pró-reitora de Extensão da UNIFAL-MG.
De acordo ela, o trabalho extensionista passou por adaptações para respeitar as orientações de prevenção e controle do contágio da Covid-19. E, atividades antes realizadas presencialmente, buscaram alternativas por meio das tecnologias disponíveis para comunicação e interação. “Tivemos muitas dificuldades, mas conseguimos superar alguns obstáculos e continuar a atuação com o compromisso social que a UNIFAL-MG tem junto à população”, pontuou a pró-reitora.
Pelo resultado apresentado, a mudança de metodologia permitiu a reinvenção dos extensionistas da UNIFAL-MG. As reuniões e eventos presenciais foram transferidos para plataformas de webconferência e muitos projetos buscaram nas redes sociais, como Instagram, Facebook, YouTube e até mesmo no WhatsApp e no Tik-Tok, o caminho para chegar até o público.
Na avaliação da professora Eliane Garcia Rezende, a criatividade das coordenações foi determinante para continuação das atividades. “Foi fundamental, pois a Extensão Universitária dialoga com a sociedade e auxilia na resolução dos problemas sociais, contribuindo para a qualidade de vida da população”, complementou.
As 342 ações extensionistas foram submetidas nas áreas de Comunicação, Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação, Meio ambiente, Saúde, Tecnologia e Produção e Trabalho. A maioria das ações foi na área de saúde, com 183 iniciativas, seguida por educação com 82 propostas, e cultura com 17 ações realizadas.
Extensão Universitária nas redes e em casa
Entre os projetos realizados em 2020 e adaptados em novos formatos para continuar suas atividades, temos o “Prosa em Roda”, desenvolvido nos três campi da UNIFAL-MG, e o “Conversas Matemáticas”, realizado no âmbito do Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (Unati).
O “Prosa em Roda” prevê encontros para promoção da saúde, para construção de redes sociais de apoio e solidariedade e para inclusão social dos participantes. Com a pandemia, os encontros aconteceram por webconferência. O ponto positivo, de acordo com a coordenadora do projeto em Alfenas, Profa. Paula da Costa Souza, foi a ampliação do atendimento para familiares dos estudantes, moradores de outras cidades e até ex-alunos residentes no exterior. Por outro lado, o projeto não conseguiu atender estudantes de escolas públicas de Alfenas e o público em privação de liberdade.
O projeto “Conversas Matemáticas” foi criado para o desenvolvimento de atividades relacionadas à matemática com pessoas idosas com os objetivos de produção de conhecimentos matemáticos e de interação social. Com a necessidade de distanciamento social, o grupo passou a interagir e a desenvolver as atividades pelo WhatsApp e, também, a entregar atividades impressas nas casas das participantes. “Principalmente pela idade de nossas participantes, nosso maior desafio foi fazer um grupo com resistência às atividades envolvendo tecnologias digitais passarem a utilizar essas tecnologias”, explicou a professora Rejane Siqueira Julio, coordenadora do projeto.
Conforme a coordenadora, foi preciso muita sensibilidade para lidar com questões que extrapolavam a matemática e estavam presentes na vida das participantes, como adoecimento, morte, dificuldades com a vida e depressão, para não afastá-las do projeto e manter o sentimento de pertencimento ao grupo. “Em uma avaliação final do projeto, ficamos felizes em saber que nossas atividades ajudaram as idosas a se distraírem durante a execução delas, a se manterem ativas cognitivamente e a continuarem interagindo entre elas e com nossa equipe. Recebemos, ainda, o incentivo delas para continuarmos com projeto”, destacou.
Essa percepção de incentivo e de importância foi compartilhada pelo extensionista Gustavo Chagas Moreira, discente do 7º período de Biomedicina. Para ele, atuar como bolsista do projeto “Prosa em Roda”, em 2020, foi uma forma de contribuir com outras pessoas que não estavam bem por conta da pandemia.
A importância desse engajamento em projetos de extensão, de acordo com o futuro biomédico, é para “sair da caixinha” do mundo universitário e identificar que Universidade não é apenas sala de aula ou laboratório. “É ver que a Universidade abrange toda a comunidade e não só os estudantes que ali estudam.”
Gustavo Moreira ressalta também a oportunidade de aprender com a comunidade atendida pelo projeto. “Participar de projetos de extensão é levar um pouco do nosso conhecimento para outras pessoas e também receber muito conhecimento em troca com as experiências vivenciadas, ou seja, em projetos de extensão você conhece muitas pessoas, aumenta seu repertório cultural além de conseguir ajudar o outro com um pouquinho que você sabe”.
Essa observação do discente está diretamente ligada às propostas de “Interação Dialógica”, “Impacto na formação do estudante” e “Impacto e transformação social”, três das diretrizes da Extensão Universitária. “O melhor de atuar em um projeto de extensão é ver que suas ações podem ressignificar a vida do outro, além do enriquecimento cultural e intelectual fora da sala de aula e das trocas de experiências com diversas pessoas”, concluiu.
Cultura, um dos principais setores impactados pela pandemia
A pandemia impactou diretamente a economia criativa brasileira. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas apontou uma queda de 31,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do segmento no ano de 2020. O setor criativo participa com 2,64% do PIB e gera quase 5 milhões de postos de trabalho. Acesse a pesquisa.
A produção cultural universitária não ficou de fora dessa crise. Segundo a professora Daniela Eufrásio, gerente de Arte e Cultura da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), por consequência da necessidade de distanciamento social como prevenção à Covid-19, muitas ações deixaram de ser realizadas por necessitarem de contato direto com o público. “Essa dificuldade levou à criação de outras metodologias de trabalho e de outros mecanismos de acesso, que propiciaram a continuidade de ações culturais usando recursos tecnológicos, em especial as mídias sociais, que, neste contexto, tornaram-se uma importante aliada”, destacou.
A Orquestra Popular da UNIFAL-MG foi uma das iniciativas que migraram para a Internet. O grupo, formado em 2012 como Orquestra de Violões e com um extenso currículo de apresentações na Universidade e na região, investiu em ensaios e apresentações virtuais em 2020. “Tivemos que reinventar o projeto a partir de abril de 2020, pois a impossibilidade de ensaios e apresentações presenciais impactou praticamente todas as atividades que eram desenvolvidas pelo projeto”, explicou o professor Mário Danieli Neto, coordenador da Orquestra.
E, mesmo com as dificuldades, o projeto permaneceu em atividade e produziu vídeos com músicas para divulgação. O coordenador lembra que, além da pandemia, é um desafio manter um projeto de extensão na área de música em uma universidade que não possui cursos da área. “É desafiador e, justamente por não haver curso de Música e nem de Artes, é que sentimos cada vez mais a necessidade de trabalhar com projetos nesta área. A Universidade precisa dessa inserção no campo da cultura e arte, pois são áreas fundamentais para o desenvolvimento integral da pessoa”, completou.
Além da Orquestra Popular, foram desenvolvidos outros 13 projetos culturais no âmbito da Extensão Universitária na área de música, patrimônio, produção cultural, dança, literatura e cultura popular. Juntos, os projetos atenderam mais de 14 mil pessoas entre público participante e equipe. O Madrigal Renascentista e a Camerata Theophillus, dois grupos de tradição na Universidade e na região, também migraram as atividades para o modo remoto. Confira abaixo vídeos gravados em 2020:
Desafios futuros
Em uma análise dos números de 2020, a pró-reitora de Extensão, Profa. Eliane Garcia Rezende, reforça a relevância dos resultados alcançados, no entanto, afirma que ainda podem melhorar. “Em momentos como o que vivemos hoje, de grande crise gerada por uma pandemia, é fundamental que todas as áreas do saber acadêmico se organizem para melhorar a interação com a realidade social em busca de soluções para as demandas, de tal forma que minimizem os impactos negativos na sociedade.”
A questão orçamentária é um desafio atual e futuro. Em 2020, foram concedidas 884 bolsas de extensão universitária para estudantes de graduação na UNIFAL-MG. Este ano, devido aos cortes no orçamento das Universidades Federais, o número de bolsas caiu para 606. “Temos muitos desafios, um deles é enfrentar a redução orçamentária e continuar trabalhando na Universidade. A falta de recursos, financeiro e humano, tem dificultado a execução das atividades acadêmicas”, relatou a pró-reitora de Extensão.
“Na Universidade precisamos ser criativos e empenhados na busca de soluções para as demandas sociais. A interação com a sociedade é fundamental para organizarmos novas pesquisas e também impactar a formação de nossos acadêmicos com qualidade. As atividades extensionistas permitem essa interação, esse movimento, bem como permite que a sociedade perceba a relevância da atuação das universidades em prol da qualidade de vida da nossa população”, concluiu Eliane Garcia Rezende.
As ações de Extensão Universitária podem ser acessadas na página da Pró-Reitoria de Extensão da UNIFAL-MG.
Confira o Relatório de Gestão 2020 na íntegra em: Relato Integrado 2020.