Estudo realizado por estudantes e docente da UNIFAL-MG demonstra sucesso terapêutico de Pé Torto Congênito em paciente com cardiopatia congênita

Relato de caso fica em 1º lugar em concurso promovido pelo Conselho Federal de Medicina

Após a obtenção de bons resultados na utilização do método de Ponsetti para o tratamento de Pé Torto Congênito (PTC) em paciente portadora de cardiopatia congênita, o artigo “Pé torto congênito na cardiopatia cianótica – Tipo transposição de grandes artérias: um relato de caso“, desenvolvido por discentes da UNIFAL-MG, ficou em 1º lugar em avaliação do 5º Fórum de Doenças Raras do Conselho Federal de Medicina. O relato foi orientado pelo Prof. Eli Ávila Souza Júnior, da Faculdade de Medicina da Universidade, e objetivou a divulgação científica de um caso raro que pode ser referência de estudo para outros profissionais da área. As discentes envolvidas na produção foram Thais Cristina de Aquino Lima e Isis Zuli Soares Gonçalves, do curso de Medicina da UNIFAL-MG.

Eli Ávila Souza Júnior, professor da Faculdade de Medicina da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo Pessoal)

O relato descreveu o caso clínico de uma paciente de 1 ano e 2 meses, portadora de cardiopatia congênita do tipo Transposição de Grandes Artérias (TGA), com Pé Torto Congênito (PTC) negligenciado, tratado nesta idade, pela primeira vez, com método de Ponsetti. A TGA consiste em uma malformação congênita na topografia dos grandes vasos sanguíneos com potencial grave de prejuízo na oxigenação tecidual corporal.

Conforme o relato, a paciente compareceu ao serviço de saúde ortopédico, acompanhada da mãe, que queixava deformidade do pé direito da filha. Por ter sido submetida à cirurgia de correção da transposição dos vasos logo após o nascimento, e devido a condição cianótica – coloração azulada da pele decorrente de oxigenação insuficiente do sangue – da patologia, o PTC foi negligenciado no momento.

Trocas engessadas seriadas. (Foto: arquivo pessoal)

Depois de ser submetida a exame clínico, a paciente foi diagnosticada com PTC e rigidez nas articulações. Em seguida,  passou por avaliação clínica e ecocardiográfica, com autorização do médico cardiologista pediátrico, e foi iniciado o tratamento não operatório seguindo o método de Ponsetti.

Segundo o Prof. Eli Ávila, o método é considerado o ‘padrão-ouro’ no tratamento de pé torto congênito, inclusive em casos sindrômicos e negligenciados. “Devido a cardiopatia de base, com riscos de manifestar cianose, clinicamente tratou-se de um caso mais delicado, mas obtivemos excelentes resultados”, relatou o docente.

Passado o período de correção progressiva das deformidades, foram realizadas trocas de gesso seriadas e correção satisfatória da deformidade. Logo depois, foi feita uma tenotomia percutânea do tendão de Aquiles, sob anestesia local, com monitoração cardíaca, sob supervisão anestésica. No acompanhamento de 3 meses, a mãe da paciente demonstrou satisfação com a correção. Segundo relato, todo o tratamento evoluiu sem intercorrências clínicas.

Inspeção dos pés após 3 meses de tratamento. (Foto: arquivo pessoal)

Conforme explicado pela discente Thaís Lima, a princípio, não existe uma relação exatamente com o pé torto e a anomalia da paciente. “No entanto, os estudos que usamos de referência para descrever o caso indicam que cerca de 15,7% das crianças que nascem com o PTC podem desenvolver, também, anomalias do sistema cardiovascular, como é o caso da nossa paciente”, relatou.

“O grande desafio, no caso da paciente, é a definição sobre o melhor momento para a abordagem do PTC nesses casos de disfunções cardiovasculares graves. A abordagem do PTC pode comprometer, de algum modo, a disfunção cardiovascular? Tentamos responder essas perguntas e também entender como lidar com um caso que exigiu ‘passo a passo’, abordar uma condição por vez”, explicou a discente.

Para o Prof. Eli Ávila, o envolvimento das estudantes na terapêutica de duas patologias complexas, alcançando bons resultados clínicos, contribui muito na formação delas como futuras médicas. “Para mim, como médico e professor, a maior realização se dá na satisfação dos familiares com o resultado alcançado, algo que muitas vezes foi julgado como improvável por eles, mas que alcançou bons resultados. O prêmio de 1º lugar no concurso do Conselho Federal de Medicina nos demonstra que estamos no caminho certo!”, afirmou o docente.

Concurso do 5º Fórum de Doenças Raras do Conselho Federal de Medicina

Entre os 39 trabalhos avaliados pela comissão avaliadora do 5º Fórum de Doenças Raras do Conselho Federal de Medicina, o trabalho publicado pelas estudantes Thaís Lima e Isis Gonçalves ficou em 1º lugar na categoria “Estudante”. Os textos analisados abordaram assuntos relacionados às doenças raras, entre eles aspectos diagnósticos, linhas de cuidados, normativas e aspectos éticos. Os trabalhos apreciados pela comissão, integrada por membros da Câmara Técnica, foram analisados por três avaliadores que não tiveram acesso aos nomes dos autores dos artigos.

Thais Cristina de Aquino Lima é estudante de Medicina na UNIFAL-MG. (Foto: arquivo pessoal)

Na oportunidade, a estudante Thaís Lima contou que a ideia da publicação surgiu após o docente Eli Ávila ter atendido a paciente e percebido que se tratava de um caso muito específico. “Publicar pode ser um recurso muito bom para outros profissionais que possam vir a se deparar com um quadro assim”, relatou a discente.

Ainda, Thaís Lima considerou a oportunidade de pesquisa de extrema importância para o conhecimento de caso. “A informação é a principal ferramenta que podemos ter na carreira médica, porque muitas vezes são pequenos detalhes que mudam toda a abordagem. A publicação do relato pode servir de acolhimento para outras pessoas que estejam passando pelo mesmo problema, bem como auxiliar outros profissionais que recebem pacientes com as mesmas condições, mas não encontraram informações suficientes na literatura”, afirmou a estudante.

Isis Zuli Soares Gonçalves é estudante de Medicina na UNIFAL-MG. (Foto: arquivo pessoal)

Para a discente Isis Gonçalves, a experiência de participar do concurso foi enriquecedora. “Foi uma experiência acadêmica muito enriquecedora, uma vez que o próprio processo de participação nos permite aprender e desenvolver ainda mais características que a área da pesquisa científica fomenta. Associado a isso, é muito motivador quando um trabalho realizado com tanta dedicação é reconhecido, é uma forma de nós, alunos, continuarmos em busca de mais conquistas e confirmarmos que estamos no caminho certo para alcançar nossos objetivos”, salientou a estudante.

A discente mencionou a contribuição não só curricular do trabalho, mas do processo de desenvolvimento. “Esse trabalho confirma a importância da pesquisa no desenvolvimento da Medicina e, consequentemente, na qualidade do atendimento ao paciente. Dessa forma, esse trabalho me incentiva a continuar atuando na pesquisa enquanto discente e futuramente como médica. Além disso, contribui na minha compreensão de possibilidades efetivas de atuação no processo terapêutico de outros possíveis casos raros, semelhantes ao do nosso artigo, que eu possa a vir a presenciar ao longo da carreira médica”, finalizou Isis Gonçalves.

O resultado da premiação pode ser acessado no site do Conselho Federal de Medicina, no link: https://portal.cfm.org.br/noticias/43891/

O artigo será divulgado em livro que reunirá todos os trabalhos premiados no 5º Fórum de Doenças Raras.