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Relato de caso publicado por professor da UNIFAL-MG demonstra sucesso terapêutico em um caso grave de pés tortos congênitos negligenciados na idade adulta

O método de Ponsetti é considerado, atualmente, o ‘padrão-ouro’ no tratamento de pé torto congênito, inclusive em casos sindrômicos como a mielomeningocele, conhecida por ser uma falha no fechamento do tubo neural que gera exposição na medula, nas raízes nervosas e nas meninges da pessoa. Após obtenção de bons resultados na utilização do método, o professor Eli Ávila Souza Júnior, da Faculdade de Medicina da UNIFAL-MG, publicou um relato de caso no Journal of Foot and Ankle (Jornal de Pé e Tornozelo), explicando o procedimento realizado. O objetivo do artigo foi demonstrar um caso de sucesso terapêutico na área da ortopedia.

Eli Ávila Souza Júnior, professor da Faculdade de Medicina da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo Pessoal)

De acordo com o docente, o método de Ponsetti é caracterizado por uma correção gradual e progressiva dos pés, baseado em manipulações, trocas gessadas seriadas e tenotomia percutânea do tendão de Aquiles. A tenotomia consiste na divisão de um tendão e a intervenção percutânea é um procedimento cirúrgico menos invasivo.

Conforme o relato, o método é efetivo nos casos de pés tortos sindrômicos como a mielomeningocele. Segundo o pesquisador, nos países em desenvolvimento, frequentemente se encontram pacientes adultos portadores de pés tortos congênitos que não tiveram acesso à assistência à saúde.

O professor Eli Ávila explicou que evidências recentes sugerem o método de Ponsetti como apropriado para pacientes mais velhos, mas o limite de idade não está estabelecido. “Apesar da idade limite para instituir o método de Ponsetti como opção terapêutica ainda ser obscura, é uma opção barata, segura, acessível, plausível, de resultados satisfatórios mesmo em casos adultos negligenciados e sindrômicos”, afirmou.

Trocas gessadas seriadas: primeiro, terceiro, quinto, sétimo, nono e décimo primeiro aparelhos gessados. (Foto: Arquivo Pessoal)

O relato descreveu o caso clínico de uma paciente de 27 anos, portadora de mielomeningocele, com pés tortos congênitos negligenciados e tratada nessa idade, pela primeira vez, com o método de Ponsetti. A paciente compareceu ao serviço de saúde queixando-se de deformidade dos pés, dificuldade na marcha e lesões cutâneas crônicas nos pés que, frequentemente, se intensificavam.

Após ser submetida a exames laboratoriais para afastar a atividade inflamatório-infecciosa das úlceras, a paciente realizou radiografia dos pés e tornozelo. Em conversa com o médico, foi proposta a tentativa de tratamento não operatório. Passado o período de correção progressiva das deformidades, foi realizada a tenotomia percutânea do tendão de Aquiles, sob anestesia local, com apenas uma sutura cutânea. A reabilitação da paciente foi feita na clínica de fisioterapia da UNIFAL-MG.

Segundo o especialista, em casos negligenciados, o tratamento mais praticado na atualidade é o cirúrgico, que varia de amplas liberações de partes moles a correções complexas, usando fixadores externos, osteotomias corretivas e artrodese tríplice. “Entretanto, todas essas técnicas são complexas, caras, com altas taxas de complicações”, afirmou o docente Eli Ávila.

Dorsiflexão máxima do tornozelo direito após tenotomia percutânea do Aquiles. (Foto: Arquivo Pessoal)

Na oportunidade, o médico salientou o caso como um dos mais desafiadores já enfrentados em sua carreira como ortopedista especialista em pés e tornozelos. “Diante do drama do caso clínico em si, e os resultados impressionantes, me senti na obrigação de publicá-lo e de contribuir cientificamente para outros colegas que possam ter pacientes com casos parecidos”, frisou.

O docente afirmou que ultrapassar a barreira da idade limite para instituir o método foi um grande desafio. “As manipulações e a confecção dos aparelhos gessados sequenciais em adultos são infinitamente mais difíceis e desafiadoras do que na criança. Entretanto, com calma, perseverança e muita disciplina, em 15 semanas de tratamento, alcançamos um resultado impressionante”, disse.

De acordo com o especialista, o relato de caso comprova, cientificamente, que nunca é tarde para buscar a melhoria na qualidade de vida dos pacientes. O professor também citou o estudo de opções terapêuticas disponíveis, a conversa franca com os pacientes e o alinhamento de expectativas como fatores importantes no tratamento de cada um.

Para o professor Eli Ávila, a UNIFAL-MG é não só o local de atuação na prática docente, mas o espaço que permite o compartilhamento de casos ortopédicos com seus alunos. Aos interessados em cirurgia ortopédica, especialmente se tratando de tornozelo e pé, o professor aconselhou: “cirurgias agressivas nem sempre são as melhores soluções”.

Confira o estudo no link: https://jfootankle.com/JournalFootAnkle/article/view/1588

*Jaíne Reis Martins é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG