Um estudo desenvolvido na UNIFAL-MG indica avanço potencial para a modulação da dor neuropática crônica em humanos, por meio de novos tratamentos terapêuticos. O efeito positivo na redução da dor neuropática crônica em animais ocorreu por meio da estimulação elétrica, associada à eletroacupuntura, de uma região do cérebro envolvida em funções cognitivas e comportamentais.
“A pesquisa descobriu que o efeito da eletroacupuntura foi alterado quando a região do córtex pré-frontal medial infralímbico foi inibida”, explicou a pesquisadora Josie Resende Torres da Silva, do Instituto de Ciências da Motricidade. De acordo com a professora, o córtex pré-frontal é uma região do cérebro que está relacionada à regulação da emoção, tomada de decisão, planejamento e controle motor.
“Nos últimos anos, o córtex pré-frontal também tem sido implicado na modulação da dor, pois a região cerebral está conectada a várias outras envolvidas no processamento da dor, incluindo o tálamo, a amígdala e o córtex cingulado anterior”, completou.
A inibição pode ocorrer por meio de diferentes mecanismos, incluindo a ativação do sistema opioide endógeno (receptores celulares produzidos pelo próprio organismo), a liberação de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina, e a modulação da atividade dos neurônios que transmitem sinais dolorosos para o cérebro.
Além disso, estudos em animais mostram que a estimulação elétrica do córtex pré-frontal pode reduzir a sensação de incômodo, que ocorre quando os nervos sensitivos do Sistema Nervoso Central e/ou Periférico são danificados. Esses resultados sugerem que o córtex pré-frontal pode ser um alvo potencial para o desenvolvimento de novas terapias para o tratamento da dor crônica.
Devido à relevância da pesquisa, a pesquisadora Josie Resende Torres da Silva, docente do Programa de Pós-Graduação em Biociências Aplicadas à Saúde, recebeu o Prêmio de Melhor Pesquisadora na categoria de neurociência, na premiação internacional “International Research Awards on Computer Aided Design in Mechanical Engineering”. O artigo “Infralimbic medial prefrontal cortex alters electroacupuncture effect in animals with neuropathic chronic pain” foi publicado na revista Behavioral Brain Research em 2022.
“O resultado da pesquisa é um passo importante no avanço do conhecimento na área de neurociência e no desenvolvimento de novas terapias para o tratamento da dor neuropática crônica. O prêmio Best Researcher Award, concedido a pesquisadores em todo o mundo por suas contribuições significativas na área de tecnologias mediadas por computador em engenharia mecânica, é um reconhecimento merecido de suas realizações na área de pesquisa e um incentivo para continuar avançando na fronteira do conhecimento em neurociência. Trata-se de um dos prêmios mais prestigiados na área de engenharia mecânica”, concluiu.
A pesquisa conta com a autoria dos pesquisadores Laís Leite Ferreira, Laura Pereira Generoso, Ana Carolina Medeiros, Priscila de Medeiros, Renato Leonardo de Freitas e Marcelo Lourenço da Silva.
Saiba mais
O Laboratório de Neurociências e Neuromodulação da Dor (LANNED) é um centro de referência em pesquisas relacionadas ao controle da dor e tem se destacado pela produção científica de qualidade, pelo desenvolvimento de novas técnicas para o tratamento de dor crônica, pela formação de novos pesquisadores e pela melhoria da qualidade de vida de pacientes.
Sob a responsabilidade dos professores Marcelo Lourenço da Silva e Josie Resende Torres da Silva, o Laboratório é utilizado para estudo de modelos animais de transtornos do sistema nervoso central e periférico em ratos e camundongos. Ali, são desenvolvidas pesquisas que procuram analisar os mecanismos da dor crônica, assim como terapêuticas farmacológicas e não-farmacológicas para a neuromodulação da dor e suas comorbidades.
“Os estudos translacionais fornecem conhecimento fundamental não apenas no desenvolvimento do conhecimento da área básica experimental, mas também contribuem significativamente para a prática clínica”, relatam os pesquisadores responsáveis.
Os pesquisadores trabalham com modelo de pressão, modelo de temperatura e modelo de estresse e ansiedade, pelos quais investigam a resposta sensorial e simulam processos inflamatórios para testar intervenções não farmacológicas como laser, eletroacupuntura, eletroterapia e outros recursos da fototerapia.
“Por exemplo, quando estamos estudando extrato, uma planta que ninguém sabe o efeito, colocamos também um estudo comportamental, para ver se além de ter um efeito contra a dor, também tem um efeito contra o estresse, a ansiedade e a depressão”, detalha o professor Marcelo Silva.