Estudo desenvolvido por pesquisador da UNIFAL-MG demonstra como transtornos mentais podem estar associados à imagem corporal e à alimentação

Realizada em parceria com a UNESP, pesquisa indica que as mulheres são mais propensas a desenvolver transtornos

Um estudo sobre transtornos mentais associados à imagem corporal e à alimentação foi desenvolvido em parceria entre a UNIFAL-MG e a Universidade Estadual Paulista (UNESP). A pesquisa, produzida como parte do pós-doutorado do pesquisador Wanderson Roberto da Silva, professor visitante na Faculdade de Nutrição e vinculado ao Programa de pós-graduação em Nutrição e Longevidade (PPGNL) da Universidade, foi publicada na revista internacional Environmental Research and Public Health. No dia 04/05, alguns dos resultados obtidos a partir do trabalho foram reportados em importantes canais de mídia nacional, como o jornal “O Globo”, o portal “CNN Brasil”, a revista “Veja” e a “Folha de São Paulo”.

De acordo com o docente, o estudo, amparado nos dados de dois questionários respondidos por 1.795 voluntários, indica que os transtornos mentais associados à imagem corporal e à alimentação afetam, principalmente, as mulheres, a população mais jovem, os consumidores de suplementos fitness ou de substâncias farmacológicas a fim de mudar a imagem corporal, os adeptos de dietas restritivas, os sedentários e as pessoas com diagnóstico de obesidade ou sobrepeso que fazem uma avaliação ruim da própria alimentação. Conhecer o perfil dos indivíduos mais vulneráveis, conforme reitera Prof. Wanderson da Silva, é essencial para que sejam subsidiadas estratégias preventivas e de promoção à saúde.

O pesquisador Wanderson Roberto da Silva é professor visitante na Faculdade de Nutrição e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Longevidade (PPGNL) da UNIFAL-MG. (Foto: Arquivo Pessoal).

A coleta de dados, segundo o professor, ocorreu durante os anos de 2018 e 2019 no laboratório de nutrição comportamental da UNESP de Araraquara durante a realização de seu segundo pós-doutorado. “Os voluntários foram selecionados com base em critérios pré-estabelecidos, sendo estes: ter idade entre 18 e 40 anos, ser brasileiro nato e residir no Brasil, não estar em tratamento para qualquer transtorno alimentar ou doença severa (como câncer, por exemplo), não estar em período de gravidez ou puerpério e conseguir responder os questionários de maneira autônoma”, explicou. “O estudo foi divulgado em diferentes meios de comunicação, como o Facebook e o Instagram. Os interessados procuravam os pesquisadores e agendavam horários para ir até a instituição e preencher os questionários. Alguns voluntários também realizaram teste de bioimpedância para avaliação da composição corporal”, continuou.

A partir dos resultados obtidos com a aplicação dos questionários, a pesquisa constatou que, dos 1.795 indivíduos, quanto mais as pessoas davam atenção à forma corporal, maiores eram as expectativas de avaliação física negativa e menor o conforto com a apresentação física. As expectativas negativas, por sua vez, correlacionaram-se positivamente com a gordura corporal e negativamente com a massa muscular. 

Conforme Prof. Wanderson da Silva,  os transtornos relacionados à imagem corporal e à alimentação ainda são bastante negligenciados quando comparados com outras doenças, como obesidade, diabetes, hipertensão e dislipidemias, entretanto, podem causar sérios problemas. “Eles estão fortemente associados a afetividades negativas, como ansiedade, estresse e depressão, que estão entre os principais desafios em saúde do século XXI”, salientou o pesquisador. 

Ainda sobre os resultados, dentre os indivíduos que se sentiam mais confortáveis com seus corpos, destacaram-se os homens mais velhos, sem sobrepeso ou obesidade, que não faziam uso de substâncias farmacológicas para modificar a forma corporal, não realizavam dietas restritivas, praticavam atividade física e faziam uma autoavaliação positiva da própria alimentação. 

Quando questionado sobre o atual panorama dos transtornos alimentares no Brasil, o Prof. Wanderson Silva afirmou que, devido à complexidade do assunto, a pergunta pode ser respondida sob diferentes perspectivas. “Enquanto pesquisador, percebo que o Brasil avançou substancialmente nos últimos 15 anos no que se refere à compreensão dos transtornos alimentares e suas consequências, de modo que, atualmente, possuímos evidências profícuas para subsidiar a elaboração de ações. Isso se deve ao trabalho de colegas pesquisadores que desenvolvem estudos de qualidade publicando resultados advindos de contextos epidemiológicos e intervenções clínicas”, explicou.

Como nutricionista clínico, por sua vez, o professor acredita na necessidade de avançar em ações, pois nem todos os profissionais estão preparados para lidar com casos de transtornos de imagem corporal e alimentação desordenada. De acordo com o ele, a Associação Brasileira de Transtornos Alimentares tem se dedicado a levar informação de fácil acesso para a população, o que se caracteriza como uma importante medida para lidar com a problemática.

Sobre a Parceria

Em 2021, o pesquisador Wanderson Roberto da Silva foi contratado como professor visitante na UNIFAL-MG. Na ocasião, como não havia publicado todos os resultados de seu pós-doutorado e continuava a trabalhar com os dados, convidou um docente e uma discente do PPGNL da Universidade para a elaboração de um novo artigo. O artigo, entretanto, faz parte de um projeto de maior escala, que contou com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) entre os anos de 2018 e 2021.

Título do artigo publicado na revista internacional Environmental Research and Public Health. (Foto: reprodução/MDPI).

Conforme informado pelo docente, o projeto foi desenvolvido por uma equipe diversa, composta por pesquisadores da UNIFAL-MG, da UNESP e do ISPA, Instituto Universitário de Portugal. Além dele, participaram da pesquisa o professor Eric Batista Ferreira, orientador do PPGNL da UNIFAL-MG, o pesquisador João Marôco, do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas Sociais da Vida, de Portugal, a professora Juliana Alvares Duarte Bonini Campos, da UNESP, e as egressas Patrícia Angélica Teixeira, mestre pelo curso de pós-graduação em Alimentos e Nutrição da UNESP, e Micaela Aparecida Teodoro, mestre pelo PPGNL da UNIFAL-MG. 

Sobre a continuidade da pesquisa, o Prof. Wanderson demonstrou boas expectativas e garantiu o prosseguimento dos estudos.  “Nesse momento, há pesquisas em andamento sob minha coordenação com outros docentes da UNIFAL-MG e pretendemos expandir ainda mais a rede de colaboradores com pesquisadores do exterior”, ressaltou.

O artigo completo pode ser acessado pelo link: https://www.mdpi.com/1660-4601/19/22/14802

*Luana Bellini é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG