Chá de composto de plantas e de esterco bovino contribui para o crescimento do milho em meio à seca e à presença de metais no solo

Pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UNIFAL-MG mostra o efeito bioestimulante da compostagem

O milho é uma das culturas mais importantes do agronegócio mundial. Como matéria-prima para uma série de produtos, o cereal é considerado uma cultura estratégica para a base da agricultura brasileira, levando o Brasil a ocupar o posto de 3º maior produtor do mundo. Dada à importância do alimento para o país, o dia 24 de maio foi instituído como o Dia Nacional do Milho, como forma de estimular a cultura deste cereal, visto que o setor ainda precisa superar alguns obstáculos como clima, pragas e doenças, que impedem a sua maior produtividade. É nesse contexto que se inserem algumas pesquisas desenvolvidas na UNIFAL-MG.

Preparo das leiras de compostagem feito pela doutoranda Kamilla Govêa, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais. (Foto: Arquivo/Projeto de Pesquisa)

Entre aquelas realizadas por acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (PPGCA) ganha destaque um estudo que investiga os efeitos do chá de composto de plantas e chá de composto de esterco bovino no crescimento inicial de milho e na tolerância à seca, e à presença de chumbo e de alumínio.

Conforme Thiago Corrêa de Souza, professor do Instituto de Ciências da Natureza (ICN) e orientador da pesquisa, a compostagem é uma técnica capaz de promover o tratamento de resíduos sólidos orgânicos e produzir compostos fertilizantes ao final do processo, os quais são capazes de alterar positivamente as características físicas, químicas e microbiológicas do solo. “Tal capacidade é extremamente desejável para o setor agrícola, e no intuito de facilitar o manejo e aplicação, mais recentemente vêm ganhando espaço os estudos com extratos aquosos de composto, chamados de ‘chás”, explica.

O pesquisador também esclarece que o chá de composto é definido como um extrato aquoso obtido pela mistura de composto e água por períodos definidos de tempo, durante o qual pode haver aeração ou não, e adição ou não de aditivos que aumentam a densidade populacional microbiana durante a produção. “Estes chás têm sido relatados como bioestimulantes e/ou biofertilizantes de plantas, melhorando as respostas no crescimento inicial e na tolerância a seca e metais pesados”, conta.

“Influência do chá de compostagem no crescimento de plantas de milho sob seca e metais pesados” é o tema da pesquisa de doutorado da discente Kamilla Pacheco Govêa, desenvolvida sob a orientação do professor Thiago Souza e coorientação de Kamila Resende Dázio de Souza, pós-doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais.

Em fase de finalização e com expectativa de defesa ainda para esse ano de 2023, o projeto conta também com a participação de cinco estudantes de iniciação científica dos cursos de Biotecnologia e Ciências Biológicas e apresenta resultados promissores: ambos os chás de composto testados agem sobre o milho como bioestimulantes, estimulando o crescimento das plantas e a arquitetura radicular. “Os chás também melhoram a resposta das plantas frente à seca e presença dos metais pesados chumbo e alumínio. Além disso, o chá de composto de esterco bovino apresenta destaque e melhores resultados, com maior efeito bioestimulante nas plantas de milho”, revela o professor Thiago Souza.

Esses resultados, de acordo com os pesquisadores, podem gerar um impacto positivo na produção de milho no Brasil, uma vez que os chás de composto têm inúmeras vantagens. “Os chás são uma alternativa barata em relação aos bioestimulantes comerciais”, diz o orientador do projeto. “São produzidos a partir do composto oriundo da técnica de compostagem e, portanto, representam uma possibilidade de economia circular, uma vez que são produzidos a partir da reciclagem de resíduos biológicos e levam à valorização desses resíduos”, detalha.


Além desses fatores, a técnica aplicada para os chás é simples, e segundo o professor Thiago Souza, é facilmente reproduzível e de baixo custo para os produtores de milho. Os chás também podem ser utilizados para produção de alimentos orgânicos, o que reduz o impacto ambiental da agricultura. “Os chás reduzem o estresse ambiental ocasionado pela seca e, portanto, podem auxiliar a aumentar a fronteira agrícola de milho no Brasil, principalmente em relação às alterações ambientais provocadas pelas mudanças climáticas, aumentando a produção de milho em locais onde está espécie possa ter baixo rendimento devido à seca”, acrescenta o pesquisador.

Integrantes da equipe PPGCA que estão dando sequência aos trabalhos com milho – da esquerda para a direita: Danielle de Oliveira (doutoranda), Daniele Marques (pós-doutoranda), Prof. Thiago Corrêa de Souza (orientador), Prof. Plínio Rodrigues dos Santos Filho (orientador), Thaysa Fernanda Silva Ruiz Martins (mestranda) e Ana Clara Cruz da Silva (mestranda). (Foto: Arquivo/PPGCA)

O professor ainda destaca o impacto positivo para a agricultura no que diz respeito a solos contaminados. “É um grande desafio produzir em solos contaminados com metais pesados, assim, o uso dos chás torna-se uma alternativa ecologicamente viável com efeitos positivos na amenização de solos contaminados por metais”, enfatiza.

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Biotecnologia Ambiental & Genotoxicidade (BIOGEN), que faz parte do Instituto de Ciências da Natureza, em parceria com o Laboratório de Bioquímica, que integra o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB). As análises tiveram o suporte de outros laboratórios parceiros dentro da UNIFAL-MG.

Vale destacar que o projeto e outros que derivaram desse da pesquisa com chá de compostagem contam com o suporte das agências de fomento como CNPq e FAPEMIG. As pesquisas com o milho para uma produtividade mais sustentável e economicamente mais viável dispõem de uma equipe engajada, da qual fazem parte também: o professor Plínio Rodrigues dos Santos Filho (Instituto de Ciências Biomédicas), a pós-doutoranda Daniele Maria Marques, a doutoranda Danielle de Oliveira, as mestrandas Ana Clara Cruz da Silva e Thaysa Fernanda Silva Ruiz Martins.

(Infográfico criado com base em dados dos pesquisadores e da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab)