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“É preciso que cada vez mais homens ajam efetivamente no combate a formas de violências contra mulheres”, afirma pesquisadora da UNIFAL-MG sobre fim da violência contra as mulheres

Para marcar o Dia da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, representantes do GENI, GEMA e NAM compartilham percepções sobre o tema

No dia 6 de dezembro, recorda-se a tragédia que aconteceu em 1989 no Canadá, quando um homem de 25 anos assassinou 14 mulheres numa sala de aula após pedir que os demais homens presentes se retirassem. O assassino se suicidou em seguida e deixou uma carta dizendo que justificava o seu ato por não aceitar que mulheres frequentassem um curso para homens, se referindo à Engenharia. Após o “Massacre da Escola Politécnica de Montreal“, a data ficou marcada pelo Dia da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

Segundo levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou 722 feminicídios entre janeiro e junho deste ano. Em comparação com o primeiro semestre de 2022, este número cresceu em 2,6%. Em Minas Gerais, houve um aumento de 11% dos casos, que foram de 82 para 91, contribuindo negativamente no quantitativo nacional de feminicídios da região Sudeste.

Ações da UNIFAL-MG se consolidam na defesa das mulheres e na busca pela igualdade de gênero. É o caso do trabalho do Grupo de Estudos sobre Estado, Mulheres e Políticas Públicas (GENI), do Grupo de Enfrentamento e Mobilização contra o Assédio (GEMA) e do Núcleo de Atenção à Mulher (NAM). A fim de marcar o Dia da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência, docentes representantes dessas iniciativas dedicadas à causa compartilham como percebem e incentivam o engajamento masculino nesse movimento.

Fernanda Mitsue Soares Onuma integra o grupo de pesquisa GENI. (Foto: arquivo pessoal)

Para a docente Fernanda Mitsue Soares Onuma, pesquisadora integrante do grupo GENI, a mobilização de homens pelo fim da violência contra mulheres é de suma importância, dado que o maior número de agressores de mulheres em nossa sociedade atual são do gênero masculino, sendo parceiros íntimos e outras pessoas próximas das vítimas.

Segundo ela, os esforços para o fim da violência contra mulheres perpassa a ação de homens em prol da prevenção e combate a formas de violências contra mulheres. “Vale lembrar que casos extremos como os de feminicídios iniciam com ofensas, humilhações, assédio moral, violências psicológicas e outras formas de agressão que costumam ser vistas como de ‘baixo teor ofensivo’. Numa sociedade estruturada de forma a naturalizar machismos, cada pessoa (mulheres, inclusive) pode estar perpetuando violências contra mulheres ainda que não o perceba”, afirmou.

Além disso, a professora mencionou que o fato dos homens ocuparem posições elevadas na sociedade, em geral, a desigualdade social é legitimada na tentativa de orientar ou corrigir uma ação violenta contra as mulheres.

“É preciso que cada vez mais homens, portanto, ajam efetivamente no combate a formas de violências contra mulheres, atuando como verdadeiros aliados tanto na autocrítica e revisão de posturas machistas quando alguém assim os alerta, mas também agindo efetivamente quando testemunham atos agressivos contra mulheres em seus espaços de convívio social. Que rompam com atitudes condescendentes diante de violências contra mulheres realizadas por seus pares, mas que também estejam dispostos a escutar, aprender e mudar atitudes e comportamentos machistas corriqueiros”, finalizou Fernanda Onuma.

Renata Piacentini Rodriguez é coordenadora do GEMA. (Foto: arquivo pessoal)

Em relação ao envolvimento dos homens nas iniciativas pelo fim da violência contra mulheres, a coordenadora do GEMA, professora Renata Piacentini Rodriguez, salientou que aspirar uma sociedade fundamentada na diversidade é contar com a participação de todos, principalmente, dos homens.

“A violência contra mulheres, predominantemente perpetrada por homens, frequentemente ocorre no âmbito das relações conjugais. Essa desconstrução não se limita apenas aos aspectos civil e criminal, mas envolve uma transformação cultural que demanda a participação ativa dos homens. A reconstrução desse cenário exige iniciativas que remodelarão as gerações presentes e forjarão futuras, fundamentadas na justiça, diversidade e no amplo papel de cada indivíduo na sociedade”, enfatizou a docente.

Para ela, as estratégias que buscam o engajamento dos homens de maneira significativa no processo devem estabelecer uma conexão efetiva, permitindo que os homens se sintam parte da mudança e estejam envolvidos com a causa, possibilitando que os homens desempenhem um papel protagonista e movimentos significativos na sociedade.

“Quanto às novas gerações, é imperativo que a discussão sobre diversidade, igualdade e equidade comece nos primeiros anos escolares. Os meninos devem vivenciar essas experiências desde a infância, proporcionando-lhes um ambiente em que cresçam livremente, desprovidos de crenças, costumes e atitudes que perpetuam a desigualdade entre os gêneros”, destacou a coordenadora do GEMA.

Marta Gouveia de Oliveira Rovai é coordenadora do Núcleo de Atenção à Mulher (NAM). (Foto: arquivo pessoal)

Na visão da professora Marta Gouveia de Oliveira Rovai, coordenadora do NAM, a questão da violência contra as feminilidades e as mulheridades não é um problema e uma luta que deve se restringir a elas. “É preciso que os homens também exercitem a reflexão sobre como uma masculinidade que se fez hegemônica durante tantos séculos – viril, arrogante e violenta – contribui para produzir opressões e mortes de mulheres”, salienta.

Segundo ela, é necessário realizar um letramento feminista. “Precisa ouvir as mulheres, deixar-se afetar por suas histórias e perceber que não se trata da luta de mulheres contra homens, mas masculinidade e feminilidades contra a desigualdade e a violência de gênero. Os homens precisam aprender, desnaturalizar suas atitudes e se engajar na sua própria desconstrução”, afirmou.

Os grupos e o núcleo de apoio da UNIFAL-MG, junto aos demais núcleos vinculados ao Departamento de Direitos Humanos e Inclusão da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários e Estudantis (Prace), buscam promover medidas para combater a discriminação a pessoas da comunidade acadêmica em situação de vulnerabilidade. Tais iniciativas também promovem o respeito à diferença, a igualdade de oportunidades e a equidade.

Saiba mais:

Grupo de Estudos sobre Estado, Mulheres e Políticas Públicas (GENI)

Grupo de Enfrentamento e Mobilização contra o Assédio (GEMA)

Núcleo de Atenção à Mulher (NAM)