Contribuir para a tomada de decisões de gestores públicos do município de Alfenas em relação ao enfrentamento à Covid-19 para as populações mais carentes é o objetivo de um trabalho de mapeamento, recém-desenvolvido pela UNIFAL-MG. Elaborados por André da Silva Bellini, egresso do curso de Geografia (Licenciatura) da Universidade e integrante de grupos de pesquisa em Geodinâmica e Geoprocessamento, os mapas apontam uma visão geral da distribuição da população vulnerável da cidade, de modo a permitir que os gestores possam focalizar as políticas de ação social de modo mais direcionado.
O mapeamento foi proposto tendo como ponto de partida o interesse do próprio geógrafo sobre o que poderia ser feito para a população de Alfenas a respeito dos efeitos da pandemia da Covid-19. “Todo o trabalho foi pensado como uma pessoa do grupo de risco, que utiliza de todos os aparelhos disponíveis em uma cidade urbana, como por exemplo, Sistema de Saúde (SUS), sistema de transporte, sistemas bancários e comerciais, e ainda, uma pessoa pertencente ao grupo de risco, com 60 anos e com diabetes, que é o meu caso”, narra André, que hoje é também discente do curso de Geografia (Bacharelado).
A metodologia para construção cartográfica utilizada para o mapeamento foi a da interpolação por densidade de Kernel, a qual gera os “pontos de calor” muito utilizados para dados de população e também para mapeamentos epidemiológicos. André elaborou o mapa, a partir de dados do Cadastro Único e do Bolsa Família, considerando a vulnerabilidade de população de faixa etária igual ou maior que 60 anos e que recebe Benefício de Prestação Continuada (BPC), um dos recursos mais significativos para idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade social. “Foram geocodificados 1.200 endereços, preservando os dados como o sigilo postal, constando apenas a espacialização das idades”, conta.
O geógrafo realizou também seis recortes no mapa principal, a fim de distribuir a densidade populacional entre os bairros do município. “Os recortes apresentam densidades elevadas e mais extensas. Em determinados bairros, temos uma densidade muito forte, em menor espaço. Este fenômeno está diretamente relacionado ao número de beneficiários em um mesmo ponto e a distância entre eles”, detalha.
Para André, os resultados obtidos pelo mapa de população vulnerável de faixa etária igual ou superior a 60 anos para beneficiários do Bolsa Família, chama mais atenção e causa uma preocupação maior, por mostrar maior distância desta população dos principais centros de referência em saúde e dos diversos serviços como bancos, farmácias, lojas, supermercados e conveniências.
“De que forma esta população tem acesso a estes serviços? É uma questão que deve ser pensada com cuidado”, diz, acrescentando: “Suponhamos que parte desta população utilize os transportes públicos, e ainda que esta utilize o transporte de forma gratuita, pois se é cadastrado tem direito, a distância de bairros periféricos aos serviços de saúde, principalmente, pode ter uma variação de mais ou menos 7 km do extremo norte a 4,5 km da região oeste. O tempo dentro do transporte público pode ser excessivo dependendo da linha, da distância e quantidade de bairros atendidos, aumentando o risco de contágio por Covid-19”, alerta.
Com o apoio do professor Rodrigo José Pisani, coordenador do curso de Geografia (Bacharelado), André apresentou os mapas aos gestores do município, em reunião realizada no dia 29/05, na Secretaria Municipal de Ação Social. Estiveram presentes na oportunidade, o secretário de Ação Social, Antônio Veríssimo “PC”; a médica de saúde da família, Letícia Lara Martins; o professor Rodrigo e funcionários da Secretaria.
Ao comentar a contribuição dos mapas para a administração municipal, Prof. Rodrigo destaca que o mapeamento pode servir como valiosa ferramenta de apoio para as políticas de ação social desenvolvidas pelo município, uma vez que possibilita direcioná-las. “Os mapas permitem que os gestores públicos possam focalizar as políticas de ação social de modo mais direcionado, como a logística na distribuição de cestas básicas, reforço das campanhas de conscientização do isolamento social com os carros de som, postos móveis de vacinação, acompanhamento médico como a saúde da família com foco na população idosa, além de outras campanhas e atenções nesses locais, do ponto de vista da saúde, como cuidados com a diabetes, pressão alta, exames de sangue, saúde mental, entre outras políticas”, afirma.
André comenta a experiência, falando de seu papel como geógrafo, de apresentar uma ferramenta que auxiliasse na tomada de decisões, contribuição que, para ele, foi de fundamental relevância pessoal e profissional. “Foi extremamente importante e gratificante poder contribuir com o conhecimento adquirido durante o tempo de formação acadêmica no curso de Geografia (Licenciatura), e agora Bacharelado (em curso), pela Universidade Federal de Alfenas, na construção deste estudo cartográfico e social”, afirma. “Tenho que mencionar a importância também do professor Rodrigo nesta construção cartográfica, apresentando a proposta e lançando o desafio, da mesma forma que utilizamos já algum tempo na Universidade com o grupo de estudo em Qgis. E, por fim, agradeço ao prefeito Luizinho, ao PC (Antônio Veríssimo) e à Rosângela, coordenadora do Bolsa Família, pela disposição em enviar os dados necessários para o mapeamento”, finaliza.
A contribuição da ferramenta do ponto de vista dos gestores
O prefeito de Alfenas, Luizinho, ressaltou o entusiasmo que sente em pode contar com o envolvimento da UNIFAL-MG na formulação das políticas públicas do município, a exemplo da elaboração dos mapas de densidade de população vulnerável. “O último trabalho da UNIFAL-MG de mapeamento social em nossa cidade vai ajudar extraordinariamente o nosso trabalho nesse momento de pandemia, pois há poucos recursos e é necessário que esses recursos sejam aplicados com mais eficiência”, diz. “Conhecer, saber onde estão as pessoas mais carentes, mais vulneráveis de nossa cidade, é fundamental para que a gente aplique o recurso cirurgicamente onde ele é mais necessário. Muito obrigado à UNIFAL-MG e a todos que colaboram e contribuem para o desenvolvimento social da nossa cidade e do nosso país”, enfatizou.
Conforme o secretário de Ação Social, Antônio Veríssimo, os mapas apresentados pela Universidade mostram a importância da aproximação da prefeitura com a UNIFAL-MG. “Dados municipais utilizados de maneira adequada, se transformam em ricas formas de perceber as populações de nosso município e assim desenvolver as melhores estratégias possíveis para acolhê-las. Um trabalho magnífico que demonstra a grandiosidade e a qualidade dos profissionais formados por esta instituição de ensino superior”, comentou.
A médica Letícia Lara Martins, coordenadora da Sala de Situação do Comitê de Monitoramento do Coronavirus de Alfenas também vê com bons olhos a ferramenta disponibilizada pela UNIFAL-MG. “Eu, como médica de família, avalio a territorialização como uma ferramenta imprescindível para poder se fazer leitura da demanda da população e para que os gestores façam um planejamento de ações que sejam adequadas à demanda dessa territorialização”, comenta.
Segundo a médica, os dados gerados no mapa vão ser úteis, principalmente, para a Assistência Social, visto que é possível determinar as principais áreas da cidade que têm os idosos vulneráveis e pensar em ações naquelas regiões. “Acredito que a posteriori, quando a gente passar um pouco dessa pandemia, e conseguir voltar a pensar em outras coisas, também é muito importante para gestão municipal pensar em ações de prevenção, de cuidado e de apoio a essa população idosa vulnerável”, afirma, mencionando que o atual mapeamento abre várias possibilidades de outras avaliações territoriais, que possam gerar benefícios para a saúde populacional.