Com o objetivo de recolher depoimentos escritos sobre o período de pandemia, o Laboratório de História Pública, vinculado ao curso de História, vem desenvolvendo a escrita coletiva de um Diário Virtual, com relatos de pessoas de todo país, especialmente da comunidade acadêmica e da região do sul de Minas Gerais. O diário e o formulário para envio de depoimentos estão disponíveis na página do Repositório de Material Didático para o Ensino de História (REMADIH).
A iniciativa, coordenada pelas professoras Lívia Monteiro e Marta Rovai, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL/UNIFAL-MG), surgiu após a interrupção das aulas presenciais, a partir de questionamentos da discente Evelyn Soares, que também integra a equipe de coordenação. Segundo elas, os sentimentos gerados pelo cenário da doença impulsionaram promoção de alguma ação que pudesse manter contatos virtuais entre os estudantes do curso de História. “Inicialmente, os relatos se davam entre os grupos de Whatsapp, com muitos sentimentos em comum sobre o que vivíamos entre os meses de março e abril de 2020. Após reuniões e conversas, decidimos elaborar um formulário e organizar um pequeno acervo com relatos escritos, pois imaginávamos que, pela escrita coletiva e compartilhada, a comunidade pudesse se manter conectada, de alguma forma”, disse a equipe à Diretoria de Comunicação Social.
Para surpresa das coordenadoras, quando o formulário foi lançado, o engajamento foi maior do que se imaginava: discentes de outros cursos, professores e professoras da rede básica e moradores de Alfenas e região enviaram relatos impactantes. “Diante das respostas, resolvemos criar um diário virtual para publicar essas breves narrativas, na página do REMADIH, e construir o projeto de extensão vinculado ao Laboratório de História Pública da UNIFAL-MG”, comentaram. O formulário reúne perguntas sobre possíveis lembranças da pandemia, mudanças de hábitos e de relações, entre outras.
Embora o projeto de extensão seja recente, a equipe relata ser possível registrar alguns dados, como a maioria dos relatos recebidos pertencer a mulheres professoras, profissionais da saúde e estudantes que fazem questão de deixar registradas suas angústias e emoções. Entre as experiências, destacam-se o medo, a solidão e a insegurança. “As narrativas podem ser pensadas, assim, a partir de considerações de gênero e da dinâmica educacional, aspectos a serem analisados com maior cuidado posteriormente”, salientaram as coordenadoras.
Segundo a equipe, a ideia é elaborar uma segunda fase do projeto, com entrevistas presenciais, a fim de analisar as percepções dos entrevistados. “Pelas entrevistas presenciais, marcadas por maior contato, pretendemos perceber a construção de uma memória coletiva sobre a pandemia, na vida de diferentes indivíduos e grupos, a partir de seus lugares sociais e identitários, levando em conta, também, as representações e os impactos sociais”, finalizaram.
É válido lembrar que os formulários passam por análise da curadoria. Caso o colaborador permita, nome e dados, como profissão, local de residência, cor/raça, gênero, idade e escolaridade, também são divulgados.
A importância do projeto durante e após a pandemia
Os relatos analisados servirão de apoio para que os docentes ou profissionais da Instituição e da comunidade alfenense compreendam as percepções da população perante a pandemia de Covid-19. Trata-se, também, de um projeto de extensão com dados qualitativos, voltado à história pública, a qual busca formas de compartilhamento de experiências que permaneceriam restritas ao silenciamento do privado, impedindo a compreensão da dinâmica social e simbólica ocasionada pelo período de distanciamento.
O projeto está inscrito no programa da International Federation for Public History.
*Milena Favalli Simão é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG