Impactos psicológicos da pandemia: uma abordagem sobre as dificuldades do modelo de ensino remoto aos alunos do curso de pós-graduação em Economia da UNIFAL-MG

Sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O presente artigo tem por propósito abordar os impactos psicológicos trazidos pela COVID – 19 e sua relação com as dificuldades de adaptação ao modelo de ensino remoto utilizado em meio a pandemia. Este artigo se caracteriza como de opinião construído a partir dos relatos dos alunos do curso de Pós- Graduação em Economia da Universidade Federal de Alfenas – UNIFAL – MG, turma 2020, a qual integro.

É importante colocar quais os reflexos que a COVID – 19 vem causando não apenas à saúde daqueles acometidos pela doença, mas quanto a população de modo geral, afetando social, econômico e psicologicamente, e no mundo acadêmico em especial às questões educacionais, ensino-aprendizagem, produção e rendimento do aluno.2 Antes os alunos tinham um ambiente de ensino e seus lares, agora moramos onde estudamos e isso gera vínculos nem sempre tão positivos como o esperado, sendo inevitável a separação da vida pessoal com a acadêmica discente, trazendo uma exaustão psicológica e um sentimento muitas vezes frustrante que impede o desenvolvimento do aluno.

Quando aceitamos o desafio de dar continuidade aos nossos estudos ingressando em curso de Pós-Graduação, sabíamos que seria difícil, mas estávamos preparados para uma realidade bem diferente da atual, com aulas presenciais em um espaço adequado.

Logo, com a pandemia a sala de aula se transformou em um ambiente limitado totalmente dependente da tecnologia, restringindo as relações sociais que seriam culminantes ao processo de aprendizagem. Como defende Piaget (1973)5 e Vygotsky (1988)6 as relações de interação (ambiente e social) são essenciais à construção do conhecimento, os diálogos/debates coletivos ajudam no desenvolvimento da educação aguçando o pensamento crítico e contribuindo para aprendizagem.

Agora o “novo normal” vem nos maltratando, é unanime a dificuldade em lidar com a realidade de ensino remoto, não apenas pelo modelo de ensino a distância, mas pela situação de pandemia que atinge diretamente nosso psicológico, desviando nosso foco, sono, concentração, entre outras questões essenciais para desenvolvimento intelectual e humano. O coronavírus está afetando a saúde mental de muitas pessoas,

principalmente profissionais de saúde. Dados recentes apontam aumento na angústia, ansiedade e depressão.”4

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019):

Os determinantes da saúde mental e dos transtornos mentais incluem não apenas atributos individuais, como a capacidade de gerenciar os próprios pensamentos, emoções, comportamentos e interações com outras pessoas, mas também fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e ambientais, como políticas nacionais, proteção social, padrões de vida, condições de trabalho e apoio comunitário.3

É difícil se dedicar aos estudos quando estamos desestruturados com perda de entes queridos, dificuldade financeira (perda de emprego de familiares), auto cobrança por respostas do que esperávamos como membros de um curso de mestrado, a preocupação em saber da situação de dificuldade pessoal de cada colega da turma, e muitas vezes se sentir impotente em não ter a capacidade ou a possibilidade de ajudar e acima de tudo a incerteza sobre o nosso futuro acadêmico, dificultando ainda mais a nossa situação.

Entendemos que ideia do ensino remoto é fomentar a educação em períodos emergenciais e de crise, mas deve-se ter um olhar atento flexivo e compreensivo para o público alvo desse modelo de ensino de forma mais humana aproximando professores e alunos, e assim ajudando a minimizar os impactos negativos.

A verdade é que essa modelo de ensino tenta nos proteger de um possível contágio pela COVID-19 mas acaba não nos protegendo de nós mesmos, de toda a prisão e pressão psicológica, e de lutas diárias para se manter resistente à abalos e ainda continuar produzindo mesmo que minimante.

Partindo do pressuposto da teoria da autodeterminação1 o indivíduo para crescer deve estar em um estado de bem-estar estimulado pela motivação intrínseca que tem como ponto principal o apoio social. “O apoio psicossocial nas comunidades é muito importante para o aconselhamento nesses momentos […]”.4 Assim como o potencial apoio do poder público, das organizações e instituições de ensino, prestando uma assistência adequada para que assim possamos enfrentar esse período de desafios traçando os caminhos mais promissores para uma boa sanidade mental, assim como para o bom desenvolvimento da educação.

REFERÊNCIAS

1 DECI, Edward L.; RYAN, Richard M. Intrinsic Motivation and Self-Determination in Human Behavior. New York: Plenum, 1985.

2 Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI). Efeito da crise do COVID-19 na educação. Disponível em:< https://oei.org.br/arquivos/informe-covid-19d.pdf>. Acesso em: 21 de out. de 2020.

3 Organização Mundial da Saúde. Problemas Mentais. Disponível em:

<https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/mental-disorders>. Acesso em: 21 de out. de 2020.

4 Organização Pan-americana da Saúde (OPAS). Pandemia do COVID-19 aumenta fatores de risco para suicídio. Disponível em:< https://www.paho.org/pt/noticias/10-9- 2020-pandemia-covid-19-aumenta-fatores-risco-para-suicidio>. Acesso em: 21 de out. de 2020.

5 PIAGET, Jean. Estudos Sociológicos. Rio de Janeiro: Forense, 1973.

6 VYGOTSKY, L. A Formação Social da Mente: O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

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Autoria: Mirian Raquel do Nascimento Fernandes
(Mestranda em Economia)
Instituto de Ciências Sociais Aplicadas