Pesquisadores da UNIFAL-MG monitoram, semanalmente, a evolução da Covid-19 no Brasil; projeto científico ajuda a compreender indicadores da pandemia

A pandemia não chegou ao fim. Pelo contrário, tem-se registrado, cada vez mais, tanto no Brasil quanto em Minas Gerais, a evolução da doença causada pelo vírus Sars-CoV-2. Pensando nisso, com o objetivo de verificar o perfil epidemiológico e possíveis correlações entre parâmetros de saúde e a evolução da doença nacional e regionalmente, pesquisadores da UNIFAL-MG estão desenvolvendo o projeto de Iniciação Científica “Indicadores Covid-19”, a fim de monitorar, por meio de boletins semanais, o número de casos confirmados, recuperados, internados e óbitos.

Sob coordenação do epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNIFAL-MG, Sinézio Inácio da Silva Júnior, e com a participação das pesquisadoras Ana Carolina Carvalho da Silva, acadêmica do curso de Farmácia, e Ana Clara Figueredo Dias, do curso de Biomedicina, o projeto busca verificar, durante um  ano, no Brasil, nas unidades da federação e em Minas Gerais – por macrorregião de saúde e municípios da macrorregião sul -, o perfil expresso por incidência, mortalidade, letalidade, coeficiente de incidência acumulada, coeficiente de prevalência e de mortalidade padronizados e não padronizados, agregados e desagregados conforme idade, sexo biológico, raça/etnia, local de residência, meses e semanas da situação epidêmica.

Em relação aos dados da média móvel, os boletins seguem a sistemática proposta pela Fiocruz, que considera o período de 7 dias comparado com a média móvel de 14 dias anteriores, conforme explicação do Prof. Sinézio Inácio. (Foto: Arquivo pessoal/Prof. Sinézio Inácio da Silva Júnior)

“A pesquisa também considera indicadores de saúde que podem ser – e estão sendo – afetados pela pandemia, como internações, procedimentos hospitalares cirúrgicos e clínicos, tempo médio de internação e taxa de mortalidade hospitalar, além de dados sobre SRAG (síndrome respiratória aguda grave)”, explicou o professor Sinézio Inácio à Dicom.

Segundo o docente, as fontes utilizadas pelo projeto são o Ministério da Saúde, de acordo com o Painel Coronavírus e o DATASUS (Departamento de Informática do SUS), e a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais. “Em relação ao DATASUS, nossa consulta é semanal. Já com relação aos números da pandemia, a consulta é diária: toda segunda-feira, os dados são consolidados para tabulação da pesquisa e publicação de boletim informativo do projeto. Também consideramos a média semanal do crescimento da média móvel: valores entre +15% e -15% são considerados como tendências de estabilidade com viés de crescimento, quando positivos, ou de decréscimo, quando negativos”, disse.

O embrião do projeto teve início quando os pesquisadores passaram, em março de 2020, a coletar informações sobre a pandemia de Covid-19, mas, oficialmente, a pesquisa começou em dezembro. Até o momento, os boletins estão sendo encaminhados aos alunos da disciplina de Fundamentos de Epidemiologia, à Dicom e ao jornal EPTV Sul de Minas. “Além disso, pretendemos criar um veículo para divulgar o conteúdo por meio das redes sociais. As pesquisadoras estão trabalhando nisso”, salientou o epidemiologista.

Para elas, inclusive, desenvolver o projeto de Iniciação Científica sobre a Covid-19 tem sido uma oportunidade gratificante. De acordo com Ana Carolina Carvalho da Silva, discente do curso de Farmácia, a pesquisa é necessária não só para adquirir conhecimento, mas também para acompanhar os dados rotineiramente, em busca de uma maior gestão da pandemia. “As informações coletadas possibilitam um processo de controle das doenças estudadas e seus respectivos vetores, fazendo com que surjam meios para resolução das problemáticas de uma forma rápida”, disse a acadêmica.

Em concordância com a colega, a universitária Ana Clara Figueredo Dias, do curso de Biomedicina, também reforçou a importância de informações em relação ao comportamento da doença no Brasil e em Minas Gerais. “Tenho aprendido muito sobre a epidemiologia da Covid-19 e sobre o comportamento desta. Em meio aos dados coletados e estudados, podemos, realmente, observar o impacto que a Covid-19 tem feito na sociedade”, contou a discente.

Além da preocupação em gerar conhecimento para o melhor gerenciamento atual e futuro de situações epidêmicas, o projeto possui o compromisso de oferecer informação técnica, de qualidade científica, para o grande público. “De imediato, talvez, o mais importante seja mostrarmos o quanto a universidade pública pode estar sintonizada a demandas imediatas da população”, finalizou o Prof. Sinézio Inácio.

Saiba mais:

Boletim Epidemiológico n° 01 – Interiorização da pandemia e sincronização da curva epidêmica

Segundo o primeiro boletim epidemiológico, nenhum município brasileiro está sem caso de Covid-19. A transmissão comunitária ou sustentada praticamente dominou todo o território nacional, fazendo com que as barreiras sanitárias sejam menos efetivas. Os estados, as macro e microrregiões de saúde e os próprios municípios passaram a não ter mais uma defasagem no tempo epidêmico: a curva da média móvel de 7 dias está praticamente no mesmo estágio, agora, na maioria dos lugares – em ascensão e batendo (ou se aproximando de bater) recordes alcançados anteriormente, especialmente após os feriados de final de ano, sobre os quais o professor e coordenador do projeto de pesquisa “Indicadores de Covid-19”, Sinézio Inácio da Silva Júnior, conversou com a Dicom.

“O impacto esperado após as festas de Natal e Ano Novo é extremamente preocupante, porque se observa, a partir dos feriados que tivemos em 2020, que, num período de 10 dias, o número de casos aumenta em até 6 vezes. Espera-se que a média móvel de casos, por exemplo, vá crescer no meio do mês (dia 15 de janeiro) mais do que 30% em relação ao dia 1°/01. O número de casos já vem aumentando, mas é a partir do meio de janeiro que poderemos observar a crescente maior de internações e mortes”, disse o docente. Segundo ele, pelo fato de os municípios passarem a atingir a mesma dinâmica de aumento de casos, pode haver maior demanda concentrada, ao mesmo tempo, por atendimento médico. “Isso não só ameaça o sistema de socorro às vítimas de covid-19, como também traz prejuízo às demandas por atendimento que já são normais por outras causas”, completou.

Para conferir as informações completas do Boletim n° 1, bem como os gráficos e a tabela sobre o crescimento da média móvel de casos no Brasil e no sul de Minas Gerais, clique aqui.

Boletim Epidemiológico n° 02 – Mutação do vírus

O segundo boletim epidemiológico fala sobre a estrutura dos coronavírus, caracterizados como vírus RNA que têm menos capacidade de corrigir erros de reprodução genética. Embora sejam mais mutáveis, esses vírus, normalmente, evoluem para provocar sintomas menos graves e/ou para se tornar mais transmissíveis, de modo a ganhar, assim, vantagem competitiva.

De acordo com o estudo, as alterações genômicas que não alteram substancialmente o fenótipo, ou seja, a “cara” do vírus, como a cepa mutante B.1.1.7, não seriam suficientes para que as vacinas e o sistema imunológico deixassem de proteger o organismo. A pior mutação ocorreria a partir de mudança genômica, com mudança da “forma” e o surgimento de um novo vírus, assim como aconteceu com o SARSCoV, que produziu o SARS-CoV-2. Esse exemplo, no entanto, acontece quando mais de uma espécie hospedeira está envolvida.

“Considerando esse aspecto, é bom salientar, portanto, que as vacinas, nas suas diferentes plataformas (vírus neutralizado, vetor viral, subunidade proteica e uso de RNA mensageiro encapsulado), são seguras e fundamentais para o controle da pandemia. Elas têm apresentado eficácias em torno de 60% a 90% e, dependendo da eficácia do tipo de vacina adotado, mais ou menos pessoas terão que ser vacinadas para a proteção coletiva”, disse o Prof. Sinézio.

Segundo ele, deve-se estimar a vacinação de pelo menos 150 milhões de pessoas para se chegar a uma situação mais segura. “Até a vacinação em massa ser feita, é preciso continuarmos e avançarmos com as medidas de prevenção já conhecidas, especialmente o uso correto de máscaras corretas. Mesmo durante e após a vacinação, não poderemos baixar muito a guarda. A Covid-19 é uma virose que veio para ficar, como a gripe. Ela não será erradicada como a varíola, por exemplo”, completou.

Assim como salienta o Prof. Sinézio Inácio, a vacinação está chegando, e o próprio desenho do SUS como política universalista para todos, por todo o tempo, é a chave do sucesso. É necessário, somente, manter e seguir as medidas de controle contra a doença.

Para conferir as informações completas do Boletim n° 02, clique aqui. 

Boletim n° 03 – Situação epidêmica da Covid-19 no Sul de Minas Gerais

A reescalada de casos de Covid-19 no Sul de Minas Gerais é o principal tema do terceiro boletim do projeto “Indicadores de Covid-19”. Segundo o estudo, a pandemia demorou cinco meses e meio para atingir o patamar de 340 casos em média móvel, mas, a partir de dezembro, esse estágio foi superado em 26 vezes.

Em 2020, o recorde de novos registros em um único dia, no sul do estado, ocorreu em 31/12, atingindo o número de 871 casos. Em 2021, os números se superaram: foram registrados 2.703 novos casos em um dia (06/01). Diferente do comportamento da média móvel de casos, o estudo observou que os maiores valores da média móvel de mortes não foram superados no mês de dezembro, fato que pode ser reflexo, além de um aumento no aprendizado e competência no tratamento dos doentes, de momentos com menor ocupação de leitos e predomínio do perfil etário de pessoas mais jovens.

Para conferir as informações completas do Boletim n° 03, clique aqui. 

Boletim n° 04 – Situação epidêmica da Covid-19 no sul de Minas Gerais 

A tendência explosiva de crescimento em número de casos e de mortes no sul de Minas Gerais, registrados até o dia 11 de janeiro, é retratada no Boletim n° 04 do projeto “Indicadores de Covid-19”. Segundo os dados analisados, o fenômeno da sincronização de curvas epidêmicas, já observado desde início de novembro, tem levado o sistema hospitalar à sobrecarga e à ameaça de colapso, a qual ocorre quando há incapacidade de atender, em tempo oportuno, a demanda hospitalar de urgência e emergência.

Em relação ao número de casos e óbitos por município, o estudo observou que, coerente e proporcionalmente, os locais com maior número de casos e óbitos são aqueles com maior população, com exceção do município de Extrema. “É importante ressaltar, ainda, que o melhor indicador para avaliar o impacto da epidemia nas diferentes cidades é o percentual da população já atingida, além da letalidade”, disseram os pesquisadores.

Para conferir as informações completas do Boletim n° 04, clique aqui.

*Milena Favalli Simão é estagiária da Diretoria de Comunicação Social da UNIFAL-MG