Pesquisas desenvolvidas por membros da comunidade acadêmica da UNIFAL-MG investigaram as temáticas de autocompaixão e atenção plena relacionadas a pacientes em cuidados paliativos. O primeiro estudo se concentrou na revisão integrativa sistemática sobre evidências da autocompaixão como um recurso importante para o bem-estar social, psicossocial e espiritual de pacientes e profissionais da saúde que, inevitavelmente, estão expostos ao sofrimento. A segunda pesquisa explorou a possível associação entre autocompaixão e atenção plena para a qualidade de vida em pacientes submetidos à quimioterapia antineoplásica. Ambos os artigos foram publicados em periódicos internacionais em fevereiro de 2021.
“Self-compassion In Hospice and Palliative Care: A Systematic Integrative Review”, publicado no Journal of Hospice & Palliative Nursing, foi fruto do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Brenda Domingues Silva, discente do curso de graduação em Enfermagem, e Letícia Cristine Oliveira da Silva, recém-egressa do curso de Enfermagem, sob orientação da professora Ana Cláudia Mesquita Garcia, da Escola de Enfermagem da UNIFAL-MG, com participação do professor Jason Mills, da University of Sunshine Coast (Austrália). O objetivo do artigo foi revisar as evidências empíricas sobre a autocompaixão em cuidados paliativos, uma vez que o tema não havia sido estudado de forma sistemática, conforme explicou a professora Ana Cláudia Mesquita.
“A partir do estudo, especificamente, pudemos perceber que, para os pacientes, a autocompaixão foi associada à redução de estresse, ansiedade, vergonha, sintomas depressivos, medo da recorrência do câncer e solidão. Para os profissionais da saúde, a autocompaixão foi associada ao aumento da capacidade de autocuidado, atenção plena e diminuição da percepção do risco de burnout e do estresse traumático secundário”, contou a docente à Dicom.
Segundo ela, no entanto, não foram encontrados dados envolvendo os parentes dos pacientes. “Pesquisas futuras devem inclui-los. Aliás, como deve se salientar, mindfulness e autocompaixão são temáticas ainda pouco exploradas e conhecidas no ocidente; no entanto, há evidências dos benefícios destas práticas para a saúde física e saúde mental. Elas podem nos ajudar com nossas experiências. Podem nos ajudar a passar de uma maneira mais tranquila pelas dificuldades que fazem parte da experiência de ser humano”, completou.
Para a egressa Letícia Cristine Oliveira, uma das participantes da pesquisa, o desenvolvimento do trabalho trouxe benefícios tanto acadêmicos quanto profissionais e pessoais. “O ganho acadêmico foi aprender sobre o tipo de estudo e como produzi-lo; os ganhos profissionais e pessoais foram em relação à temática. Acredito que me aprofundar no assunto irá melhorar o meu atendimento ao paciente”, disse. Segundo a discente Brenda Domingues, pesquisar sobre autocompaixão em um contexto de fragilidade do ser humano proporcionou uma visão diferente acerca do que são os cuidados paliativos. “Foi uma experiência muito leve e, com certeza, essencial. Só tenho a agradecer às minhas companheiras de pesquisa”, completou.
O segundo artigo, intitulado “Quality of life, self-compassion and mindfulness in cancer patients undergoing chemotherapy: A cross-sectional study” e publicado no periódico European Journal of Oncology Nursing, foi desenvolvido por João Batista Camargos Junior, egresso do curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF), Karina Katherine Sarto e Camila Alessandra da Silva, recém-egressas do curso de graduação em Enfermagem, Eliza Mara das Chagas Paiva, discente do curso de mestrado em Enfermagem, e Denismar Alves Nogueira, docente do Instituto de Ciências Exatas da UNIFAL-MG, também sob coordenação da professora Ana Cláudia Mesquita e participação do docente Jason Mills.
Com o objetivo de compreender a relação entre autocompaixão e atenção plena em relação ao bem-estar de pacientes com câncer, os pesquisadores investigaram se essas variáveis estão positivamente associadas ao tratamento oncológico. “Foi possível perceber que os participantes com níveis mais elevados de autocompaixão e atenção relataram melhor qualidade de vida. Por isso, a pesquisa sugere promessas e abre caminho para futuras investigações”, salientou a professora Ana Cláudia Mesquita.
Karina Sarto e Camila Silva, autoras do artigo, também destacaram a importância do estudo para futuras especializações e pesquisas. “Aprendi muito ao longo da coleta de dados, por meio dos depoimentos dos entrevistados. Estou imensamente orgulhosa do resultado de nosso empenho”, disse Karina Sarto.
Para Camila Silva, ter a oportunidade de entrevistar pessoas com câncer ainda na graduação foi um processo importante, assim como se aproximar da complexidade do tratamento oncológico. “Mais relevante ainda, cabe destacar que os resultados encontrados indicaram uma relação positiva entre as variáveis mindfulness e autocompaixão e a qualidade de vida de pessoas em tratamento quimioterápico. A divulgação dos dados encontrados favorece que outros estudos sejam desenvolvidos”, salientou.
“O autocuidado pode auxiliar os pacientes a passarem pela experiência de uma maneira menos dolorosa. Esperamos que o conhecimento que produzimos e que compartilhamos por meio dos artigos possa colaborar para a melhor qualidade de vida das pessoas envolvidas em cuidados paliativos, um contexto que normalmente envolve os desafios relacionados ao enfrentamento da doença e à finitude da vida”, finalizou a professora Ana Cláudia Mesquita.
Saiba mais: autocompaixão e mindfulness
Mindfulness é um campo que se preocupa com o ato de se dedicar ao momento presente, de forma proposital, aberta, gentil, sem julgamentos. “Trata-se de prestar atenção no que está acontecendo com você, tanto no ambiente ao seu redor quanto no seu interior, no aqui e agora”, explicou a professora Ana Cláudia Mesquita. A autocompaixão, por outro lado, se refere ao tratamento pessoal de forma gentil e amorosa, principalmente nos momentos de dificuldades.
De acordo com a docente, a autocompaixão envolve três construtos: bondade consigo mesmo, senso de humanidade compartilhada e mindfulness. Ambos podem auxiliar no alívio do sofrimento, que é o foco dos cuidados paliativos, uma abordagem que visa atenuar o sofrimento de pessoas acometidas por sofrimentos em relação à saúde, bem como melhorar a qualidade de vida dos familiares e dos cuidadores profissionais”, disse.
Em relação ao momento pandêmico no qual se encontra o mundo, a professora Ana Cláudia Mesquita também destacou a importância da autocompaixão para combater situações de estresse. “Acabamos, muitas vezes, sendo demasiadamente críticos e severos conosco. Não admitimos erros ou equívocos, e, quando isso acontece, somos o nosso pior juiz. A autocompaixão vai na contramão disso, possibilitando o entendimento de que, como qualquer ser humano, todos temos nossas qualidades e defeitos, e está tudo bem, pois isso faz parte da experiência de ser humano”, finalizou a professora.
Acesse os artigos: “Self-compassion In Hospice and Palliative Care: A Systematic Integrative Review” e “Quality of life, self-compassion and mindfulness in cancer patients undergoing chemotherapy: A cross-sectional study”